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GUERRILHA DO ARAGUAIA

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Por:   •  21/10/2014  •  10.083 Palavras (41 Páginas)  •  441 Visualizações

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O que foi a Guerrilha do Araguaia?

Foi a tentativa de dissidentes do Partido Comunista do Brasil (PC do B) de organizar uma luta armada, a partir do campo, para enfrentar a ditadura militar que governava o Brasil em 1968. Na época, a censura barrava notícias e manifestações artísticas que o governo julgasse impróprias. Para piorar, pessoas que se opunham ao regime - ou consideradas uma ameaça - eram perseguidas, torturadas e até executadas. Quando o regime começou a endurecer ainda mais, alguns partidários da esquerda, inspirados pelo sucesso das revoluções chinesa, com Mao Tsé-tung, e cubana, com Che Guevara e Fidel Castro, começaram os planos para derrubar os milicos do poder. O primeiro passo era conquistar a população rural, alistando "soldados" para iniciar a revolução socialista no Brasil.

Guerrilha dos "farrapos"

Durante sete anos, quase cem guerrilheiros tentaram combater a ditadura no improviso

1. Em 1968, alguns líderes do PC do B, como Maurício Grabois e João Amazonas, se desligam do partido para formar grupos de resistência armada em regiões rurais

2. Os grupos se espalham próximos às margens do rio Araguaia, onde hoje se juntam os estados do Pará, do Maranhão e de Tocantins. Paulistas, mineiros e gaúchos são maioria

3. A amizade é uma arma para conquistar o apoio dos camponeses. Outra estratégia é usar a profissão dos guerrilheiros - alguns deles eram médicos, por exemplo - para atender às necessidades locais

4. Os guerrilheiros, vindos da classe média alta, bancam as próprias armas. Sem treinamento militar prévio nem financiamento do partido, o arsenal se limita a facões, revólveres .38 e espingardas

5. Numa emboscada ao comunista Carlos Marighella, os militares descobrem documentos com pistas sobre a guerrilha, confirmadas com a prisão e a tortura do ex-guerrilheiro Pedro Albuquerque

6. O Departamento de Inteligência e Repressão do Exército se infiltra nas comunidades do Araguaia e compra informações dos camponeses, descobrindo paradeiro e identidade dos guerrilheiros

7. Até 1975, rolam três campanhas para detonar a guerrilha. Após reconhecimento da área e coleta de informações, a segunda campanha vai à caça com tropas de operação em selva. Começa a onda de torturas, com destaque para um pau-de-arara melado

8. A captura de Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa) - um dos poucos treinados pelo Exército chinês -abala o moral dos guerrilheiros. O cara é morto em 1974 e tem o corpo amarrado a um helicóptero para ser exibido nos vilarejos

9. A Operação Marajoara vem para exterminar, com emboscadas pesadas de militares sem farda, muita tortura e execução - até de camponeses. O objetivo é identificar os poucos guerrilheiros que ainda resistem escondidos na mata

10. Oficiais cortam cabeça e mãos das vítimas e as enfiam em sacos que seguem para identificação pelo Exército. Segundo os militares, mais de 80 guerrilheiros morreram nas operações

11. Familiares e organizações de direitos humanos tentam, até hoje, localizar e identificar corpos de "desaparecidos". Dossiês e depoimentos de ex-militares envolvidos nas operações estão vindo à tona pela imprensa e pelo cinema

Consultoria - Eduardo Castro, diretor do documentário Araguaia - A face oculta da história, com lançamento previsto para 2010

Sobre a Guerrilha do Araguaia(1)

João Amazonas

16 de Maio de 1996

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Inácio Arruda (Dep. Federal PCdoB/CE) João Amazonas – Sr. Presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Deputado Hélio Bicudo; demais membros da Mesa; Srs. e Sras. Deputados presentes e convidados. Agradeço a oportunidade que me concedem de prestar um depoimento sobre o que se convencionou chamar Guerrilha do Araguaia.

Esta epopeia ganhou ampla repercussão recente com as reportagens do jornal O Globo, baseadas em informações de fonte militar. O assunto sempre foi proibido no país pelos militares, proibição que algumas vezes foi contornada. O Jornal da Tarde, de São Paulo, e o repórter Fernando Portela, já haviam revelado para o grande público, em princípio de 1979, uma série de aspectos da luta heróica do sul do Pará. Agora, com as publicações de O Globo, o Araguaia alcança maior divulgação.

Trata-se de acontecimentos marcante na história das lutas populares no Brasil. O General Hugo de Abreu chegou a afirmar que essa foi a luta mais importante já realizada no meio rural.

Araguaia existiu! É impossível negar ou apresentar os fatos sob versão distorcida. O povo tem o direito de saber, de conhecer sua história recente, porque são essas lutas que acabam marcando o caráter do próprio povo.

Todos sabemos que há mais de trinta anos implantou-se no país uma ditadura militar que se voltou raivosamente contra o povo. As liberdades foram brutalmente suprimidas, e a atividade política, rigorosamente controlada, limitava-se a dois partidos, o MDB e a ARENA. Instaurou-se um regime de perseguição aos democratas conseqüentes, particularmente à juventude.

É claro que o povo brasileiro reagiu e promoveu inúmeras manifestações de protesto contra a tirania que se implantara no país. Uma dessas manifestações, que ficaram em nossa memória, foi a grande Passeata dos Cem Mil, que condenava a morte do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro.

Os militares responderam a estes atos com brutalidade nunca vista: torturas infames, assassinatos de presos políticos no DOPS e nos DOI CODI. Eu mesmo perdi muitos camaradas – os quais recordo sempre com muitas saudades – mortos nos órgãos de repressão, sob bárbaras torturas.

As greves foram proibidas. Os sindicatos interditados. Enfim, com o chamado Ato Institucional nº 5, impôs-se um regime de terror contra o povo, isso sem falarmos nos planos terroristas do Rio-Centro e das maquinações monstruosas do brigadeiro Burnier, denunciadas pelo capitão Sérgio, conhecido como Macaco.

É nesse ambiente que surge o Araguaia, organizado e dirigido na clandestinidade pelo Partido Comunista do Brasil. Araguaia não era um movimento subversivo, como costuma dizer a repressão, não visava implantar o socialismo no Brasil. Destinava-se a organizar a resistência armada contra a ditadura, já que não havia espaço para outras formas de luta nas cidades.

O objetivo político da Guerrilha do Araguaia

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