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Asno de Ouro: escravidão romana

Por:   •  6/7/2019  •  Artigo  •  2.679 Palavras (11 Páginas)  •  135 Visualizações

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Após compreender o contexto da época, a vida do autor e o gênero literário em questão, é posível desenvolver a problemática sobre a escravidão no Império Romano, tendo Asno de Ouro como objeto de estudo.

Desde a chegada de Lúcio a cidade de Tessália até sua transformação e sua trajetória como burro, serão analisados os escravos que habitam o cenário do livro. Assim, vai ser possível encontrar as diferenças entre o modo de vida e trabalho dos escravos e seu relacionamento com seus senhores. Para isso, vai ser feito uma análise dos escravos secundários mencionados na obra, mas principalmente, vai se dar destaque ao protagonista Lucio, mostrando seu trabalho no campo e as trocas entre diversos donos.

A historiografia normalmente trata a escravidão como algo praticamente universal, presente na maior parte das sociedades. A imagem que se tem da escravidão é baseada na experiência colonial nas Américas . O escravo seria uma propriedade de outro indivíduo e o senhor teria total controle sobre seu trabalho e corpo. Os escravos então eram retirados de seu local de origem, diversas locais da África, e eram vendidos nas colônias.

Na escravidão moderna, o africano era escravo por causa do seu tom de pele. A justificaria era baseada na ideia de que a população negra tinha sido amaldiçoada para servirem na condição de servidão .

Já os romanos tinham uma visão diferente sobre os africanos e a escravidão. Primeiramente, eles só conheciam a parte centro-meridional da África (que seria: a Líbia, o Egito e a Etiópia), a parte subsaariana não era conhecida. Os negros eram admirados pelo sua beleza e pelo porte físico, não havia algum tipo de preconceito pelo tom de pele; eles exerciam até cargos importantes no exército, como também podiam ser escritores, peadagogos e sarcerdote . “Os latinos [..] se pecaram contra os negros, era muito mais por simpatia”(SENGHOR, 2018, p.356). Por isso, a escravidão romana não era baseada na ideia de uma inferioridade pelo tom de pele, diferentemente da escravidão moderna.

Na realidade, os escravos romanos não tinham nenhuma identidade étnica ou racial. Era imprescindivel que os escravos fossem de diversas origens para que impedisse o surgimento de uma identidade em comum. Os escravos eram adquirirods do rebanho servil, abandono de crianças, prisoneiros de guerra e da venda de homens livres. Era um instrumento de dominação, para que os escravos não fossem identificados,e assim, torná-los invisíveis na sociedade .

A escravidão era um fato normal da vida romana, e ser escravo era apenas uma posição específica que o indivíduo tinha dentro da sociedade, não era uma anomalia, mas uma circunstância da vida. Eles tinham um papel chave na cadeia de produção romana, desde a agricultura até o trabalho doméstico. Por isso, ter um escravo era sinônimo de riqueza, pois com a força de seu trabalho era possível a geração de riquezas. Se um senhor tinha váriso escravos, significava que ele tinha capacidade e o poder de ter várias pessoas trabalhando para ele e lhe enriquecendo, nas lojas e nos campo .Além disso, os escravos deviam assegurar o funcionamento do lar, eles também faziam parte da decoração da casa, que a reviviam com sua beleza e seu número, enfim, tudo isso afirmava o poder e a riqueza do senhor.

Em Asno de ouro, é possível ver esta ideia em dois personagens, o primeiro é o hospedeiro de Lucio, chamado Milão, um senhor rico, mas que não ostenta sua riqueza, se vestindo como mendigo e tendo apenas uma única escrava doméstica. Ele é completamente o oposto do que se espera de um cidadão daquela posição alta na sociedade romana:

“É lá que mora o teu Milão, um homem que possui haveres em abudÂncia, mas desacreditado por sua extrema avareza e sua sórdida baixeza. Com efeito, ele pratica a usura proveitosamente, tomando como penhores o ouro e a prata. Confinado numa salinha, ali vive pela paixão que o consome. Tem, não obstante uma esposa, companheira de sua calamitosa existÊncia. Ele não sustenta senão uma pequena escrava, e sai sempre vestido como um mendigo.” (XXI, p.29)

O segundo personagem é uma amiga de família, considerada uma mãe por Lucio, chamada Birrena, uma nobre que desfila pela cidade com seu grupo de escravos e da fartos banquentes em sua linda mansão; sendo assim, seu número de escravos representa seu status:

“Ali encontrei um grande número de convidados,e, como seria de epserar em casa de tão grande senhora, a flor da cidade [...] Diversos escancções [belos escravos destinados a servir os convidados], encolvivods em mantos esplendidos, apresentavam com habilidade pratos copiosos. Rapazes de cabelo cacheado, ostentando belas túnicas, ofereciam continuamnete vinho velho em taças feitas cada uma de uma gema.” (XIX,p. 42-43)

O escravo romano era um ser naturalmente inferior, praticamente um familiar, em que o senhor podia criar laços de fedelidade, como também punir quando era necessário impor um dever moral a um escravo para servir com dedicação. Assim como as coisas, o ser humano era visto com um dos bens de propriedade do senhor, por isso, o escravo estava numa posição inferior e o amo tinha total controle sobre ele . “A relação entre escravos e senhor é ao mesmo tempo desigual e inter-humana, portanto, o senhor ‘amará’ seu escravo, pois qual senhor não ama também seu cão, qual patrão não ama seus bons operários?” (VEYNE, 2007, p.58)

“Os romanos estavam tão seguros de sua superioridade que consideravam os escravos crianças grandes, geralmente os chamavam de ‘pequenos, ‘menino’ (pais, puer) mesmo quando eram velhos, e os próprios escravos se tratavam dessa forma dessa entre si.” (VEYNE, 2007, p.63)

Para o autor, Thébot, o escravo também é considerado igual a um animal domestico: “Estes são definidos por um estatuto juridico que, no seu conjunto, os priva da sua personalidade, os transforma em objetos que se podem vender ou comprar, os submente à autoridade do senhor, em suma, os identifica com os animais domésticos”.

No artigo Escravos sem senhores: escravidão, trabalho e poder no Mundo Romano, o autor Noberto Guarinello, cita uma noção defendida por O.Patterson chamada: a noção da trajetória. Os escravos, de diversas sociedades, teriam trajetórias distintas. No caso romano, ele poderia nascer ou ser adquirido, ser destinado a trabalhar no campo, tendo uma rotina severa de trabalho, ou trabalhar na cidade, na casa do seu senhor e podendo ganhar sua confiança. Em síntese, para O.Pereson a escravidão:

“[...] pode ser entendida como um processo de morte simbólica, no qual o escraco perde sua identidade original, sua pessoa, para tornar-se quem seu senhor determinar. Mas não se transforma, nesse processo, numa coisa, a despeito de como o direito tente definir

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