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Pagode Baiano

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Por:   •  31/5/2013  •  4.221 Palavras (17 Páginas)  •  1.223 Visualizações

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A história dos batuques, lundus, umbigadas, samba tradicional, samba de roda, samba de fundo de quintal, pagode romântico e outros gêneros, estilos musicais e danças tem ligação direta com a história do pagode baiano. A evolução e miscigenação desses ritmos, juntamente com as mudanças no processo de urbanização das cidades, propiciaram ao pagode abordado aqui seu surgimento e progresso.

Para compreender todo esse processo histórico-cultural, necessitamos de um mergulho na história da música brasileira, no que tange à história das populações negras no Brasil e aos sons produzidos e seguidos, popularmente, nas senzalas ou nas ruas de duas importantes cidades brasileiras: Rio de Janeiro e, em caráter especial, Salvador, por se tratar da cidade na qual desenvolvemos a pesquisa. A música produzida muitas vezes desafiava atos governamentais e religiosos que iam de encontro às festas e demais reuniões musicais de negros e mestiços. Quando não desafiava os poderes constituídos, a música servia como refrigério ante a agressiva escravidão e marginalização negra.

Enfim, esses sons evoluíram e claro passaram a pertencer de fato à população brasileira como um todo. Percorreram outras regiões do país, mantiveram a sua força nos locais de origem e deram base para o surgimento de outros novos estilos, danças, ritmos, novas maneiras de protestar ou de apenas se divertir.

Ao ter fim a escravidão, novas formas de trabalho tomaram conta do país, embora a perspectiva de exploração se promulgasse. A música, que serviu como um meio de protesto ou de alegria ante a sofrida escravidão, no novo contexto histórico pós-abolição. E diante das novas formas de trabalho assalariado, continuara a ter mais força nas/para as camadas populares, nos processos de identificação coletiva tanto para reivindicar direitos, quanto para divertir a população.

As cidades do Rio de Janeiro e Salvador intensificaram suas produções culturais da música. Embora, muitas vezes, enveredem por caminhos diferentes, características impregnam os dois lados. Um exemplo está no pagode baiano e no funk carioca, pois temos estilos musicais e danças diferentes, mas a sensualidade atribuída às coreografias, especialmente focadas no corpo feminino, e o perfil do público que consome as músicas une caracteristicamente os dois estilos musicais.

As razões do surgimento do pagode baiano, as coincidências com a música produzida no Rio de Janeiro, o público que o tem como preferência musical, a trajetória histórica desse estilo musical, as danças, as letras, os músicos de grande destaque, as polêmicas, o consumo e suas perspectivas, exprimem a razão de ser desse capítulo. Esperamos assim, entender a história e as perspectivas do pagode baiano para, posteriormente, entender as questões de gênero (enquanto identidade social dos sexos) ligadas a esta espécie musical.

É o samba enquanto gênero musical que proporciona a origem do pagode baiano. Entender esse gênero musical, suas construções históricas, culturais e sociais, amplia nosso grau de visibilidade e dos passos mutáveis que chegam ao pagode baiano do tempo presente. Entendemos gênero musical, segundo Carvalho como

[...] um conjunto de palavras ou tropos literários fixos que combinam com algum padrão rítmico particular e com algum tipo particular de harmonia e de movimento melódico porque aquelas palavras ou tropos evocam uma determinada paisagem social, uma paisagem histórica, uma paisagem geográfica, uma paisagem divina, ou mesmo uma paisagem mental. Tudo isso é um gênero musical. Uma vez que se tenha o tudo articulado como um gênero, então tem-se muitas experiências de fusão que formam parcialmente gêneros e a superposição entre dois ou mais deles, expandindo geometricamente essa riqueza narrativa. Essa riqueza, por sua vez, pode evocar as estruturas dos gêneros que foram postos em contato numa única peça musical. (CARVALHO, apud LIMA, 2003, p.89)

Assim, o samba enquanto gênero musical traz esse conjunto rítmicolinguístico que representa as diversas paisagens históricas, sociais, culturais, religiosas e psicológicas das populações que vivem nos morros, nas favelas ou em bairros populares. Tais paisagens configuram a identidade de um povo, descrevem os desafios sociais e causam a sensação de pertencimento, união e solidariedade para enfrentamento dos desafios cotidianos. Por isso, o samba tem singular representação no imaginário das populações que com ele se identificam. Em toda sua história, mesmo antes de se configurar definidamente como samba, o estilo musical teve perfil de aglutinação de pessoas na prática de fortalecimento da pertença, em festividades negras realizadas nas senzalas ou nas ruas.

A história do samba remonta a partes recorrentes da história dos sons produzidos pelas populações negras no Brasil. Tinhorão (2008) tem apontado para as origens desses sons dos negros, inicialmente apresentando os calundus que, segundo o Novo Dicionário Aurélio (2010) trata-se de um substantivo masculino que denota um “espírito dum antepassado remoto, suposto ente sobrenatural que dirige o destino da pessoa em quem se incorpora”. Nos estudos de Tinhorão, os calundus poderiam ser, em um primeiro momento, festas religiosas de matriz africana bem como, num segundo momento, os batuques produzidos nesses rituais religiosos, e depois, a incorporação de entidades espirituais que cuidavam das vidas das pessoas. Tais incorporações aconteciam em festas e rituais religiosos ao som dos tambores, onde os incorporados faziam presságios para filhos de santo e curiosos que participavam dessas festividades.

A partir da administração de Maurício de Nassau em 1644 “que iam ficar registradas as informações mais vivas e mais diretamente ligadas à vida dos negros na sociedade colonial brasileira” (TINHORÃO, 2008, p. 33). O referido autor destaca as imagens de escravos capturados durante esse período, dançando nas telas de Frans Post e em gravuras de Gaspar Barlaeus, bem como a descrição de uma cena de dança coletiva por Zacharias Wagener, no Livro dos animais do Brasil. Embora não houvesse atribuição direta por parte dos pintores, gravuristas e escritores, a descrição nas primeiras pinturas, gravuras e livros que tematizam as danças dos negros as aproximam da noção recente que temos dos rituais e festas religiosas dos terreiros de candomblé. Como aponta Sodré,

[...] nos quilombos, nos engenhos, nas plantações, nas cidades, havia samba onde estava o negro, como inequívoca demonstração de resistência ao imperativo social (escravagista) de redução do corpo negro a uma máquina produtiva e como uma afirmação de continuidade do universo cultural africano. (SODRÉ, 1998, p.12)

Como som de negro, escravo

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