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Caio Prado Jr, Gilberto Freiry, Sergio Buarque De Holanda

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Por:   •  6/11/2013  •  3.816 Palavras (16 Páginas)  •  604 Visualizações

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Dessa situação fazem parte, tanto como reflexo intelectual da situação cultural circundante, como na qualidade de motores de todo o processo, três livros primordiais, todos objetos da presente Atividade, “Casa Grande e Senzala” (1933), de Gilberto Freyre, FREYRE (2011), imediatamente consagrada como primeira obra de peso a defender abertamente a miscigenação como um dado positivo da formação do povo brasileiro – até então as teses “científicas” vigentes atribuíam o atraso nacional à “inferioridade racial” de índios, negros e mestiços; “Raízes do Brasil” (1936), de Sergio Buarque de Holanda, HOLANDA (2010) – que procurava dar uma explicação institucional ao atraso do País, que apresentava como resultado do patrimonialismo português e suas sequelas, como o clientelismo, e “Formação do Brasil Contemporâneo” (1942), de Caio Prado Jr., PRADO JR. (2000) - que apontava o “sentido do colonialismo”, ou seja, o fato de a economia brasileira ter estado baseada, desde a Colônia, na grande propriedade agrícola monocultora e exportadora, como o fator do atraso brasileiro, o que ainda estaria vigorando na era contemporânea..

Em comum às três obras, estava o abandono do racialismo das concepções anteriormente vigentes. Ao mesmo tempo, é notável que elas tenham obedecido a inspirações inteiramente diferentes entre si. Freyre é tributário da antropologia cultural americana – foi seu mestre Franz Boas, nos Estados Unidos, que lhe chamou a atenção para o fato de que a miscigenação no Brasil era um trunfo, principalmente se comparada à rígida separação entre as etnias existente nos Estados Unidos. Holanda é tributário da sociologia alemã do começo do século – foi seu mestre Max Weber, na Alemanha, que chamou sua atenção para o caráter patrimonialista das relações pré-capitalistas; Prado Jr. é tributário da tradição marxista-leninista, na qual se introduziu de modo autodidata, mas depois passou por uma formação ao mesmo tempo mais rigorosa e mais dogmática, ao ter passado um período na União Soviética nos tempos do auge do stalinismo. Entretanto, o apego de Prado Jr. ao que julgava ser ciência e o respeito que tinha pelas fontes primárias o fez repelir a noção soviética de que, à escravidão, havia sucedido no Brasil o “feudalismo”.

As influências da antropologia americana, da sociologia alemã e da economia política marxista assim impregnaram esses primeiros grandes feitos das ciências humanas brasileiras. (Mais tarde seriam de particular importância as influências francesas).

Se formos inserir essas obras no conteúdo até agora da disciplina de Metodologia da História II, notaremos que “Casa Grande e Senzala”, paradoxalmente, se assemelha mais à terceira geração da Escola dos Annales, com seu ecletismo, seu subjetivismo, seu colorido, seu recurso a fontes inusitadas como receitas de doces. Já “Raízes do Brasil” lembra mais a primeira geração dos Annales, particularmente as obras de Marc Bloch, que, por meio de um fio condutor – no caso de Holanda o patrimonialismo português, o caráter personalista das institucionalidades brasileiras – explica uma totalidade cultural, vista em seus diversos aspectos, sociais, econômicos, políticos, etc. E “Formação do Brasil Contemporâneo” participa das grandezas e das limitações de um marxismo que, contrariamente às postulações de seu fundador, evoluiu para um positivismo marxistizante que tudo explica a partir de motivações econômicas. Como bom positivista, Prado Jr. só admitia como fontes documentos oficiais devidamente autenticados, além do que, para ele, as fontes falavam por si, não podiam ser questionadas.

Em suma, essas três grandes obras, que surgiram ao mesmo tempo que emergiam no Brasil o povo, o Estado-Nação e a Nação tal como conhecemos essas realidades nos dias de hoje, foram não só reflexo como motores da progressiva consolidação dessas realidades.

Outra obra de grande valor a historiografia brasileira é o livro Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pelo pesquisador Caio Prado Jr., em 1942. É nesta obra que ele apresenta a continuidade das estruturas coloniais na economia e na sociedade do Brasil presente. Para tal, ele parte da premissa de que a história tem em sua evolução um sentido, ou seja, uma orientação que norteia os rumos da sociedade e da economia.

Por sua vez, Prado procura na origem da colonização o sentido histórico que baliza o presente nacional. Ele segue sua análise enfatizando a história do Brasil como um processo particular, que faz parte do processo geral que é a história do mundo moderno. Assim, ele percebe a colonização dos trópicos como um capítulo da história do comércio europeu, e, conclui que o sentido desta é dado pela empreitada comercial. É após esta conclusão que sua argumentação se torna enfática, pois é a partir deste sentido que ele entende as estruturas que vão perpassar na sociedade de seu momento.

Em sua análise, Prado aborda questões deste passado colonial, geradas pelo sentido comercial, para sugerir algumas continuidades em questões do presente. Entre estas abordagens estão à economia agro-exportadora, arranjo econômico criado no passado e existente no presente; a escravidão moderna, decorrente da necessidade de mão-de-obra, que, segundo este autor, não contribuiu positivamente a sociedade, devido a sua função de mero instrumento gerador de força produtiva; o setor inorgânico da sociedade, formado por indivíduos que não se encaixam naquele perfil bipolar constituídos por senhores e escravos, não possuindo alguma força social; e, a família patriarcal, órgão basilar do domínio rural e da sociedade colonial, ainda presente na primeira metade do século XX.

Portanto, é a partir desta conclusão sobre o sentido comercial da colonização que Caio Prado Jr. tece a rede entre passado e presente, em uma frágil acepção evolutiva, devido à falta de rupturas. Ele identifica estruturas geradas pela empresa comercial, que estão intricadas não só em seu presente, mas em todos os momentos da história do Brasil, gerando um continuísmo político entre colônia, império e república.

Seguindo uma matriz marxista, Caio Prado Jr. percebe a história brasileira através do sentido evolutivo proposto por Marx. Sua construção de texto é bem clara em relação seus referenciais teóricos, devido ao uso de termos e estruturas de pensamento marxistas. Por diversas vezes ele propõe em sua análise questões referentes a relações de desigualdade, a meios de produção e força de trabalho, a luta de classe, entre outras concepções de caráter marxista. Ao ver na história do Brasil um sentido, este autor recorre claramente ao materialismo histórico, que evidencia

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