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Breve Análise Da Acomodação Entre A Herança Da Tradição Clássica E A Tradição Judaico-cristã Durante A Idade Média E O Renascimento.

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Por:   •  27/2/2014  •  2.363 Palavras (10 Páginas)  •  485 Visualizações

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Este ensaio tem por objetivo examinar as relações históricas travadas entre a herança da cultura greco-romana ao fundir-se com a herança judaico-cristã no período histórico da Idade média até o Renascimento. Desta forma, tentaremos estabelecer uma discussão entre três autores que versam sobre a literatura do período, procurando encontrar proximidades e contrastes, na tentativa de evoluir na elucidação do tema, o qual seja compreender os motivos pelos quais, no Renascimento, a escolha consciente da elaboração de um próprio passado, acaba por legitimar a separação definitiva entre o campo secular e religioso, embora a própria cultura continue a conviver com esse dualismo cultural.

Nesse sentido, na Idade Média, denominada posteriormente como “idade das trevas”, em que para muitos estudiosos o desenvolvimento racional e cientifico teria cessado, emergiu uma forma de conflito, que se deu, sobretudo entre o universo religioso pagão e o universo religioso cristão medieval, em que este último tentava adaptar os conhecimentos antigos aos seus dogmas.

Dessa forma, o dualismo existente entre religião pagã e religião cristã transferiu-se para o bojo cultural que acompanhava cada expoente, no caso, religião pagã, antiguidade greco-romana e, religião cristã, antiguidade judaico-cristã. A apropriação desse quadro cultural, que fez parte da formação da Idade Média, por envolver diversos valores e crenças pagãs, gerou uma grande tensão no interior do mundo cristão. Este se arrogava o único detentor da verdade em oposição às culturas antigas, nas quais em sua visão predominava os mitos e as fabulas, e, portanto, não possuíam nada de útil que poderia ser utilizado em serviço de Deus. Nessa perspectiva, o estudo dos autores antigos deveria ser proibido.

Entretanto, a Idade Média, acabou recebendo o conjunto cultural da Antiguidade clássica através da herança conservada pela fase final da Antiguidade latina. Todavia, ao mesmo tempo, em que existe uma ligação entre o mundo antigo e o mundo medieval, há também, em decorrência das transformações sofridas no transcorrer do processo de transmissão cultural, uma separação. “A Antiguidade está presente na Idade Media como recepção e transformação” (CURTIUS, 1996, p. 52).

Criou-se uma tensão entre os teólogos cristãos sobre a questão de como se poderia apropriar-se dos conhecimentos que remontam a Antiguidade grega, entre eles as sete artes liberais: a gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, música e astronomia, pois estariam envoltas por mitos e fabulas. Na leitura de Curtius, ocorreu um grande esforço por parte de muitos letrados cristãos em produzir argumentos que justificassem a utilização dos conhecimentos antigos. A apropriação da ciência e da filosofia grega seria justificada, segundo alguns autores cristãos, pela suposição de que os sábios gregos teriam sido discípulos de Moisés, e, portanto, a ciência grega teria sido instituída por Deus. Porém, as opiniões dos padres não eram uniformes, tanto que muitos se mostraram contrários à busca de conhecimento e explicação na literatura profana.

Dentre os letrados que defendiam a apropriação do conhecimento antigo se encontra Jerônimo, que se baseando em uma passagem alegórica da Escritura, forneceu à Idade Média o argumento de que os cristãos deveriam “alijar a ciência pagã do supérfluo e nocivo, para colocá-la a serviço da verdade” (CURTIUS, 1996, p. 76). Agostinho que foi criado dentro do ideal cultural do fim da Antiguidade reconhecia “na Bíblia uma retórica de gênero peculiar” (CURTIUS, 1996, p. 114), Expôs que, enquanto arte da linguagem, “a Bíblia em nada é inferior à literatura pagã” (CURTIUS, 1996, p. 76). Desta maneira, se autorizava o uso dos recursos da retórica no novo mundo espiritual cristão.

Ainda mais importante foi Cassiodoro para a valoração das artes. A seu ver “desde o princípio as artes já existiam em germe na sabedoria divina e na sagrada Escritura. De lá o teriam recebido os mestres das ciências pagãs, reduzindo-a a um sistema próprio de regras” (CURTIUS, 1996, p. 76). Cassiodoro também ressalta que “o Antigo Testamento foi conhecido de todos os povos, e os pagãos puderam assim conhecer toda a arte da eloqüência e reduzi-la a um sistema” (CURTIUS, 1996, p. 77).

O estudo da cultura antiga como valor autônomo era proibido em muitos casos. Dever-se-ia dedicar ao estudo dos clássicos somente enquanto disciplinas formais, já que a Bíblia, como haviam chamado à atenção Jerônimo, Agostinho, Cassiodoro e Isidoro seriam semelhantes do ponto de vista da expressão literária à literatura pagã, escrita numa linguagem artística e elaborada segundo as normas gramaticais. Como fruto do debate entre os teólogos construiu-se, desse modo, a noção de que o conhecimento das artes antigas era fundamental para a compreensão da Bíblia (CURTIUS, 1996, p. 82).

Os conhecimentos antigos, a retórica, a oratória, a matemática e a astronomia, entre outros, eram fundamentais para atender as necessidades oriundas das transformações ocorridas na sociedade medieval. Para conciliar esses conhecimentos aos dogmas cristãos, elaborou-se o argumento de que poderia existir verdade em outras culturas, já que todos os seres humanos haviam recebido a razão de deus, e que somente adoravam deuses falsos, fato que não os impedia de criar verdades. Estabelecida esta premissa, os eruditos cristãos poderiam por meio da interpretação das fábulas e fantasias deduzir uma verdade. Eliminou-se, até certo ponto, a tensão entre o mundo pagão e o mundo cristão.

Partindo da idéia de que, a visão da igreja quanto à literatura antiga pagã não era homogênea, ter-se-á, paralelo à literatura oficial da igreja, a produção de diversas obras de cunho popular que, por sua vez irão retratar a vida social fora dos olhares cristãos, ou mesmo, a tolerância da Igreja para com as manifestações da cultura popular existente.

Tema estudado por Bakhtin, a partir da obra de Rabelais, se pode observar que, até certo ponto, grande parte da herança cultural greco-romana será percebida dentro dessas manifestações que, por sua vez, recebia aceitação da Igreja enquanto manifestação humana, embora muitas vezes a mesma não gostasse.

Tal paralelo elabora o dualismo presente que, nesse sentido apresentava-se sobre toda miscigenação da cultura pagã como representação da tradição latina. Ou seja, o dualismo presente na religião, tornava-se indissociável do aspecto cultural, sendo possível tal distinção, somente ocorrer no Renascimento.

As múltiplas manifestações dessa cultura podem subdividir-se em três grandes categorias: as formas dos ritos e espetáculos (festejos carnavalescos, obras cômicas representadas

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