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A Voz Crítica No Conto De Luandino Vieira "A Fronteira De Asfalto" E "Arte Poética" De João Melo

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Por:   •  23/3/2014  •  1.098 Palavras (5 Páginas)  •  7.045 Visualizações

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Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas

Disciplina: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa VI - Poesia

A voz crítica no conto de Luandino Vieira “A fronteira de asfalto” e

“Arte Poética” de João Melo

Quando se decide focar na construção das identidades culturais do povo africano dificilmente se escapa da problemática da configuração da identidade do sujeito que se situa em um tempo e em um espaço marcado pela descolonização tardia. O aparecimento das literaturas de língua portuguesa na África é resultado de um longo processo histórico de quase quinhentos anos de assimilação além de um processo de conscientização que se iniciou nos anos 40 e 50 do século XIX. Este processo está relacionado com o grau de desenvolvimento cultural nas ex-colônias e com o surgimento de um jornalismo por vezes ativo e polêmico que, destoando do cenário geral, se pautava numa crítica severa ao sistema colonial. Em parte destas manifestações literárias é possível constar uma produção literária que se inspirava em modelos europeus, mas também com amostras dos costumes tradicionais.

Os escritores em Moçambique, Cabo Verde, Angola e São Tomé e Príncipe conviviam, até então, no meio de duas realidades às quais não podiam ficar alheios: a sociedade colonial e a sociedade africana. A escrita literária expressava a inquietação existente entre esses dois mundos e revelava que o escritor, por sempre utilizar uma língua europeia, era um homem de dois mundos, e a sua escrita, de forma mais intensa ou não, registrava a tensão nascida do uso da língua portuguesa em realidades bastante complexas. Ao produzir literatura, os escritores transitavam pelos dois mundos, assumindo o legado herdado de movimentos e correntes literárias da Europa e das Américas e as manifestações providas do contato com as línguas locais. Se no início a primeira corrente literária nos países africanos caracterizava-se por uma quase alienação sem que os textos tivessem qualquer ligação com a realidade local, no segundo momento, o escritor começa a manifestar a percepção da realidade. O seu discurso revela influência do meio, bem como os primeiros sinais de sentimento nacional: a dor de ser negro.

O conto de José Luandino Vieira, “A fronteira de asfalto”, inserido em uma coletânea de contos intitulada “A Cidade e a Infância” representa bem a produção literária do período anterior à independência de Angola. Neste conto, duas crianças, uma negra e uma branca, crescem juntas e, quando atingem a adolescência, sofrem grande pressão por parte da sociedade branca para que se afastem, acabando o jovem negro por morrer devido a um mal entendido.

Enquanto Infância simboliza a pureza do não corrompido, do genuíno, do espaço original não dividido, a Cidade remete-nos para o bairro branco, símbolo de opressão colonial de separação, de imposição. Esta simbologia, bem presente no povo africano, faz com que cidade e infância sejam dois conceitos opostos, visto que com a chegada da cidade surge o musseque, bairros suburbanos de Luanda ocupados pela população pobre, e assim sendo, as condições para a infância deixam de existir.

Em todo o seu conjunto, o conto assume uma voz crítica da consciência angolana e já no título “A fronteira de asfalto” a verdadeira divisão que existia entre os dois territórios, entre o bairro branco e o musseque, remete-nos diretamente para uma fronteira visível, o asfalto, símbolo do sistema colonial e progresso e o musseque , espaço marginalizado e símbolo de divisão étnico-social.

O texto é construído na dualidade, o positivo e o negativo, o bem e o mal, o masculino e o feminino. A descrição da personagem feminina principal, Marina, com suas tranças loiras, pele branca e olhos azuis aparece-nos ainda ligada ao colonialismo.Porém o interessante na caracterização de Ricardo, o outro protagonista do conto, é que está é feita, na sua maioria, como pelo universo branco “ .... um pretinho muito limpo e educado, no dizer de tua mãe…” .

No livro de Leila Leite Hernandez A África na sala de aula (2005), a autora desenvolve um estudo sobre principais questões envolvendo as histórias do continente africano:

A partir do momento em que foram utilizadas as noções de “branco” e “negros” para nomear, de forma genérica, os europeus colonizadores e os africanos colonizados, os segundos têm de enfrentar uma “dupla servidão”: como ser humano e no mundo do trabalho. O negro, marcado pela pigmentação da pele, transformado

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