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A noção mais comum de mito e mitologia

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Por:   •  8/6/2014  •  Artigo  •  1.490 Palavras (6 Páginas)  •  312 Visualizações

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Dentre as várias tentativas de conceituar o mito, utilizo aqui uma concepção ampla baseada em C.G. Jung e em sua teoria dos arquétipos, entendidos como manifestações de um inconsciente coletivo, “isto é, os traços tornados hereditários, das primeiras experiências existenciais do homem perante a natureza, perante os outros homens e perante si próprio” (JABOUILLE, 1986, p. 95-6). Segundo Jung, os arquétipos não têm formas pré-definidas e acabadas, são virtualidades que podem se materializar de formas diferentes em diferentes épocas, culturas ou grupos sociais, na forma de mitos. Assim, mesmo pertencendo a culturas tão diferentes quanto a brasileira e a japonesa, esse substrato psicológico pode ser intuitivamente compreendido quando aparece em formas artísticas de expressão, entre elas a história em quadrinhos ou, como é conhecida no Japão, manga (ou mangá, em português). Conforme Jabouille, “mesmo racionalizado, a leitura do mito apela para o sensível, para aquilo que é perceptível intuitiva e inconscientemente. Daí, talvez, a popularidade do mito, a dimensão e a facilidade de sua implantação, o seu dinamismo e perenidade” (1986, p. 116). O que o habilita tão bem, para ser empregado em manifestações artísticas e em mídia de massa, é o seu apelo à intuição e a arquétipos universais, que prescindem da racionalização para atingir o público e passar a mensagem. Mas como isso acontece em mangás?

Segundo as informações apresentadas no livro de Sonia Bibe Luyten, Mangá – o poder dos quadrinhos japoneses, os japoneses sempre tiveram tradição em histórias ilustradas, inclusive pelo caráter pictográfico de sua escrita. Hoje em dia, os autores japoneses têm o monopólio do mercado, sofrendo pouca concorrência do exterior. Ao contrário das revistas brasileiras, os mangás são monocromáticos, impressos em papel jornal extremamente barato, com um volume de 150 a 600 páginas por exemplar e custam tanto como uma passagem de ônibus ou metrô, o que os transforma numa diversão barata e de imensa penetração na sociedade em geral. Existem mangás para todas as audiências: para crianças, jovens e adultos, homens e mulheres, didáticos, eróticos etc. Os quadrinhistas japoneses mais conhecidos gozam do status de artistas de TV. No que se refere aos personagens, os autores buscam uma grande identificação com o leitor, de modo que este possa participar da ação e da atmosfera das histórias.

Assim como em todas as outras formas de manifestação artística, os mangás freqüentemente recorrem aos mitos para codificar sua mensagem, recriando-os, quando necessário, para atingir o homem moderno. Apresento a seguir exemplos da presença de dois tipos de mitos em mangás: os mitos que podemos denominar de “teológicos” (que relatam os feitos de deuses e heróis) e os “escatológicos” (que se ocupam do futuro, da vida após a morte e do fim do mundo) (JABOUILLE, 1986, p. 47-8).

Provavelmente a noção mais difundida de mito e de mitologia é aquela de um grupo hierarquizado de deuses, semi-deuses, heróis, demônios e criaturas sobre-humanas, com as narrativas de seus feitos e eventuais relações com os seres humanos, como na mitologia grega, egípcia, nórdica, indiana, etc. No Japão antigo, a religião original xintoísta era politeísta e animista, ou seja, havia vários deuses superiores e espíritos para as forças da natureza, bem como demônios e outros seres maléficos. Com relação à vida após a morte, havia a crença na imortalidade da alma e no seu julgamento, que levava ao inferno ou a um lugar paradisíaco até o momento da reencarnação. Todo esse substrato de lendas e mitos permanece no imaginário japonês e é largamente utilizado em mangás. Podemos aqui traçar um paralelo com a cultura indígena brasileira, sendo que a revista em quadrinhos Turma do Pererê apresentava personagens da mitologia dos índios brasileiros, como a Iara e a Caipora. Do mesmo modo, figuras do imaginário japonês são utilizadas como personagens de mangás, como nas histórias sobre youkai, seres sobrenaturais nem sempre benignos, as quais constituem um gênero em si. Esse tipo de mangá geralmente enfoca menos os feitos dos youkai em si, mas sim as suas relações, amistosas ou não, com os seres humanos.

Tais histórias podem se passar em um tempo mítico no passado, quando humanos, demônios, espíritos e youkai conviviam cotidianamente, como em Yotoden, Inuyasha e Youkaiyourentan. Nesta última, temos diversas histórias de encontros de humanos com youkai: na primeira história, por exemplo, vemos como um youkai da água, que havia sido capturado por humanos gananciosos que pretendiam usá-lo para obter lucro, fazendo chover em épocas de seca, é libertado por uma jovem ladra e, encantado com sua delicadeza, resolve casar-se com ela, salvando-a de vários perigos. Nos demais episódios, encontramos outros exemplos de youkai que se apaixonam por seres humanos ou que os usam como joguetes em seus planos.

No entanto, não é necessário que a ação se passe em um tempo mítico para que os personagens lendários japoneses possam interagir com os humanos. Em Yu Yu Hakusho, um jovem encrenqueiro da Tóquio moderna é morto ao salvar uma criança de um atropelamento. Quando sua alma vai ser julgada, recebe do senhor dos infernos a proposta de voltar à vida e se tornar um Detetive Espiritual, caçando demônios e seres sobrenaturais renegados. Em suas aventuras, o rapaz encontra um grande número desses seres, muitos dos quais fazem parte do imaginário tradicional japonês.

Ainda com base na mitologia ligada à religião, há referências constantes à existência de espíritos e demônios e à reencarnação, como em Sakura Card Captor, onde Toya vê o espírito de sua mãe e a reencarnação do Mago Clow volta ao Japão para terminar seu trabalho com as cartas, ou em Dragonball Z, onde, antes de matar o demônio Maijin

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