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O entrecruzamento entre narrativa histórica e narrativa de ficção

Por:   •  11/3/2018  •  Resenha  •  1.209 Palavras (5 Páginas)  •  372 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS

DISCENTE: ARLEN VIEIRA SOUZA
DOCENTE:


REIS, José Carlos. O entrecruzamento entre narrativa histórica e narrativa de ficção. IN. O desafio historiográfico. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, pp. 63-90

Saber o que é fato ou ficção na história, parece realmente impossível, será que está tudo escrito como foi, ou existe uma manipulação histórica. Para Hayden White a ingenuidade do historiador traz essa preocupação, o historiador acha que a relação a escrita não tem ficção, é uma junção da documentação e seu texto, pois desde sempre os historiadores documentaram e deixavam rastros de sua história, o desafio é só escreve sobre ela com seu senso crítico. No entanto White nos faz pensar, será que os historiadores não narram o passado, pois ao escrever podem ter trago seu ponto de vista ou juntado a sua realidade, não a uma certeza que eles seguem as fontes ou as distorcem, talvez não estejam sendo neutros. Porem White talvez equivocadamente deixa claro que isso é bom para historiografia, para ele o senso crítico é valido e não só o científico.

Uma atenção que fosse despertada pela questão de que a forma de escrever a história não é indiferente aos modos de percepção dos tempos históricos das sociedades, mesmo quando estes não sejam colocados em evidência por aqueles que realizam o trabalho da sua escrita.

Esta questão me parece importante especialmente no que se refere às Ciências Sociais porque ela ou aparece aí apenas marginalmente como problema, seja para as análises em que a referência temporal é exclusivamente a do tempo presente, seja para aquelas que tem como objeto a reconstrução de algum tipo de recorte histórico do passado. No que se refere à questão da escrita, então, considero que ela seja no âmbito das Ciências Sociais, atualmente, mais marginal ainda, apenas explicitada em raros momentos em que é reposto o problema da escrita ensaística que não recobre exatamente esta questão via de regra a partir de uma perspectiva que de algum modo desqualifica o ensaio como o que se opõe a uma forma de escrita mais rigorosa, menos híbrida, mais científica.

De um modo conciso, é importante retraçar apenas alguns aspectos desse debate presente na historiografia, com o objetivo de encaminhar a questão a ser propriamente focalizada: a da especificidade da construção de uma narrativa histórica cuja atenção esteja voltada para os esquecimentos na história, em que estes não se constituam simplesmente em tema, mas possam ser pensados como ausências que induzem à produção de uma escrita, que permita traduzi-las em objetos pensáveis. Um trabalho de construção em história para o qual estas ausências signifiquem também construções de silêncios, de lacunas, de não-ditos, cujos sentidos embora apagados possam ter se constituído, ou se constituir ainda, em cenas organizadoras da história, cuja simbolização pode tomar a forma de uma escrita da história. Um trabalho de construção da história que teria como base mais propriamente a memória histórica das sociedades.

Quando os esquecimentos se constituem em questão para um trabalho de construção em história, seja na historiografia, seja nas ciências sociais, é necessário que se estabeleça a distinção entre as noções de memória coletiva e memória histórica. Mais ainda, que se questione a separação entre memória e história que caracteriza certas concepções contemporâneas das ciências históricas, reivindicada pelo seu caráter de cientificidade e inteligibilidade e a dissociação cada vez mais acentuada entre história e memória configurada pelo tempo histórico do presente. Claude Lefort formula uma distinção importante entre memória histórica e memória coletiva, ao refletir sobre o destino de alguns acontecimentos na história marcados seja por um esquecimento voluntário, seja por um recalque, cuja possibilidade de construção histórica passa pela possibilidade mesma de problematização da memória coletiva. Esta, como diz, "é elaborada no interior e na conjunção de múltiplos agrupamentos que apenas retém do passado o que convém à sua representação do presente. E é moldada em nossa época, cada vez mais insistentemente, pelo pequeno número que dispõe dos meios para difundir estas representações.

Este tipo de perspectiva permite questionar os tipos de forças e os modos como elas operam na construção da memória coletiva produzindo a sua manifestação como uma representação solidificada e dotada de durabilidade, de estabilidade e de continuidade. Perspectiva que permite ainda perceber na história aqueles momentos do não-dito, dos silenciamentos, dos esquecimentos necessários à construção daquelas representações que os estudos cuja ênfase está na força "quase institucional da memória coletiva" das sociedades tendem a desconsiderar (cf. Pollak, 1989). Essa perspectiva da memória histórica, que acentua a sua diferença em relação à memória coletiva dassociedades, busca empreender então um trabalho de construção, no sentido anteriormente indicado, para o qual as ausências na história significam também construções de esquecimentos, de silêncios, cujos sentidos embora apagados constituem-se em cenas organizadoras da história. A separação entre memória e história, além de caracterizar as concepções da história cuja ênfase está colocada no registro da memória coletiva e quanto a esse ponto convém lembrar novamente que em certa medida muitas das análises das ciências históricas e sociais podem se constituir na expressão de uma certa configuração da memória coletiva das sociedades , marca também as perspectivas que de algum modo recusam a forma narrativa da história.

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