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ANÁLISE DA PERSONAGEM AMARANTA E A CONSTRUÇÃO DE SUA IDENTIDADE NA OBRA “CEM ANOS DE SOLIDÃO”

Por:   •  4/7/2018  •  Trabalho acadêmico  •  3.187 Palavras (13 Páginas)  •  699 Visualizações

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ANÁLISE DA PERSONAGEM AMARANTA E A CONSTRUÇÃO DE SUA IDENTIDADE NA OBRA “CEM ANOS DE SOLIDÃO”

Cem anos de solidão, título de Gabriel García Márquez, considerado um importante e talentoso escritor do século XX. Obra reconhecida como melhor Romance Estrangeiro de 1969 na França.

O presente artigo consiste na análise da construção da identidade e o papel da personagem Amaranta. Terceira filha de José Arcádio Buendía e Úrsula Iguaraní, os fundadores de Macondo, cidade que o narrador cria para construir a história da estirpe Buendía. Família que dá vida e protagoniza o desenrolar da história que vai de romances melancólicos nunca resolvidos, a guerras.

Em uma breve análise do título, percebe-se que o autor utiliza-se imensamente de diversos modos de tempo, pois coloca ali, juntos tempo e sentimento, como se este último tivesse um tempo literal de duração, o que nos leva a definir o tempo do título deste romance como psicológico, levando em conta que solidão é um sentimento. Seguindo esta linha de raciocínio percebe-se a ambiguidade nesse título, visto que se separarmos o fragmento “cem anos” causa a sensação de tempo cronológico, mas, “cem anos de solidão” pode ser pensado diferente, uma vez que pensando em solidão como sentimento, este pode ter durado mais ou menos que cem anos em tempo real, e então relacionando a história com o título pode-se concluir de fato, tal pensamento, pois é evidente que durou mais de cem anos em tempo cronológico, comprovado pelo trecho que relata o fim da personagem de Úrsula. “Amanheceu morta na quinta-feira santa. Na última vez que a ajudaram a fazer as contas da sua idade, na época da companhia bananeira, calcularam-na entre os cento e quinze e os cento e vinte e dois anos” (MÁRQUEZ, 1967 pág. 190).

É importante esta breve verificação, considerando os diversos modos de tempo que o narrador utiliza, uma vez que auxilia na compreensão da personagem Amaranta.

A classificação estrutural descrita é devida as inúmeras escolhas que a personagem realiza dentro da história, cada uma carregada de consequências e alto grau de complexidade. O fato de constantemente mudar seus ideais durante a narrativa, saindo de uma ardente paixão que nasce na adolescência à opção pela castidade na fase adulta, ou a optar por cuidar do sobrinho e tomar conta dos afazeres de casa são trechos de seu desenvolvimento que confirmam a sua forma estrutural.

Essas mudanças ocorridas na sua adolescência, viver uma paixão inconcebível pelo personagem de Pietro Crespi, fazendo-a desenvolver um forte sentimento de ódio pela irmã adotiva, por ter sido escolhida pelo seu amado ao invés dela, criando então um conflito entre as duas deixando Rebeca, a noiva com sentimento de temor em relação à irmã, sentimento que mais tarde percebe-se que passou de temor à uma rivalidade incurável, podendo ser verificado no seguinte trecho: “Só Rebeca era infeliz com a ameaça de Amaranta” (MÁRQUEZ, 1967 pág. 45).

A partícula “só” utilizada aqui, reafirma o dito de antes, se somente Rebeca se sentia infeliz diante de Amaranta, não temos dúvidas de que o ódio que nasceu entre elas era irremediável.

Verificamos também o episódio onde Rebeca sente infelicidade com as atitudes de Amaranta. Neste contexto, percebemos o sentimento de culpa, por desejar tanto e até planejar a morte de Rebeca, inclusive evitando o casamento com seu então amado, Pietro Crespi. E para acentuar ainda mais a situação, o narrador tem intuitivamente o cuidado para que Remédios venha a falecer justamente quando apresenta a fase, de dor e ódio de Amaranta, vejamos:

“Uma semana antes da data marcada para o casamento, a pequena Remédios acordou à meia-noite, ensopada por uma caldo quente que explodira nas suas entranhas com uma espécie de arroto rasgante, e morreu três dias depois, envenenada pelo próprio sangue, com um par de gêmeos atravessados no ventre. Amaranta sofreu uma crise de consciência. Tinha suplicado a Deus com tanto fervor que algo de pavoroso acontecesse para não ter de envenenar Rebeca que se sentiu culpada pela morte de Remédios. Não era esse o obstáculo que tinha suplicado tanto” (MÁRQUEZ, 1967 pág. 51).

Percebe-se claramente a intenção da personagem Amaranta em matar Rebeca, principalmente onde o narrador diz que ela suplica uma solução para que não precisasse agir envenenando Rebeca.

No decorrer da história, o casamento que Amaranta tanto repudiava não acontece, trazendo Pietro Crespi aos seus pés. Diante dessa parte, identificamos um pouco da frieza da personagem, pois as atitudes de Amaranta para com Pietro são irreconhecíveis a frente daquela mocinha apaixonada que foi apresentada no início da história. Neste caso o narrador traz à tona uma das reviravoltas na vida da personagem, e aos próprios sentimentos dela, criando um rancor irreparável onde toma atitudes que de certa forma nos faz duvidar de sua sanidade mental. Observando o trecho onde Amaranta opta pela castidade e queima as próprias mãos em forma de mutilação, se torna evidente que ela está destinada a viver presa em suas lamúrias e a guardar para sempre a marca desse amor que jamais virá a se concretizar, pois tamanha foi a sua frieza que seu amado comete suicídio.

Após ser criada a identidade rancorosa de Amaranta, a personagem passa a viver em seu mundo frio e duro, negando-se a se entregar a qualquer amor pelo resto de sua existência e evitando qualquer tipo de afeto. E quando surge a possibilidade de um sentimento maior que sua frieza, ela o repudia. Verificado na seguinte parte: “Ela o repeliu com uma determinação inflexível, inequívoca, e passou a chave para sempre no quarto” (MÁRQUEZ, 1967 pág. 86).

Esta circunstância trata-se de mais uma emaranhada paixão, vivida com seu sobrinho, o que ela decidiu tomar o lugar de mãe e criar. Se observarmos a atitude de passar a chave no quarto para sempre, presenciamos o quão reveladora ela é, percebemos a ideia que se concretiza no fim da personagem, sepultada pura, trazendo também, também a realidade dos sentimentos dela. Uma vez que, decidiu não se trancar de fato no quarto para sempre, mas sim fechar qualquer espaço que permitisse a possibilidade de florescer um sentimento ou desejo.

Durante todo o momento temos a impressão que Amaranta é muito convicta em suas decisões, assim podemos de certa forma afirmar que especialmente com essa personagem o narrador faz jus ao título da obra, “solidão”.

A realidade de Amaranta é cercada desse sentimento solitário, ocre. E para refugiar-se de si mesma ela acaba por assumir os afazeres domésticos já antes mesmo de ser tentada pelo sobrinho, mas esse ato de ajudar Fernanda não é apenas caridade, e sim fuga, uma fuga de tudo o que ela já passou, que ela marcou com a queimadura nas mãos e a atadura preta, que mantém para lembrar-se a cada instante da sua decisão de se manter casta até o fim de seus dias. Importante ressaltar a cor da atadura que usa, preto, para fazer alusão a um luto eterno, destacado como marca forte da personagem.

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