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CORDEL: ENTRE A VIOLA E O IMPRESSO

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Por:   •  5/8/2014  •  4.561 Palavras (19 Páginas)  •  466 Visualizações

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CORDEL: ENTRE A VIOLA E O IMPRESSO

Maurílio Antonio Dias de Sousa

RESUMO

O objetivo deste artigo é explicar o surgimento da literatura de cordel no nordeste brasileiro, discutindo aspectos históricos, culturais e estruturas poéticas referentes à publicação do folheto no universo da poesia popular. Constata-se o alto grau de concentração das atividades editorias em torno da figura do poeta-editor que ocupando posição central no universo dessas relações produtivas e que detém um considerável poder de interferir nas diversas etapas da editoração e publicação do cordel.

Palavras-chave: Literatura de cordel. História. Estrutura poética. Editoração.

RÉSUMÉ

Le but de cet article este de expliquer le surgimento de la littérature du cordel au nordest brésilien en discutant des aspects historiques, culturaux et structures poétiques concernant à la publication d’un livret dans la poésie populaire. On constate le plus haut niveau de concentration des activités editoriales autour du poète-éditeur, qui maintient le pouvoir d’interférer dans les plusieurs étapes de l’éditoration et publication du cordel.

MOTS-CLÉS: Littérature du cordel. Histoire. Culture. Structures poétique. Éditoration.

Introdução

O presente trabalho intitulado Cordel: entre a viola e o impresso, visa esclarecer o surgimento da literatura de cordel no Nordeste brasileiro, bem como a sua relação com a cantoria. Para conhecermos como se deu o surgimento da literatura de cordel se faz necessário que recorramos à sua história. A literatura de cordel nordestina tem suas raízes mais próximas na Península Ibérica, embora já encontremos na Europa medieval uma viva poesia oral. Mas é de Portugal que recebemos a influência inicial da nossa poesia popular, mas não só no Brasil ela se propaga por toda a América Latina ganhando denominações diversas.

Com sabemos na literatura erudita também herdamos inicialmente a influência lusitana responsável por tantos poemas à Camões, todavia, no solo cultural nordestino, o cordel se desenvolve em condições socioculturais próprias e se recria a partir de novos modelos temáticos e editoriais. Chegando assim a criar uma métrica fixa que serve como identidade de sua forma, chegando a ser pelos autores consagrados uma questão vital para o cordel, tornando-se assim objeto de rigor e zelo.

A história da editoração na literatura cordel no Nordeste brasileiro está inegavelmente relacionada com a história da imprensa e da indústria gráfica no país e na região. Não é sem razões que no alvorecer do século XX já encontramos poetas paraibanos que, na condição de empreendedores do ramo gráfico, produzem e fazem circular por toda a região, a partir de suas próprias casas editoriais.

Sem romper definitivamente com a tradição oriunda da oralidade, o cordel surge como um sistema que se apropria dos recursos industriais da modernidade e se estabelece com regras próprias gerando no seu próprio interior os mecanismos de sustentação e perpetuação.

Do interior desse sistema de publicação saem os seus principais sujeitos mantenedores, a exemplo do autor, do ilustrador, do vendedor e do editor. Cabendo a este a responsabilidade capital do funcionamento editorial. É em torno dele que a publicação do cordel vai gravitar e é a partir dele que esse sistema se firma em sua competência criadora. A competência editorial, em grande parte, é o resultado dos esforços pessoais que encontraram, por sua vez, nas regras do setor as possibilidades de se positivarem.

1.1. BREVE PANORAMA HISTÓRICO DO CORDEL

O cordel é, antes de tudo, apenas uma parte das poéticas das vozes criadas e transmitidas por meio de uma multiplicidade de gêneros: cantoria, embolada, repente, coco, aboio, entre outras manifestações. Quando se fala em cordel, refere-se em especial à poesia popular impressa, e os folhetos são, tradicionalmente, os suportes que estabelecem a materialidade dessa poesia. Entretanto, é de conhecimento de todos que o cordel significa apenas 1% da poesia realmente feita nestes moldes (LUYTEN, 1992), que é em sua maioria somente cantada por violeiros, trovadores ou cantadores espalhados por toda parte que em muito contribuirão com as suas rotas de cantoria para o futuro estabelecimento do cordel (SOUSA, 2012). Graças à materialização do canto dos cordelistas é que temos hoje o contato com sua obra. O canto que antes se movia somente junto com o corpo do poeta, hoje viaja independente dele, o que possibilita maior alcance de sua obra. (SOUSA, 2010).

Para compreendermos a presença atuante e dinâmica da literatura de cordel nos dias de hoje se faz necessário traçarmos um breve panorama histórico e elucidativo do cordel que, ao se estabelecer no universo da poesia popular, se comparado ao mundo da cantoria, “inscreve-se numa nova ordem produtiva instaurada sobre as realidades do impresso e da economia de mercado” (SOUSA, 2010, p.76). Considerando-se que o surgimento do cordel esteve diretamente ligado às condições próprias do Nordeste, com bem indica Vilma Quintela em artigo publicado em 2010:

Cumpre lembrar que a existência de um sistema literário depende não apenas de leitores e escritores ligados por uma linguagem comum, mas também de uma série de instituições sociais que o legitima ou não, definindo o lugar além ou aquém que as diversas produções literárias devem ocupar na hierarquia cultural. (QUINTELA, 2010).

O que nos sugere um entendimento inicial sobre determinados aspectos referentes ao cordel, tais como a sua relação com as narrativas já existentes, a sua própria denominação, o ambiente cultural e social da sua origem, entre outros.

1.1.1 Das origens e dos tipos

Quando iniciamos o estudo de qualquer literatura, seja grega, inglesa, alemã, portuguesa ou indiana, sempre encontramos, no momento inicial, quase que exclusivamente manifestações poéticas essencialmente anônimas, orais e destinadas ao povo como foram, por exemplo, as expressões poéticas que antecederam o início da idade heroica da poesia na Grécia Antiga (HAUSER, 2003). Assim encontramos na Europa medieval uma viva poesia oral e popular que gradativamente ia se fixando em determinadas regiões de maior confluência de pessoas, para, logo depois da invenção da imprensa, em 1450, ir se transformando

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