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Porque Roda O Samba? - Uma Análise Do Samba De Roda Do Recôncavo Baiano, Patrimônio Cultural Imaterial

Artigo: Porque Roda O Samba? - Uma Análise Do Samba De Roda Do Recôncavo Baiano, Patrimônio Cultural Imaterial. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  29/5/2014  •  1.633 Palavras (7 Páginas)  •  574 Visualizações

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Por que roda o samba?

Uma análise do Samba de Roda do Recôncavo Baiano, patrimônio cultural imaterial

Edson Cardoso Junior e Matheus de Souza Carniel

Resumo: Este paper traz uma análise simplista, rápida e acessível sobre porquê o Samba de Roda do Recôncavo Baiano foi registrado como patrimônio cultural imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O presente trabalho também tenta descrever em linhas gerais o que é patrimônio cultural e sua importância.

Entendendo conceitos

Considere o seguinte fato: O Samba de Roda do Recôncavo Baiano foi oficialmente registrado como patrimônio cultural imaterial, no Livro de Registro das Formas de Expressão, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em outubro de 2004.

Quando se menciona as palavras “cultural” (ou “cultura”) e “patrimônio” muitas vezes não fica claro o que exatamente elas querem dizer. Atribuindo à expressão o adjetivo “imaterial” torna-se ainda mais complexo compreender qual o sentido disso tudo. Portanto, não é raro que ao ler o fato acima uma pessoa leiga fique impassível diante da informação, não apenas pela ingrata expressão, mas também pelo fato de se tratar de “um tal de samba que roda”.

Logo, surgem algumas questões, as quais, minimamente, este trabalho tem a pretensão de desanuviar. E também, tentar trazer à luz um pouco da riqueza e da história dessa expressão da cultura baiana tão rica e ainda pouco conhecida.

Primeiro é importante compreender o conceito (ou melhor, tentar formular algum conceito menos complexo) da palavra “cultura”. Terry Eagleton em seu livro “A Ideia de Cultura” (2005), afirma que a cultura se trata de uma palavra extremamente complexa, inclusive por ter a capacidade de ser atribuída à diferente contextos, como por exemplo “lavrar a terra”.

Eagleton (idem, p. 11) ainda afirma

Neste único termo, entram indistintamente em foco questões de liberdade e determinismo, o fazer e o sofrer, mudança e identidade, o dado e o criado. Se cultura significa cultivo, um cuidar, que é ativo, daquilo que cresce naturalmente, o termo sugere uma dialétka entre o artificial e o natural, entre o que fazemos ao mundo e o que o mundo nos faz. É uma noção "realista", no sentido epistemológico, já que implica a existência de uma natureza ou matéria-prima além de nós; mas tem também uma dimensão "construtivista", já que essa matéria-prima precisa ser elaborada numa forma humanamente significativa.

Portanto, é possível entender a cultura como um processo de construção da identidade, daquilo que representa um povo, um território, uma nação; dialogando com o passado (com o que é natural, instintivo) e também com conceitos antagônicos, a fim de criar um significado. Ou seja, a cultura está associada à memória.

Em seguida, o conceito de patrimônio. Patrimônio está comumente associado a ideia de preservação, entretanto, não propriamente de bens de conotação imaterial, mas sim, construções antigas, coisas velhas, ruínas. Muito disso se deve a sua origem vindoura do latim, monumentum, ou seja, monumento. Todavia, a noção de patrimônio histórico foi se moldando ao longo dos séculos, inicialmente com forte apelo político, principalmente durante a criação dos Estados-nação, tendo como ápice a Revolução Francesa. (CHOAY, 2011)

O patrimônio estava, então, intrínseco à noção de construção da identidade nacional, a tudo o que uniria aquele Estado o qual nascia. E é este o sentido tomado como conceito para patrimônio neste trabalho.

Finalmente, a mais simples das três questões acima: o conceito de imaterial. Segundo a versão online do Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa (2014), imaterial é aquilo “Que não é matéria. Que não tem matéria. Impalpável.”

Ou seja, é possível traduzir à grosso modo a expressão “patrimônio cultural imaterial” como um bem impalpável que faz parte da construção de uma determinada identidade e portanto deve ser preservado, por ter algum sentido de ser para determinado grupo.

Perfeito! O samba de roda do recôncavo baiano se enquadra completamente na descrição acima, porém, o que de fato ele representa na identidade brasileira?

Falando de samba

Mundialmente conhecido, sendo considerada uma expressão máxima de brasilidade e música popular brasileira, o samba carioca como é conhecido e difundido atualmente, começou a ser moldado no início do século XX por migrantes baianos (SANDRONI, 2004) e ainda mantém alguns traços os quais o ligam ao samba chamado de roda.

É lugar-comum, clichê e óbvia a visão romanceada do estrangeiro com relação ao Brasil, sua cultura, sua música, seus costumes. O carnaval do Rio de Janeiro se tornou uma indústria gigantesca, atraindo turistas de diversas partes do globo, entretanto, dificilmente um estrangeiro já tenha ouvido falar a respeito do samba de roda, mesmo que registros oriundos do século XVIII, e até mesmo alguns mais antigos, façam referência a danças cujas características se assemelham ao objeto deste trabalho.

Então, esta conexão do samba de roda com um símbolo unânime da identidade brasileira o catapultou ao nível de patrimônio cultural imaterial?

Não exatamente.

O samba de roda é uma tradição secular passada de uma geração a outra, entretanto, e, talvez, numa visão marxista acerca do tema, a menor importância político-comercial do estado da Bahia e a maior atenção dada ao Rio de Janeiro, então capital federal, tanto pela elite quanto pelos meios de comunicação em massa, possam ter contribuído significativamente para que esse “avô” do samba carioca tomasse contornos de “primo pobre”. Todavia, mesmo sem a projeção do seu afluente famoso, e sobrevivendo bravamente ao seu declínio ao longo das décadas, o samba de roda permaneceu vivo, mas esteve agonizante.

As gerações mais jovens do recôncavo passaram a enxergar a dança como uma tradição antiga, a qual não lhes representava, não mais fazia sentido. A morte de Clarindo dos Santos, em 1980, levou consigo o último artesão conhecido das violas de samba, parte fundamental da essência desse ritmo, segundo os próprios tocadores, os quais indicaram que, sem as violas, parte do encanto se perderia.

Mas afinal, no que consiste esse samba?

“O samba de roda é uma manifestação

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