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Fichamento - Reflexões sobre o Racismo de Cornelius Castoriadis

Por:   •  14/6/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.372 Palavras (6 Páginas)  •  936 Visualizações

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FICHAMENTO

CASTORIADIS, Cornelius. Reflexões sobre o racismo. In: As Encruzilhadas do Labirinto III: O Mundo Fragmentado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1922, p. 27-41.

“Estamos aqui, é evidente, porque queremos combater o racismo, a xenofobia, o bairrismo e demais congêneres” (p. 27)

“[...] reconhecemos que todos os seres humanos têm valo igual na qualidade de seres humanos, e afirmamos que a coletividade tem o dever de lhes conceder as mesmas possibilidades efetivas, quanto ao desenvolvimento de suas faculdades.” (p. 27)

“Esse combate, no entanto, como todos os outros, em nossa época foi frequentemente virado e revirado, da maneira mais incrivelmente cínica. Para dar apenas um exemplo: o Estado russo proclama-se anti-racista e antibairrista, enquanto o anti-semitismo, estimulado por baixo do pano pelos poderes instituídos, está no auge na Rússia, e enquanto dezenas de nações e etnias permanecem, à força, na grande prisão dos povos.” (p. 27)

“Aí está um primeiro motivo pelo qual devemos ser extremamente rigorosos e exigentes a nível de reflexão. O segundo, de igual importância, é que aqui, como em todas as questões referentes a uma categoria social-histórica geral – a Nação, o Poder, o Estado, a Religião, a Família etc. – o escorregão é quase inevitável.” (p. 28)

“Depois da visita de um anjo, Cornélio faz um convite a Simão, cognominado Pedro, para ir à sua Casa. Durante o caminho, Pedro também tem urna visão, cujo sentido significa que não há mais alimentos puros e impuros. Chegando à Cesaréia, Pedro janta na casa de Cornélio— segundo a lei, jantar na casa de um Goy uma abominação – e lá, durante a sua fala, o Espírito Santo desce sobre todos os que ouviam as suas palavras, o que deixa totalmente estupefatos os companheiros judeus de Pedro presentes à cena, já que o Espírito Santo derramara o seu dom também sobre os não-circuncisos, que passam a falar em línguas e a glorificar a Deus. Mais tarde, de volta a Jerusalém, Pedro tem que responder às amargas críticas dos seus companheiros circuncisos. Para acalmá-los, justifica-se dizendo que Deus outorgou também às “nações” o arrependimento, a fim de que elas vivam. Esse episódio tem, evidentemente, múltiplas significações. É a primeira vez que o Novo Testamento afirma a igualdade das “nações” diante de Deus, e a não-necessidade da passagem pelo judaísmo para se tomar cristão.” (p. 28-29)

“Por motivo de simples honestidade, sinto-me obrigado a dizer que o Antigo Testamento é o primeiro documento racista escrito que possuímos na história. O racismo hebreu é o primeiro de que temos vestígios escritos– o que, por certo, não significa que seja o primeiro, de forma alguma.” (p. 30)

“Parece-me necessário lembrar isso, ainda mais que não aceito a ideia de que o racismo, ou meramente o ódio do outro, é uma invenção específica do Ocidente; considero-a como uma das asneiras mais em voga nos dias de hoje.” (p. 30)

“[...] as duas outras religiões monoteístas, inspiradas no Antigo Testamento, e “sucedendo” historicamente ao hebraísmo, infelizmente não são tão aristocráticas: seu Deus é bom para todos; se os outros não o aceitarem, serão obrigados a engoli-lo à força, ou serão exterminados.” (p. 30)

“Este ardor dos verdadeiros cristãos em defender o verdadeiro Deus, a fogo e sangue, está constantemente presente na história do cristianismo, tanto oriental como ocidental (heréticos, saxões, cruzados, judeus, índios, da América, objetos da caridade da Santa Inquisição etc.). Da mesma forma, também, diante do clima dominante de bajulação, seria necessário restaurar a verdadeira história da propagação do Islamismo, na qual mal podemos acreditar. Por certo não foi o encantamento das palavras do Profeta que islamizou (e, na maior parte do tempo, arabizou) populações que se estendem do Ebro a Sarawak e de Zanzibar a Tashkent.” (p. 31)

“Na minha opinião, a ideia central é a seguinte: o racismo participa de alguma coisa muito mais universal do que aceitamos admitir habitualmente. O racismo é uma transformação ou um descendente especial violento e exacerbado (arrisco-me até mesmo a dizer uma especificação monstruosa) de uma característica empiricamente quase universal das sociedades humanas. Trata-se, em primeiro lugar, da aparente incapacidade de se constituir como si mesmo sem excluir o outro; em seguida, da aparente incapacidade de excluir o outro sem desvalorizá-lo e, finalmente, odiá-lo.” (p. 31-32)

“A sociedade – cada sociedade – se institui criando o seu próprio mundo. Isso não significa somente “representações”, “valores”, etc. Na base de tudo isso, há um modo do representar, uma categorização do mundo, uma estética e uma lógica, assim como um modo do valorizar, e sem dúvida, também, um modo cada vez particular do ser afetado. Nessa criação do mundo, de uma forma ou de outra, a existência de outros humanos e de outras sociedades sempre encontra lugar.” (p. 32)

“Quanto ao que nos importa aqui, três possibilidades se abrem, que trivialmente: as instituições desses outros (e, por tanto, esses próprios outros!) podem ser consideradas como superiores (às “nossas”), ou como inferiores, ou como “equivalentes”. Observemos imediatamente que o primeiro caso acarretaria, ao mesmo tempo, uma contradição lógica e um suicídio real.” (p. 32-33)

“Essa

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