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A Língua de Eulália

Por:   •  25/4/2017  •  Resenha  •  2.620 Palavras (11 Páginas)  •  352 Visualizações

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BAGNO, Marcos. A língua de Eulália - novela sociolinguística. São Paulo: Editora Contexto. 2001. 215p.

A língua de Eulália traz explicações linguísticas em forma de novela, onde o autor, Marcos Bagno, cria um cenário onde três jovens universitárias - Vera, estudante de Letras, Sílvia, de Psicologia e Emília, de Pedagogia - recebem “aulas” durante suas férias em Atibaia, interior de São Paulo, da linguista e professora universitária Irene, tia de uma das garotas, que apesar de aposentada ainda continua seus estudos, pesquisas e a dar aulas. A razão para tal “curso extensivo” de sociolinguística veio do conceito pré-concebido e preconceituoso que as jovens tinham em relação à linguagem coloquial, tida como “errada” e engraçada da empregada e amiga de Irene, Eulália, e então, decidiram transformar aquele tema em “aulas” diárias durante a permanência delas por lá. Utilizando de seus estudos para seu livro, Irene mostra as “regras” que norteiam a linguagem coloquial de maneira bem dinâmica para envolver as garotas na desconstrução do preconceito linguístico.

Como introdução, Irene lança às garotas a questão: “Quantas línguas se fala no Brasil?”, levando assim à ideia de que não é apenas na língua portuguesa, mas em todas, além da linguagem padronizada, existem variações. Desmistifica também a ideia de uma unidade linguística, a qual somos acostumados enquanto estudantes que foram ensinados a seguir e usar a norma padrão como a forma “correta” de linguagem.

A historia do nascimento dessa forma “correta”, o Português Padrão (PP), foi devido às mudanças de centralização econômica e politica do Brasil: com a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763 por conta da exploração do ouro em Minas Gerais e a cidade do Rio de Janeiro possuir o porto mais próximo para as exportações, além da industrialização crescente de São Paulo no século XX, fez com que a linguagem usada nesse triângulo – Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais – fosse usada como o modelo de língua Padrão, e estigmatizando a fala dos que vivem mais ao norte e nordeste do país como “errada” e “engraçada”.

Dessa forma, a linguagem de Eulália é um falar diferente, não um falar “errado”, pois é uma ___________________________

¹ Graduando do IV semestre de Letras Vernáculas da Universidade do Estado da Bahia DCHT Campos XX.

variação, que cada falante possui como um jeito pessoal de expressar de acordo com fatores externos ou internos, conforme as diferenças de sexo, classe social, etnia, posição geográfica e entre outros. Além disso, não é apenas no português que estas variações linguísticas ocorrem, mas em outras línguas, como francês, espanhol e inglês, existem esse fenômeno, ou seja, é uma característica inerente a qualquer língua. Essa variedade linguística de Eulália é conhecida como português não padrão (PNP).

Por o PNP não se enquadrar à norma-padrão ele tende a ser motivo de preconceito linguístico, por essa linguagem que foge dos padrões gramaticais estabelecidos serem normalmente usada por pessoas de classes econômicas mais baixas, e é por isso que ele é menos valorizado. Porém, o PNP além de possuir mais semelhanças com o PP do que diferenças, também possui uma rica bagagem de regras e lógicas coerentes que de certa forma “determina” o uso dessa linguagem natural, e a partir daí que as aulas de Irene para as garotas tomam o rumo de tentar explicar cada uma dessas regras do PNP e as diferenças que há entre ele e o PP.

O curso intensivo se desloca daquela reunião durante a noite para a “escolinha”, um cômodo utilizado por Irene para desenvolver suas aulas de alfabetização. E a primeira “regra” do PNP apresentada e explicada por Irene nessa aula é do comum caso da tendência da nossa língua latina em transformar o L dos encontros consonantais em R, dado o nome a esse fenômeno de Rotacismo, visto que no PNP não existem encontros consonantais com L, dando origem a palavras como Broco e Pranta.

Em outro momento, Irene apresenta às garotas o quanto o PNP é uma língua econômica com a eliminação das marcas redundantes de plural, apresentando como exemplo a musica Cuitelinho da Nara Leão para demonstrar que as regras que constituem o PNP tendem a economizar ainda mais a fala com a redução dos excessivos plurais em uma oração apresentando somente a marca do plural no artigo ou no substantivo que a introduz.

Há também o caso da transformação da pronuncia do som consonantal LH em I, pela maior proximidade e comodidade em pronunciar o I, e novamente comparando o PNP com outras línguas, destaca que fato semelhante também ocorre no francês e espanhol, levando o nome de Yeísmo, onde nessas línguas o LL pronuncia I.

A partir das desconstruções desse mito da unidade linguística que o ambiente escolar perpetua - colocando o PNP como uma linguagem deficiente, e o PP a forma linguística perfeita - Irene diferencia duas palavras de origem latina: Ensinar, que em latim é “insīgno”, correspondente a “pôr uma marca, um signo (sinal)”, implicando uma ação de implantar, de fora pra dentro; e Educar, do latim “edŭco”, ou seja, “trazer para fora, tirar de, dar à luz”, sendo um movimento oposto ao de “Ensinar”; apontando que tais significados indicam que o uso de cada palavra determina a ação dos professores ao transmitir a gramatica do português padrão (PP) para os alunos, apontando que o certo é transmitir o conhecimento de fora para dentro, sendo assim mais apropriado a utilização do termo “Educar”.

Em outra aula é explicado o caso das simplificações das conjugações verbais demonstrando que enquanto no PP os verbos são conjugados de acordo com cada pessoa verbal, no PNP são reduzidas, a exemplo do verbo “Amar”: (Eu Amo, Tu ama, Ele ama, Nós/A Gente ama etc.), mostrando assim que da segunda pessoa verbal em diante a conjugação permanece igual, diferente apenas da primeira, enfatizando a motivação psicológica do ser humano de se distinguir dos outros.

Outra tendência natural da língua falada é chamada de Assimilação, que é a força que tenta fazer com que dois sons diferentes, mas produzidos na mesma zona de articulação, se transforme em um único som, igual ou semelhante, como ocorre em “comeno” ou “cantano”, onde o /n/ e o /d/ fazem parte da mesma família de consoantes, as dentais, ou seja, mesmo local de articulação, assim como o /m/ e o /b/ que são bilabiais e a redução se encontra em “mucado” de “bocado”, explicando assim a tendência econômica da língua na pronuncia e a importância da assimilação

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