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As Perspectivas da etnográfica

Por:   •  10/7/2017  •  Artigo  •  2.733 Palavras (11 Páginas)  •  193 Visualizações

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Pelas perspectivas da etnografia que, em termos gerais, refere-se à descrição de uma cultura ou, mais precisamente, à descrição, à interpretação e à compreensão do comportamento comunicativo e cultural de um grupo. O alvo maior da pesquisa etnográfica é apreender o modo de vida ou a visão de mundo desse grupo em particular a partir do ponto de vista de seus sujeitos (Spradley, 1980). Nesse sentido, a pesquisa etnográfica é vista como provedora de dados empíricos acerca de como as pessoas se comportam em situações específicas, tais como o contexto cultural da sala de aula. Neste universo, o estudo etnográfico nos auxilia na compreensão do modo como as experiências culturais dos aprendizes influenciam sua aprendizagem e, por conseguinte, a cultura da própria sala de aula. As informações advindas desse processo ajudam a explicar como determinadas suposições e valores culturais modelam as interações, ou mesmo promovem problemas de comunicação, podendo levar os participantes da sala de aula a atitudes diversas no que concerne à situação de aprendizagem (Spradley, 1980; Johnson, 1992, 1993; Spindler e Spindler, 1992; Shaul e Furbee, 1998; André, 2005).

A etnografia não é meramente o estudo sobre as pessoas, é antes de tudo, uma aprendizagem que ocorre a partir do que essas pessoas representam. (grifos do autor)

(Spradley, 1980, p. 3)

3.1 A etnografia e suas origens

        A compreensão do termo etnografia exige-nos, primeiramente, o conhecimento de suas origens, as quais se encontram na antropologia.[1] Literalmente, a palavra grafia, proveniente do verbo grego graphé, significa escrever, e etno, proveniente do substantivo grego éthnos, refere-se à nação, tribo ou pessoas (Erickson, 1984). Sendo assim, é possível encontrarmos definições do tipo: a etnografia é a escrita sobre as nações (Erickson, 1984), ou mais sistematicamente, a etnografia é a descrição de culturas ou de grupos de pessoas que são percebidas como portadoras de um certo grau de unidade cultural (Cançado, 1994);

        Por volta do final do século XIX e início do século XX, as muitas sociedades reconhecidas como “primitivas”, por se diferenciarem da civilização européia da época, eram investigadas pelos chamados “antropólogos de gabinete”, pois seus estudos baseavam-se, sobretudo, nos relatos de viajantes e exploradores dos povos então considerados “selvagens” (Malinowski, 1976). A ruptura com o desejo de explicar as formas culturais e a evolução do homem europeu a partir da observação do comportamento dos chamados “povos não civilizados” veio com a pesquisa etnográfica de Malinowski (1976),[2] a qual se constituiu um marco para os estudos antropológicos, tendo em vista o fato de ele ter se lançado na prática do trabalho de campo em um pequeno arquipélago da Nova Guiné. Malinowski (1976) inaugurava, desse modo, uma nova concepção de pensamento, visto que, ao considerar que uma sociedade deveria ser estudada levando-se em conta sua totalidade histórica, independente das “grandes civilizações”, esse etnógrafo fez com que a antropologia se tornasse a ciência da alteridade, da diversidade e das singularidades que compõem o universo simbólico de cada cultura.[3] 

        Diante de tais fatores, vemos, portanto, que a visão construída por Malinowski (1976, p. 22) acerca de sua própria pesquisa é a de que,

[n]a etnografia, o autor é, ao mesmo tempo, o seu próprio cronista e historiador; suas fontes de informação são, indubitavelmente, bastante acessíveis, mas também extremamente enganosas e complexas; não estão incorporadas a documentos materiais fixos, mas, sim, ao comportamento e memória de seres humanos.

        Em razão do trabalho de Malinowski (1976) e de muitas de suas atribuições conferidas à etnografia contemporânea, atualmente nos é possível realizar estudos etnográficos em diferentes contextos, implicando, assim, no fato de que a unidade de análise do etnógrafo não precisa ser, necessariamente, uma nação ou uma determinada região, mas, sim, “qualquer entidade que engloba relações sociais reguladas por costumes” (Erickson, 1984, p. 52 – grifos do autor). Em outras palavras, a pesquisa etnográfica tem sido adotada em universos que vão desde a família, uma comunidade, um grupo de trabalhadores e outros contextos, até a escola e, particularmente, a sala de aula (Spradley, 1980; Erickson, 1984; Van Lier, 1988; Watson-Gegeo, 1988; Johnson, 1992; Nunan, 1992; Spindler e Spindler, 1992; Wolcott, 1992; Cançado, 1994; Fetterman, 1998; André, 2005), como veremos a seguir.

3.2 A etnografia e a abordagem qualitativa em sala de aula

        Como foi dito anteriormente, a sala de aula também pode ser palco de uma pesquisa etnográfica e, mais precisamente nos últimos tempos, muitos pesquisadores têm optado por esse método de investigação na sala de aula de L2/LE, como é o caso de Cançado (1994) ao pesquisar uma sala de aula de português como língua estrangeira; Miccoli (1997), que investigou as experiências de alguns aprendizes universitários de inglês como língua estrangeira; e Rees (2003), cuja pesquisa foi realizada na sala de aula de literatura americana na universidade.

 Dentre os estudos que optam pelas diretrizes da abordagem etnográfica, muitos se classificam como simplesmente etnográficos, e outros procuram deixar claro de que se trata de uma pesquisa do tipo etnográfico, visto que, como enfatiza André (2005, p. 28), “o que se tem feito, pois, é uma adaptação da etnografia à educação, o que me leva a concluir que fazemos estudos do tipo etnográfico e não etnografia no seu sentido estrito”.

Por uma simples questão de nomenclatura, para o presente estudo adotaremos os termos pesquisa ou investigação etnográfica, por acreditarmos que o seu perfil segue os critérios etnográficos de investigação. Sabemos, no entanto, que a etnografia possui na antropologia as suas raízes e que muitas técnicas, tais como a longa permanência do pesquisador no campo, não se mostram, muitas vezes, viáveis para o etnógrafo da educação (André, 2005). De acordo com Erickson (1984), os exemplos trazidos por Malinowski (1976) através de sua experiência etnográfica representam, para a nova geração de etnógrafos, uma espécie de paradigma, que não pode ser esquecido, mas que não se mostra apropriado para uma realização em seu sentido literal. Reafirmando essa questão, Wolcott (1992, p. 38) destaca que

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