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Resumo Raízes Do Brasil

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Por:   •  9/10/2014  •  9.383 Palavras (38 Páginas)  •  408 Visualizações

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O texto abaixo é uma versão resumida do livro “Raízes do Brasil” Sérgio Buarque de Holanda. Para a realização de tal resumo foram utilizadas quase que completamente as próprias palavras de Sérgio Buarque de Holanda.

Capítulo 1- Fronteiras da Europa

A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território é o fato dominante e mais rico em conseqüências nas origens da sociedade brasileira. Somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Todo o fruto do nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.

Caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e idéias de que somos herdeiros.

É significativa a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos.

Foi a partir da época dos descobrimentos marítimos que os dois paises entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história. Surgiu assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria quase à margem das congêneres européias.

Ressalta-se uma característica bem peculiar à gente da península ibérica em relação às outras gentes da Europa. Nenhum desses vizinhos soube desenvolver essa cultura da personalidade da gente hispânica. Pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes, devem os espanhóis e portugueses muito de sua origem nacional. O índice de valor de um homem infere-se da extensão em que não precise depender dos demais, em que não necessite de ninguém, em que se baste. Cada qual é filho de si mesmo, de seu esforço próprio, de suas virtudes.

Os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente. As iniciativas, mesmo quando se quiseram construtivas, foram continuamente no sentido de separar os homens, não de os unir.

Erram profundamente aqueles que imaginam na volta a certa tradição, a única defesa possível contra nossa desordem. As épocas vivas nunca foram tradicionalistas por deliberação.

Portugueses e espanhóis parecem ter sentido a irracionalidade, a injustiça social de privilégios, sobretudo hereditários. O prestigio pessoal manteve-se continuamente nas épocas mais gloriosas da história das nações ibéricas.

Nunca chegou a ser rigorosa e impermeável a nobreza lusitana. Esta jamais logrou constituir uma aristocracia fechada; a generalização dos mesmos nomes a pessoas das mais diversas condições não é fato novo; explica-o a troca constante de indivíduos, de uns que se ilustram, de outros que voltam à massa popular donde haviam saído.

Havia homens da linhagem dos filhos d’algo em todas as profissões. A comida do povo não se distinguia muito da dos cavalheiros nobres; estavam em continuas relações de intimidade; os nobres lhes entregavam a criação dos filhos.

Porque não teve excessivas dificuldades a vencer, por lhe faltar apoio econômico, a burguesia mercantil não precisou adotar um novo modo de agir e pensar, ou instituir uma nova escala de valores. Procurou, antes de associar-se às antigas classes dirigentes, assimilar muitos dos seus princípios, guiar-se pela tradição. Os elementos aristocráticos não foram completamente alijados e as formas de vida herdadas da Idade Média conservaram, em parte, seu prestígio antigo.

A autêntica nobreza há de depender das suas forças e capacidades, pois mais vale a eminência própria do que a herdada. A abundância dos bens, os altos feitos e as altas virtudes, suprem a linhagem de sangue.

Nas nações ibéricas o princípio unificador foi sempre representado pelos governos que nos tempos modernos, encontrou uma das suas formas características nas ditaduras militares.

Jamais se naturalizou entre gente hispânica a moderna religião do trabalho. Uma digna ociosidade sempre pareceu mais excelente a um bom português, ou a um espanhol, do que a luta insana pelo pão de cada dia. O que ambos admiram como ideal é uma vida de grande senhor, exclusiva de qualquer esforço, de qualquer preocupação. O ócio importa mais que o negócio; a atividade produtora é menos valiosa que a contemplação e o amor.

Também se compreende que a carência dessa moral do trabalho se ajustasse bem a uma reduzida capacidade de organização social. Não admira que fossem precárias, nessa gente, as idéias de solidariedade. Essa, entre eles, existe somente onde há vinculação de sentimentos. À exaltação da personalidade só pode haver uma alternativa: a renúncia a essa mesma personalidade em vista de um bem maior. Por isso mesmo que rara e difícil, a obediência aparece algumas vezes, para os povos ibéricos, como virtude suprema entre todas. A vontade de mandar e a disposição para cumprir ordens são-lhe igualmente peculiares. As ditaduras e o Santo Ofício parecem constituir formas tão típicas de seu caráter como a inclinação à anarquia e à desordem.

É em vão que temos procurado importar dos sistemas de outros povos modernos, ou criar por conta própria, um substituto adequado, capaz de superar os efeitos de nosso natural inquieto e desordenado. Toda cultura só absorve em geral os traços de outras culturas, quando estes encontram uma possibilidade de ajuste aos seus quadros de vida. Nem o contato e a mistura com raças indígenas ou adventícias fizeram-nos tão diferentes dos nossos avós de além-mar como às vezes gostaríamos de sê-lo. No caso brasileiro, a verdade é que ainda nos associa à península ibérica, a Portugal, uma tradição longa, bastante viva para nutrir, até hoje, uma alma comum, a despeito de tudo quanto nos separa. Podemos dizer que de lá nos veio a forma atual de nossa cultura.

Capítulo 2 – Trabalho & Aventura

Essa exploração dos trópicos não se processou por um empreendimento metódico e racional, fez-se antes com desleixo e certo abandono.

A colonização holandesa não nos teria levado a melhores e mais gloriosos rumos.

Dois princípios se combatem e regulam as atividades dos homens. Encarnam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador.

Para o aventureiro, o objeto final assume relevância tão capital que chega a dispensar todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore.

O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não

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