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Bruxaria Andina

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Por:   •  6/5/2014  •  1.964 Palavras (8 Páginas)  •  283 Visualizações

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Cronistas espanhóis associaram a religião indígena a um culto ao diabo, chamando-os

de idólatras. Conseqüentemente, durante o século XVI começam no Peru as campanhas de extirpação de idolatrias, que tinham por objetivo terminar com toda a espécie de

Idolos e rituais, considerados por eles, heréticos.

As mulheres foram particularmente perseguidas e acusadas de praticarem feitiçaria, pois desempenhavam um papel importante de resistência frente à colonização espanhola, já que eram dogmatizadoras da religião indígena e revitalizadoras de antigas crenças.

A idolatria contradizia o cristianismo, visto que repousava sobre uma adoração de criaturas, enquanto o cristianismo pregava a adoração do Criador, ou seja, Deus.

Para tanto, seguiu-se em terras andinas, os passos da inquisição européia, utilizando a repressão para suprimir, extirpar todo e qualquer vestígio de religião que não fosse a cristã.

A INQUISIÇÃO ESPANHOLA E A BRUXARIA ANDINA: EVANGELIZAÇÃO E RESISTÊNCIA

Ana Raquel M. da C. M. Portugal*

Quando barcos espanhóis singraram as águas do Atlântico, trouxeram em seus porões o demônio, bruxas e os medos peculiares aos homens do medievo europeu. Não havia como ser diferente, suas mentes serviam de depósito a idéias há muito propagadas e oficializadas. Escritores europeus, como os dominicanos Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, detiveram-se no meticuloso e moroso trabalho de elaborar teses, que não deixassem margem a quaisquer dúvidas sobre a existência do mal encarnado na figura do demônio e de suas fiéis seguidoras, as bruxas1. Se não bastasse o medo do desconhecido, do mar, dos monstros marinhos e todo um arsenal mítico apavorante2, os marinheiros que se aventuraram a cruzar o oceano, também carregaram em si, a obrigação de propagar a fé católica e em conseqüência, a repressão que grassava na Europa contra aqueles que conspirassem contra a cristandade.

Ao aportarem em terras americanas, começaram a conquista material e espiritual dos povos que aqui encontraram. Saquearam, mataram e submeteram-nos, visto que, conforme Sepúlveda, era o mais conveniente que poderia acontecer a esses bárbaros, que de homens ímpios e servos do demônio, passariam a ser civilizados, cristãos e

* Doutoranda em História - UFF/RJ.

1 “...é inútil argumentar que todo o efeito das bruxarias é fantástico ou irreal, pois não poderia ser realizado sem que se recorresse aos poderes do diabo; é necessário, para tal, que se faça um pacto com ele, pelo qual a bruxa de fato e verdadeiramente se torna sua serva e a ele se devota - o que não é feito em estado onírico ou ilusório, mas sim concretamente: a bruxa passa a cooperar com o diabo e a ele se une”. KRAMER, Heinrich & SPRENGER, Jakob. Malleus Maleficarum. Rio de Janeiro, Rosa dos Ventos, 1991, questão I, p.57.

2 DELUMEAU, Jean. História do medo no ocidente. São Paulo, Companhia das Letras, 1989, p.50-51.

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cultores da verdadeira fé3. Para que o domínio espanhol fosse estabelecido com sucesso, estes realizaram um julgamento de valor prévio e procuraram conhecer os costumes e a língua dos povos autóctones, visto que a comunicação estava ligada ao poder e a compreensão dos signos do “outro”, propiciaria o domínio completo4.

Cronistas espanhóis detiveram-se no estudo e descrição dos povos andinos, seus costumes, sociedade e religião, que é onde encontramos uma aproximação aos modelos demonológicos propagados na Europa. No contexto americano, a utilização da demonologia tinha por principal objetivo acabar com a Igreja pagã - nos dizeres dos missionários - e é exatamente nas crônicas quinhentistas que os sacerdotes desses povos são transformados em bruxos e feiticeiros, terminologia que permanece até os dias atuais5.

As campanhas de extirpação de idolatrias, levadas a cabo desde a segunda metade do século XVI na região andina, tinham por objetivo terminar com todos os ídolos e rituais indígenas, visto que estes contradiziam o cristianismo, ao adorarem criaturas no lugar do Criador, o Deus cristão6. Houve uma tentativa de cristianizar o imaginário indígena, em que seus deuses foram transformados em demônios7. Seguindo os passos da Inquisição européia, perseguiram-se também aqueles que praticavam malefícios, sendo acusados de bruxaria8. Na Península Ibérica, devido à excessiva preocupação em rastrear e punir delitos dos judaizantes, houve menor repressão à bruxaria9. Pressupomos que este

3 “As justas causas de guerra contra os índios, segundo o Tratado Democrates Alter de Juan Ginés de Sepúlveda - 1547” In SUESS, Paulo (Org.). A conquista espiritual da América espanhola, 200 documentos - Século XVI. Petrópolis, Vozes, 1992.

4 A discussão de alteridade é desenvolvida na obra de TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

5 SOUZA, Laura de Mello e. "O conjunto: a América diabólica" In _____. Inferno Atlântico: demonologia e colonização. Séculos XVI-XVIII. São Paulo, Companhia das Letras, 1993, p.27.

6 DUVIOLS, Pierre. Cultura andina y represion; procesos y hechícerias. Cajatambo, siglo XVII. Cusco, Centro de Estudios Rurales Andinos “Bartolomé de las Casas”, 1986, p. XXVII.

7 GRUZINSKI, Serge. La colonización de lo imaginario. sociedades indígenas y occidentalización en el México español. Siglos XVI-XVIII. México, Fondo de Cultura Económica, 1991. Ao longo da obra, o autor trata este assunto, sendo significativos os cap. IV e V.

8 O início da perseguição européia à bruxaria, deu-se após a bula papal de Inocêncio VIII Summis Desiderantis Affectibus, de 1484. KRAMER, Heinrich & SPRENGER, Jakob. Malleus Maleficarum, p.43-46.

9 CAMPOS, Pedro Marcelo Pasche. Inquisição, magia e sociedade: Belém do Pará, 1763-1769. Dissertação de Mestrado em História, UFF/RJ, 1995, p.47. Ver também

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seja um dos motivos, pelos quais a bruxaria tenha adquirido grande atenção em terras andinas, por parte do corpo eclesiástico, pois na ausência de judeus conversos, restava-lhes perseguir índios idólatras, que facilmente poderiam ser acusados de praticar a feitiçaria. Não abordaremos essa questão, visto ser necessário um maior aprofundamento a respeito da Inquisição na Península Ibérica, o que não é o objetivo deste artigo.

Tahuantinsuyu - o Império dos Incas

Na documentação do século

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