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Resenha Do Texto "Os ‘usos Culturais' Da Cultura" (MENEZES 1996)

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Por:   •  22/4/2014  •  1.922 Palavras (8 Páginas)  •  988 Visualizações

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Resenha do texto “Os ‘usos culturais’ da cultura” (MENEZES 1996)

O texto aqui analisado, uma transcrição da palestra proferida pelo Prof. Ulpiano T. Bezerra de Meneses no encerramento do Congresso Internacional de Geografia e Planejamento do Turismo (São Paulo, 1995), configura-se em uma provocativa e esclarecedora reflexão sobre aquilo que o autor denomina como sendo “usos e funções culturais”, em particular associadas ao turismo cultural. Ao longo de todo texto o autor expõe seu ponto de vista demarcando explicitamente, sempre que possível, aquilo que não é o foco de sua análise, para em seguida discutir objetivamente, a partir de exemplos ilustrativos, o que seria o “uso cultural da cultura”.

Seguindo esta estratégia o autor inicia o texto listando empregos e concepções completamente inadequadas de “usos de cultura”, tais como aquelas que ligadas a “demarcação de fronteiras”, de “base para sustentação do status” e de “alimentação de prestígio”, de “vetor de alienação” associado ao consumo em uma sociedade capitalista. Ressalta o autor que cultura “não é externa aos sujeitos sociais”, mas está em todos lugares, incorporada “à vida social”. De forma sumária é mapeado o campo da cultura para que se perceba o quanto os conceitos e definições podem ser numerosos, diversos e abrangentes. Entretanto Meneses ressalta que a “problemática da cultura” diz respeito à “produção, armazenamento, circulação, consumo, reciclagem, mobilização e descarte de sentidos, de significações”, levando diretamente aos valores inseridos em um “circuito de vida social”, fazendo portanto com que a cultura englobe aspectos materiais e não-materiais, configurando cultura como “uma condição de produção e reprodução da sociedade”.

Para esclarecer o enfoque proposto, o autor apresenta e problematiza quatro proposições, que são: 1) “a cultura é o universo da escolha, da seleção, da opção”; 2) “sendo o universo da cultura um universo historicamente criado, os sentidos e valores que o sustentam precisam ser explicitados, declarados, propostos”; 3) “o valor cultural não está nas coisas, mas é produzido no jogo concreto das relações sociais”; 4) “as políticas culturais devem dizer respeito à totalidade da experiência social e não apenas a segmentos seus privilegiados”.

No tocante a primeira proposição, é traçado um paralelo entre o comportamento cultural e o comportamento biológico. Apesar de ter claro que a dicotomia homem/animal é reducionista, Meneses se vale desta oposição para buscar distinguir “dimensões culturais” e “não-culturais” presentes na organização da vida. Assim, argumenta o autor, que a resposta dos animais frente as suas necessidades biológicas não geram uma heterogeneidade de situações tal como ocorre com a experiência humana, onde “as necessidades são formuladas simbioticamente com as representações que se faz delas”, gerando “respostas [...] que se elaboram absorvendo sentidos e valores”. Ou seja, “as escolhas [...] dependem das significações que lhes atribuímos e dos juízos de valor com que as hierarquizamos”, fazendo com que a articulação entre necessidade e resposta se dê por uma mediação simbólica, esta considerada como a “instância da cultura”, uma “forma de proceder no interior profundo de todas as necessidades”.

É nesta altura do texto que o autor traz um exemplo rico e esclarecedor sobre esta primeira proposição, particularmente interessante para uma estudante de gastronomia, como é o meu caso. Meneses analisa os significados associados ao ato de alimentar-se para além do nutrir-se, contrapondo duas situações contrastantes: um banquete e um lanche. O autor primeiramente mostra que é possível distinguir estas duas modalidades de refeições a partir de pelo menos quatro critérios: 1) “momentos e duração (que envolvem disponibilidades diferenciais de tempo)” ; 2) “recursos pressupostos (os investimentos requeridos, materiais ou não)”; 3) “lugares e equipamentos (a exigir, por exemplo, competência de acesso e manuseio, suponhamos, dos diferentes talheres, pratos e copos)”; 3) “conteúdos (as matérias-primas, formas de preparo, ordem, combinações, alternativas possíveis ou impossíveis)”; 4) e “padrões de atuação corporal e de sociabilidade (etiqueta, indumentária, etc)”. Demostra assim que a forma de alimentar-se se estrutura e desenrola segundo representações simbólicas. Por outro lado, argumenta o autor, a forma com que nos alimentamos “se destina a produzir, reforçar e fazer circular sentidos e valores”, uma vez que “participar de um banquete é distinguir-se das pessoas que dele não podem ou não devem participar”. Ou seja, alimentar-se, do ponto de vista simbólico, é uma via de mão dupla, no tocante à adequação e criação de sentidos e valores. Desta forma, conclui Meneses, a “natureza das necessidades humanas [...] é instituída segundo contextos específicos e como decorrência de escolhas e seleções. Deriva daí a amplitude de formas, objetivos, produtos, consequências e, mais ainda, a possibilidade permanente de mudanças”, associando por consequência o “direito à cultura” ao “direito à diferença”, tão necessários em uma mundo globalizado, guiado por leis de mercado e levado a homogeneização, onde o turismo (e por que não a gastronomia?) pode desempenhar um papel de ser “fonte fecunda de renovação”.

A segunda proposição defende que os valores culturais decorrem da ação social, e portanto estão imbricados nas relações de poder entre os indivíduos, o que faz ressaltar o “carácter político” de tal perspectiva. Portanto o “conflito deve ser considerado não apenas como ingrediente normal da cultura, mas ainda como instância geradora, força motriz”. Desta forma o autor tece uma crítica em relação a políticas culturais que tenham funções “anestésicas, de harmonização e integração social” que atendem a “interesses hegemônicos”.

Na terceira proposição o autor deixa claro que os “valores que qualificam os objetos, práticas e ideias não são imanentes”, não surgem deles próprios. Ou seja, uma pintura ou uma escultura não podem ser analisadas do ponto de vista de suas propriedades físico-químicas, mas de suas representações simbólicas ao longo do tempo. Assim, Meneses defende que o “chamado patrimônio cultural” deveria ser “identificado e entendido” a partir do “conhecimento sobre os circuitos de produção e consumo de sentido e valor” associados a ele dentro de uma sociedade, ressaltando assim não as coisas em si, mas “as relações da sociedade com as coisas e, mais ainda, nos homens entre si, na sociedade”, opinião

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