Análise do conto “Ah, é?”- Dalton Trevisan

Análise do conto “Ah, é?”- Dalton Trevisan

Ah, é?

Mal a pobre se queixa:

- Ai, que vida infeliz.

Ele a cobre de soco e pontapé.

- E agora? Está se divertindo?

Apanha ela (grávida de três meses) e apanham as cinco pestinhas. Uma das menores fica de joelhos e mão posta:

- Sai sangue, pai. Não com o facão, paizinho. Com o facão, dói.

Reflexões:

Neste texto de Dalton Trevisan cria um discurso em terceira pessoa. Do ponto de vista do narrador, o homem é um ser superior à mulher e têm direitos e poderes absolutos sobre ela e a família.

O personagem do marido aqui é retratado como alguém onipotente que não admite questionamentos quantos às suas ações. Apresenta comportamento machista, intolerante e agressivo.

A esposa é submissa e infeliz. Provavelmente acredita mesmo que seja inferior ao marido e é incapaz de esboçar qualquer reação, nem mesmo para proteger o filho que carrega no ventre.

A filha pequena está confusa e apavorada. Tenta evitar um sofrimento ainda maior ao pedir ao pai que não use um facão para punir a família.

O tom da narrativa é trágico e perverso. O leitor pode sentir a dor da mulher, a crueldade do homem e o pavor da criança.

O conto é carregado de ironia. A figura de linguagem se apresenta no trecho em que o homem espanca a mulher e pergunta se ela está se divertindo.

A narrativa traz o tema da violência doméstica e, ao longo do conto, mostra como a mulher permite esta violência e não tem a coragem de denunciar o marido.