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HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA

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Por:   •  17/9/2013  •  7.883 Palavras (32 Páginas)  •  778 Visualizações

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HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA

1. O Sentimento da Infância

1- As Idades da Vida

Um homem do século XVI ou XVII ficaria espantado com as exigências de identidade civil que nós nos submetemos com naturalidade. Na savana africana a idade é ainda uma noção bastante obscura, algo não tão importante a ponto de não poder ser esquecido. Mas em nossas civilizações técnicas, como poderíamos esquecer a data exata de nosso nascimento, se a cada viagem temos de eserevê-la na ficha de policia do hotel, se a cada candidatura, a cada requerimento, a cada formulário a ser preenchido, e Deus sabe quantos há e quantos haverá no futuro, é sempre preciso recordá-la. Na Idade Média, o primeiro nome já fora considerado uma designação muito imprecisa, e foi necessário completá-lo por um sobrenome de família, muitas vezes um nome de lugar. Agora, tornou-se conveniente acrescentar uma nova precisão, de caráter numérico, a idade.

Acredita-se que foi somente no século XVIII que os párocos passaram a manter seus registros com a exatidão ou a consciência de exatidão que um Estado moderno exige de seus funcionários de registro civil. A importância pessoal da noção de idade deve ter-se afirmado à medida que os reformadores religiosos e civis a impuseram nos documentos, começando pelas camadas mais instruidas da sociedade, ou seja, no século XVI, aquelas camadas que passavam pelos colégios.

Esses retratos de família datados eram documentos de história familiar, como o seriam três ou quatro séculos mais tarde os álbuns de fotografias. Frutos desse mesmo espírito eram os diários de família, onde eram anotados, além das contas, os acontecimentos domésticos, os nascimentos e as mortes.

As "idades da vida" ocupam um lugar importante nos tratados pseudocientíficos da Idade Média. Seus autores empregam uma terminologia que nos parece puramente verbais: infancia e puerilidade, juventude e adolescência, velhice e senilidade cada uma dessas palavras designando um período diferente da vida. Hoje em dia não temos mais idéia da importancia da noção Pagina 24 de idade nas antigas representações do mundo. A idade do homem era uma categoria científica da mesma ordem que o peso ou a velocidade o são para nossos contemporaneos.

As idades da vida eram também uma das formas comuns de conceber a biologia humana, em relação com as correspondências secretas internaturais. Essa noção, destinada a se tornar tão popular, certamente não remontava às belas épocas da ciência antiga. Pertencia às especulações dramáticas do Império Bizantino, ao século Vl. Fulgêncio a percebia oculta na Eneida: detectava no naufrágio de Enéias o símbolo do nascimento do homem em meio às tempestades da existência. Interpretava os cantos Il e III como a imagem da infancia ávida de narrativas fabulosas, e assim por diante. Um afresco da Arábia do século Vlll já representava as idades da vida.

As idades correspondem aos planetas, em número de 7: "A primeira idade é a infancia que planta os dentes, é chamado de enfant (criança), que quer dizer não falante, a segunda idade... chama-se pueritia e é assim chamada porque nessa idade a pessoa é ainda como a menina do olho, como diz Isidoro, e essa idade dura até os 14 anos." " a terceira idade, que é chamada de adolescência, que termina, segundo Constantino em seu viático, no vigésimo primeiro ano, mas, segundo Isidoro, dura até 28 anos... e pode estender-se até 30 ou 35 anos. "Depois segue-se a juventude, que está no meio das idades, embora a pessoa aí esteja na plenitude de suas forcas, e essa idade dura até 45 anos, segundo Isidoro; ou até 50, segundo os outros. Depois se segue a senectude, que está a meio caminho entre a juventude e a velhice. Após essa idade segue-se a velhice, que dura, segundo alguns, até 70 anos e segundo outros, não tem fim até a morte.

2 - A Descoberta da Infância

Por volta do seculo XII, à arte medieval desconhecia a infancia ou não tentava representá-la. É dificil crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. E mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo.

Essas cenas de infancia literárias correspondem às cenas da pintura e da gravura de gênero da mesma época: são descobertas da primeira infancia, do corpo, dos hábitos e da fala da criança pequena.

3 - O Traje das Crianças

No século XVII, entretanto, a criança, ou ao menos a criança de boa família, quer fosse nobre ou burguesa, não era mais vestida como os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à sua idade, que a distinguia dos adultos. Esse fato essencial aparece logo ao primeiro olhar lançado às numerosas representações de crianças do início do século XVII.

O diário da infância de Luís XIII que Heroard mantinha mostra a seriedade com que então se começou a tratar o traje da criança: a roupa tornava visíveis as etapas do crescimento que transformava a criança ern homem. Essas etapas, outrora despercebidas, haviam-se tornado espécies de ritos que era preciso respeitar e que Heroard registrava cuidadosamente comoquestões importantes. Em 17 de julho de 1602, foram colocadas tiras à guisa de guias no vestido do Delfim. Os hábitos de vestir, portanto, não são apenas uma frivolidade. A relação entre o traje e a compreensão daquilo que ele representa está aqui bem marcada.

Nos colégios, os semi-internos usavam o vestido por cima das calças justas até os joelhos.

Em Paris, no inicio do seculo XVII: "Imaginem, portanto Francion entrando na classe, com as ceroulas saindo por baixo de suas calças até os joelhos e descendo até os sapatos, o vestido colocado torto e a pasta embaixo do braco, tentando dar uma fruta podre a um e um piparote no nariz de outro". “No século XVIII, o regulamento do internato de La Flèche dizia que o enxoval dos alunos devia incluir “um vestido de interno” que devia durar dois anos”.

Essa diferenciação de trajes não era observada nas meninas. Estas, como os meninos de outrora, do momento em que deixavam os cueiros, eram logo vestidas como mulherezinhas.

O vestido das crianças nada mais é do que o traje longo da Idade Média, dos séculos Xll e XIII, antes da revolução que o substituiu no caso dos homens pelo traje curto, com calcas aparentes,ancestrais do nosso traje masculino atual. Até o século XIV, todo o mundo usava um vestido ou túnica, mas a túnica

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