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Mitodologia Grega

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Por:   •  15/9/2014  •  3.185 Palavras (13 Páginas)  •  241 Visualizações

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A mitologia grega ajudou o Ocidente a desenvolver seu caráter - muitos de nossos valores, atitudes e ações foram forjados em textos que explicam como os deuses do Olimpo lidavam com os humanos

Texto Fábio Marton e Salvador Nogueira | 20/12/2012 15h25

Na Grécia antiga, se falava uma língua isolada e se usava um alfabeto diferente. Seu povo não se parecia com os europeus - aliás, boa parte do que era a Grécia naquele tempo nem ficava na Europa, mas na Ásia, onde hoje é a Turquia. Ainda assim, foi lá que nasceu o mundo Ocidental. A mitologia teve papel fundamental na transmissão de valores que soam familiares a nós ainda hoje. Das noções de ciúme e de inveja, da soberba ao heroísmo, somos herdeiros de determinado jeito de pensar que nasceu ali. Afinal, o que havia de tão especial com esse povo e seus deuses para que suas ideias sobrevivam até hoje? "As pessoas se referem frequentemente ao milagre grego", escreveu a pesquisadora germano-americana Edith Hamilton em seu livro Mitologia. "Sabemos apenas que nos primitivos poetas gregos manifestou-se um novo ponto de vista, diferente de tudo com que se sonhara antes deles, mas que, depois deles, seria uma conquista permanente do mundo."

Deus mulherengo

Pense na imagem de Deus. Aquele mesmo, da Bíblia. É provável que tenha vindo à sua cabeça um homem maduro, vigoroso, de barba branca. Se Ele ficar irritado, mandará raios na cabeça de alguém. Sim, você imaginou deus, mas não o da Bíblia ("Homem nenhum verá minha face e viverá", diz o Êxodo). A imagem em sua cabeça é a de Zeus (Júpiter para os romanos). O maridão e irmão de Hera (ou Juno). O imperfeito, irascível, briguento, mulherengo e todo-poderoso deus grego. Não se culpe. O Novo Testamento não foi escrito na linguagem que Jesus e seus discípulos falavam, o aramaico, mas em grego, a língua franca da Antiguidade. Por causa disso, entidades mitológicas gregas acabaram batizando conceitos cristãos. O Sheol, o inferno de acordo com a Bíblia, virou Hades, a terra dos mortos grega, que não era nem boa nem ruim. Os shedin e mazikin do Velho Testamento foram traduzidos para daimon, origem da palavra "demônio". Entre os gregos, daimon era um espírito incorpóreo, geralmente benigno, uma espécie de anjo da guarda.

Jupiter et Juno, Annibale Carracci, 1597

"O cristianismo é uma religião greco-romana, e não judaica", diz Jacyntho Lins Brandão, da Universidade Federal de Minas Gerais. "Ela é fruto de um grupo de judeus helenizados e teve que passar por adaptações. As próprias imagens eram coisas que os judeus não tinham, eram proibidas." A força da mitologia era tão grande que os padres tiveram de engolir a manutenção de certos costumes. Sobreviveu algo do paganismo nas maiores datas cristãs.

O Natal não cai em 25 de dezembro porque Jesus nasceu nessa data. Ninguém sabe o dia em que Jesus nasceu. Havia uma grande festa pagã, a Saturnália, comemorada entre 17 e 23 de dezembro. Ela homenageava o pai de Zeus, Cronos, ou Saturno, em latim. A Igreja decidiu marcar o Natal para essa época para "sobrescrever" a Saturnália. Durante a festança, os romanos decoravam a casa, davam presentes e faziam um grande banquete, com direito a muito álcool - a parte mais selvagem das comemorações foi transferida hoje para o Ano-Novo.

A Páscoa tem coincidências ainda mais evidentes. No final de março, gregos e romanos comemoravam a morte e ressurreição de uma figura divina, nascida de uma virgem, e cujos sacerdotes eram celibatários. O evento se caracterizava pela abstinência de certos alimentos, seguido por um dia de comiseração, em que alguns fiéis chegavam a se autoflagelar. Por fim, havia uma grande festa e os alimentos eram liberados. Assim era o festival Hilaria, que homenageava o deus Attis, marido de Cibele, a deusa da colheita. A páscoa cristã, que não cai no mesmo dia da judaica, também foi calculada para obscurecer antigos festivais pagãos.

O legado grego ao mundo contemporâneo passa pela maneira como os antigos encaravam seus deuses. Os deuses não eram os inventores do mundo, mas parte de algo que já existia. Zeus, o manda-chuva de turno, não criou a Terra, nem mesmo os homens, que foram invenção de seus primos (veja na pág. 33). Zeus, seus irmãos, filhos e aparentados formam uma segunda geração de potestades. Enquanto na tradição judaico-cristã, Deus vive em um céu inalcançável, os deuses da mitologia grega tem endereço físico, o monte Olimpo, a maior montanha da Grécia. Quer dizer, os deuses estavam, literalmente, ao alcance dos humanos.

O Deus cristão é representado como um ser distante, sobre-humano. Nas raras vezes em que desceu à Terra, apareceu na forma de luz ou fogo - ou só sua voz era ouvida. Com o pessoal da mitologia, era diferente.

Como pensar?

Quando Zeus dava o ar da graça por aqui, por vezes se disfarçava para iludir e seduzir as mortais. Virou touro e cisne - e dormiu com as humanas até em forma de gotas de chuva. Os deuses gregos eram demasiadamente humanos. Podiam se ferir e se alimentavam todos os dias, de néctar e ambrosia. Enfim, tinham sua própria vida privada. "Embora tivessem características gregas, o fato é que os mitos da Grécia são compreensíveis pelos seres humanos de outras épocas e culturas", afirma Pedro Paulo Funari, professor de História Antiga da Unicamp e autor de Grécia e Roma.

Quando ouvimos as histórias mitológicas, nos deparamos com nossos próprios sentimentos. Um exemplo: o ciúme de Hera, a primeira-dama do Olimpo, diante das escapadas do marido em busca de deusas e mortais. Outro: Narciso, o herói que se julgava mais bonito que Apolo e por obra da deusa Nêmesis se apaixonou por ele mesmo. Ou Afrodite, que nasceu do sêmen de Cronos e é sinônimo de beleza - veja O Nascimento de Vênus, ou pense na Vênus de Milo. Algumas criações da Antiguidade, como drapeados, fivelas e tiaras, nunca mais saíram da moda.

O conceito de beleza masculino, de músculos definidos e cara angulosa, vigora desde lá. Até há pouco tempo, um gato era um "Apolo". Hoje, encontramos a herança helênica na TV e nas bancas de revista. Quem nunca quis ser super-herói? Pois o culto ao herói é algo tipicamente grego. Héracles (ou Hércules, em latim), ele mesmo transformado em personagem da Disney, inaugurou a senda de heróis semidivinos (ele virou imortal ao fim de seus 12 trabalhos), que são obrigados pelo destino a cumprir determinadas tarefas. E sua história ajuda a revelar o caráter dos deuses. Filho de Zeus com uma mortal, ele quase foi morto no berço

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