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Limites de uma teoria da história no pensamento grego para a compreensão da alteridade

Resenha: Limites de uma teoria da história no pensamento grego para a compreensão da alteridade. Pesquise 859.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  14/4/2013  •  Resenha  •  1.105 Palavras (5 Páginas)  •  868 Visualizações

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RESUMO: O artigo procura examinar os limites impostos pela teoria da história no pensamento grego para a compreensão da alteridade. Tal teoria, fundada na oposição entre epistéme e doxa, minimiza o significado do particular e do evento em seu significado próprio, tornando difícil o desenvolvimento de uma etnografia. Nesse contexto de idéias, é dada particular ênfase ao papel desempenhado pelos citas, percebidos como "selvagens", na História de Heródoto.

PALAVRAS-CHAVE: selvagem, pensamento grego, história, citas, Heródoto, particular, evento, mitologia, bárbaros.

A partir das navegações empreendidas pelos portugueses e da chegada de Colombo à América, uma nova humanidade ingressou no horizonte mental europeu. Perante ela, a Europa foi gradativamente forçada a se repensar. Ao mesmo tempo, os europeus tiveram que pensar o ameríndio, assim como os vários outros povos com que foram se defrontando pelo mundo afora. Nesse processo, surge um novo "selvagem", transposição para o Novo Mundo de construções de alteridade já existentes no imaginário europeu e em boa medida herdadas do pensamento antigo. Meu objetivo aqui é o de examinar o significado do "selvagem" no pensamento grego antigo, dando especial destaque a Heródoto (1988: 1).

Como mostra Hodgen (1964), o pensamento grego clássico não privilegiava estudos comparativos nem a compreensão do particular, o que dificultava a apreciação da alteridade.

Como propunha Aristóteles em sua Política, só realizava a plenitude da humanidade o homem que vivia na pólis. Em outras palavras, quem não era grego era bárbaro, ou até mesmo selvagem.

Selvagem não significava necessariamente bárbaro, ou vice-versa: na verdade, o selvagem já existia no domínio da mitologia antes que o bárbaro ingressasse no plano da história. Como diz Bartra (1994), o selvagem teve de ser inventado antes de ser encontrado.

Se o bárbaro e o selvagem podiam ser tematizados, e precisavam sê-lo, como condição para a tematização da própria identidade grega e da pólis, pouco interesse havia no conhecimento de povos concretos, fossem eles caracterizados ou não como selvagens. Mas havia exceções, e Heródoto é provavelmente a mais importante.

Por outro lado, o pensamento científico dominante negava o particular como significativo em si mesmo. A história, limitada à doxa (opinião), se diferenciava da epistéme (ciência). O único objeto do conhecimento pleno era o imutável e o pensamento grego atingiu tal conhecimento na matemática. O conhecimento matemático é válido em qualquer tempo e lugar. Na natureza as coisas se transformam; portanto, não podiam ser plenamente conhecidas e a teoria grega da história era consistente com sua teoria da natureza:

A história é uma ciência da ação humana: o que o historiador vê à sua frente são coisas que os homens fizeram no passado, coisas essas que pertencem a um mundo em transformação, um mundo em que aparecem e desaparecem coisas. Tais coisas, de acordo com a concepção metafísica preponderante na antiga Grécia, não seriam cognoscíveis. Conseqüentemente, a história seria impossível. (Collingwood, 1994: 35)

O objeto do conhecimento histórico era ainda mais volúvel que a natureza. Para Platão, o mundo transitório é verdadeiro, mas não inteligível. Uma história científica seria impossível, pois o transitório não é passível de demonstração.

Isso não significa que os gregos se desinteressassem pela história: seus mundos social e natural eram mundos em rápida e intensa transformação e os gregos reconheciam a necessidade da transformação. A concepção grega de história não era determinista, visto que seu curso podia ser mudado pela vontade dos homens. Contudo, a ação do homem permanece ininteligível em suas causas. Sua visão de mundo incorporava a noção da inevitável transformação de uma situação no seu contrário, mas as causas não podiam ser conhecidas.

A história diz-nos que Cresus e Polícrates caíram na desgraça; a poesia, segundo a idéia que dela fazia Aristóteles, não faz esses juízos singulares e sim o juízo universal de que os homens muito ricos... caem em desgraça. Mesmo este é, na opinião de Aristóteles, apenas um juízo parcialmente científico, pois ninguém consegue saber por que razão os ricos hão de cair na desgraça... a poesia é para Aristóteles a essência extraída dos ensinamentos da história. Na poesia, as lições da

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