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A CONQUISTA DA AMÉRICA: A DESCOBERTA QUE O EU FAZ DO OUTRO

Por:   •  14/11/2017  •  Ensaio  •  1.838 Palavras (8 Páginas)  •  339 Visualizações

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A CONQUISTA DA AMÉRICA: A DESCOBERTA QUE O EU FAZ DO OUTRO

Lucas Fábio de Gois Parente Araujo[1]

INTRODUÇÃO

        A conquista da América ocorre em um período de muitas mudanças e efervescência na Europa. Uma nobreza, centrada na figura do rei, que tentava centralizar o poder e impor subordinação de seus súditos. Para tal, alia-se a esta burguesia por meio de privilégios consentidos (FERNANDA BICALHO, 2003). Consequentemente, no âmbito político, temos a gradual formação dos Estados Nacionais.

        As navegações, junto com os diversos avanços da ciência, são o motor do nascimento deste “Novo Mundo”. Não de forma homogênea, a antiga sociedade feudal dava espaço para a formação de uma burguesia ávida por lucros e que não encontrava em seus territórios pátrios satisfação à sua desmedida ambição, sedenta por novas rotas comerciais e metais preciosos. Uma igreja reestruturada pelas reformas protestantes e contra-reforma católica, porém ainda com grande influência social.

Época do “Renascimento”, a relação do homem com o mundo, para o Europeu, passa por uma redefinição. E essa nova forma de ver o mundo influência diretamente na forma de como os europeus, no papel de “colonizadores”, interage com os nativos dos locais a serem explorados. Entender as várias formas de linguagem, de leitura do mundo e qual a percepção que os espanhóis têm dos índios (TZEVAN TODOROV, 1982, p.6), ou seja, a relação de alteridade é essencial para se entender como se efetivou a conquista da mesoamérica e se deu a expansão da América Espanhola. Os personagens centrais desta análise são Colombo, Cortez, Montezuma, Malinche, Las Casas e Álvar Núñez Cabeza de Vaca.

A identidade inicia-se pela negação. É sabendo o que eu não sou que eu acabo por formar a minha identidade. O encontro cultural observado entre Colombo e os ameríndios, segundo Todorov, “o encontro mais surpreendente de nossa história” e que “[...] a conquista da América que anuncia e funda nossa identidade presente”. Nós, Ocidentais, principalmente americanos, somos produto de todo esse choque cultural entre europeus e ameríndios, das relações de linguagem, poder e dominação estabelecidas a partir desse encontro.

DESENVOLVIMENTO

Colombo, antes de tudo, representa a transição entre o medieval e o moderno. Ele foi um homem que trouxe consigo a mistura de uma profunda religiosidade e devoção a Deus e à Igreja Católica Apostólica Romana, ao mesmo tempo em que se opunha a ela ao questionar uma série de dogmas acerca da ciência. Além de apresentar uma devoção muito grande aos Reis da Espanha, os divinizando.

A maioria das motivações de Colombo para a ousada expedição às Índias via oeste eram religiosas. Colombo acreditava ser um enviado especial de Deus para a evangelização de povos não-cristãos. Mais do que isso, Colombo queria partir em cruzada e liberar Jerusalém (TODOROV, 1982). E, por isso, a busca por ouro e prata não excluía os fatores religiosos do processo, completando-se, na verdade.

Quando Colombo chegou à atual América, houve um grande choque entre duas culturas, “Logo apareceu gente nua” (COLOMBO, 1492). Ele não os reconhecia como humanos, tinha a percepção de que os índios faziam parte da natureza, em seus relatos, descrevia-os junto com elementos da fauna e flora, “No interior das terras, há muitas minas de metais e inúmeros habitantes” (“Carta a Senegal”, 1493). “Até então, ia cada vez melhor, naquilo que tinha descoberto, pelas terras como pelas florestas, plantas, frutos e gentes” (COLOMBO, 1492).

O fato de Colombo ver os nativos como parte integrante da natureza, permite que ele estabeleça uma dominação sobre eles, pois em sua lógica o divino domina o homem e o homem está acima da natureza, podendo usufruir em favor de seus interesses. Assim, Colombo não respeitava a cultura nativa, pois ali ele não via cultura,pois a maneira de como ele lia o mundo era sempre partindo do mesmo referencial, o espanhol.

Colombo tratava a língua espanhola como padrão, procurando sempre estabelecer uma comparação entre as palavras indígenas e o significado em espanhol. A sua leitura de mundo e de simbologias era limitada e errônea, consequentemente por não reconhecer o diferente. Quando se comunicava, Colombo entendia o que ele gostaria de entender (wishful thinking). A não aceitação de uma língua diferente reafirma a sensação de superioridade que ele tinha para com os índios.

Colombo, no início de sua exploração, associava o indígena ao mito do “bom selvagem”, pois eles se admiravam por todas as bobagens que os espanhóis os davam, como um pedaço de vidro ou uma moeda, trocando até pedaços de ouro. Entretanto, Colombo não entende que os valores são convenções e o ouro não é mais valioso em si, mas somente no sistema de troca europeu (TODOROV, 1982).

Cristóvão Colombo também tinha a intenção de converter sob o pretexto de aumentar o número de devotos e de súditos aos Reis. A simpatia de Colombo para com os nativos no início é uma prova de que “o desejo de fazer com que os índios adotem os costumes dos espanhóis nunca vem adotado de justificativas; afinal é algo lógico” (TODOROV, 1982), ou seja, a dimensão de querer que o outro seja igual a você.

Cortez, o segundo personagem do texto, bem diferente de Colombo: ele parte para a franca conquista do continente em busca de metais preciosos. Cortez ao chegar na Cidade do México, fica impressionado com a beleza e o avanço tecnológico, em comparação as cidades espanholas. Entretanto, ele não dá o braço a torcer. Muito esperto, sempre fala da Espanha como se lá fosse superior. Cortez cria uma imagem de si próprio. Tudo para confundir o imperador asteca da época, Montezuma.

Montezuma, o Tlatoani, era o Imperador Asteca quando Cortez desembarcou no continente. Sua função era interpretar as mensagens e os escritos divinos dos deuses e transmiti-los a nação. Considerado líder máximo e a representação da Terra mais próxima dos Deuses.

A principal diferença entre Cortez e Montezuma é sem dúvida a maneira de como ambos interpretam os símbolos e de como espanhóis e astecas se relacionam com o tempo. Astecas interpretam o mundo através de mensagens (TODOROV, 1982) e acreditam que todas as previsões do futuro se realizam e que nada pode as impedir (Chilam Balam, 22). Montezuma e seus semelhantes não separam o que é humano e o que é divino, e a “falta de respostas dos deuses” é um vetor para a perda na guerra: os astecas demoraram a responder contra a conquista espanhola. Cortez reconhece os índios como homens e reconhece essa diferença de leitura do outro. Ele consegue manipular a linguagem do outro e burlar as tentativas do Tlatoani de espionagem. Cortez domina a comunicação inter-humana e usa isso para dominar a comunicação homem-mundo dos índios, recorrendo “a muitos estratagemas para dissimular suas verdades, fontes de informação, para fazer crer que suas informações não provêm do intercâmbio com os homens, e sim do intercâmbio com o sobrenatural” (TODOROV, 1982), ou seja, ele domina os índios também no plano psicológico.

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