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História Da Infância

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Por:   •  11/5/2014  •  2.334 Palavras (10 Páginas)  •  336 Visualizações

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Um pequeno recorte sobre a história da infância

Claudia Stella. Mestre em Psicologia Social e Doutora em Educação pela PUC-SP. Colaboradora da Lumiar Projetos.

Introdução

Criança: ( do lat. creantia ) S.F. 1- Ser humano de pouca idade, menino ou menina; párvulo. 2- Pessoa ingênua, infantil: Não desconfia de nada, é uma criança. 3- Ant. Criação, educação.(Ferreira,1989)

Observando a semântica do uso adjetivo do vocábulo, notamos, que de uma maneira geral, ela se refere a caraterísticas desvalorizadoras. Ser criança significa: ser ingênuo, infantil, qualidades que na maioria das sociedades ocidentais desqualificam o indivíduo.

O significado do uso adjetivo do vocábulo reflete um pouco do imaginário social sobre a infância. Quando se pensa em criança as imagens que povoam as mentes são de uma criança idealizada, sem problemas, sem conflitos, sorridente, que vive num mundo de faz de conta, na realidade em um outro mundo.

Esses conceitos, que ainda estão presentes na sociedade vigente, têm profundas raízes na história das civilizações. Assim, este breve trabalho pretende trazer alguns recortes de questões históricas sobre o descobrimento da infância e formas de violência que crianças sofreram durante esse processo.

Contextualização histórica

Ao longo da história verifica-se que a infância foi constantemente negligenciada. No século XII, as obras de artes não representavam a infância, ou quando faziam explicitavam crianças representadas por homúnculos, com todas as características físicas semelhantes as dos adultos, porém em tamanho reduzido. Certamente, elas não eram representadas por falta de habilidades artísticas, mas por não terem nenhuma importância no contexto sócio-cultural da época (cf. Ariès,1981).

“Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse a incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo.” (Ariès, 1981, p.50)

Nessa época a alta taxa de mortalidade infantil fazia com que as famílias procurassem ter uma grande quantidade de filhos, já que era constante a ameaça de perdê-los e não perpetuar a sua linhagem, assim, às crianças não era destinado um grande sentimento de apego ou de extremo cuidado, fato que só ocorria quando essas se tornavam jovens e estavam livres do perigo das doenças infantis.

Porém, no final do século XVII, sobre a influência do cristianismo e da imagem da criança-pura relacionada com a figura do menino Jesus, surge na Europa uma nova sensibilidade em relação à infância, que foi fortificada pela difusão das práticas contraceptivas, fazendo desaparecer a idéia de desperdício necessário. Essa nova sensibilidade relaciona a criança como pertencente a uma família, a uma determinada linhagem, que objetivava o seu desenvolvimento de acordo com o interesse dessa (cf. Gélis,1991).

"...embora as condições demográficas não tenham mudado muito do século XIII ao XVII, embora a mortalidade infantil se tenha mantido num nível muito elevado, uma nova sensibilidade atribuiu a esses seres frágeis e ameaçados, uma particularidade que antes ninguém se importava em reconhecer: foi como se a consciência comum só então descobrisse que a alma de criança também era imortal." (Ariès,1981, p.61)

No século XVIII, sob a influência de idéias iluministas, um movimento de conservação das crianças é iniciado, na França, por médicos que produzem uma abundante literatura, na tentativa de diminuir o número de mortalidade e denunciar os maus tratos sofridos na infância (cf. Donzelot, 1986).

Donzelot descreve que a grande preocupação desse movimento continuava sendo o alto índice de mortalidade infantil, que era auxiliado pela dificuldade de se encontrar nutrizes e de sua falta de preparo e interesse para lidar com as crianças.

Nessa época as mulheres se encontravam ocupadas nas cidades trabalhando no comércio ou auxiliando os seus maridos nos seus ofícios e as crianças burguesas eram enviadas por meio de agenciadores para serem cuidadas por nutrizes, porém raramente os pais mantinham contato direto com essas mulheres, o que levava as crianças a uma situação de extrema violência ou de total abandono. As grandes distâncias também proporcionavam uma grande quantidade de óbitos durante as viagens, desse modo, muitas vezes o agenciador continuava a receber por aquela criança sem comunicar a sua morte aos seus pais, tendo sempre a nutriz como cúmplice dessa artimanha (cf. Donzelot, 1986).

Desse modo, o Movimento de Conservação das Crianças começa a denunciar os maus-tratos sofridos na infância, na tentativa de aliviar algumas práticas educativas, até então socialmente aceitas e propagadas, além de apontar as formas de maus-tratos e de negligências perpetradas contra as crianças por seus pais.

"Uso de faixas se estabeleceu quando as mães, ao se recusarem alimentar seus filhos, confiaram-nos a vis escravas que não se preocupavam em propiciar o crescimento de forças que um dia poderiam oprimi-las. Para adolescentes acrescenta-se a isso o confinamento debilitante em que são mantidas até a idade de sua primeira entrada no mundo, reclusão enfraquecedora que, freqüentemente, torna-as inaptas para as tarefas da maternidade, reproduzindo, assim, a necessidades de serviçais" (Donzelot,1986, p.18).

Cabe enfatizar, que os serviços de nutrizes ou serviçais eram utilizados por famílias burguesas, que possuíam meios de subsidiá-los, já nas classes menos favorecidas a condição era diferenciada. Muitas vezes, esses serviçais eram atraídos do campo para as cidades com promessas de prosperação, que não se concretizavam e acabavam por abandonar seus filhos, que tinham como destino a morte ou as ruas, necessitando de uma intervenção estatal.

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