Impressões de uma visita a casa candomblé

Introdução

Nesta religião a comida desempenha importante papel na sua organização, na relação que se estabelece entre o fiel e seu corpo, entre eles e os orixás. Os orixás são deuses ligados às forças da natureza: vento, terra, fogo, ar, água e vegetação. As divindades mantêm relações de reciprocidade com os crentes. A contrapartida de uma boa oferenda alimentar são os cuidados que os orixás dispensam à cabeça dos seus filhos.

Se alimentar implica um ato biológico, social e cultural. O ato de comer nasce com a necessidade da sobrevivência, o que não retira significados simbólicos próprios de cada prato, tipos de ingredientes, locais de feitura e de oferecimento. O momento de de comer ou seja o ritual, sinaliza, nos mostra um momento das diferenças étnicas e profundamente antropológicas.

Nos terreiros a comida ganha dimensão valorativa, sendo estendido o alimento do corpo e também do espírito. Comer, nos terreiros, é estabelecer vínculos e processos de comunicação entre homens, deuses, antepassados e natureza. Segundo Raul Lody, é de tradição que as pessoas de terreiros de candomblé sejam as ultimas a se servir, dando preferência às visitas, em geral.

Compartilhar o alimento se traduz em uma das mais nobres atitudes que possamos ter uns para com os outros. Ainda nos terreiros de candomblé não se deve comer sozinho, especialmente os mais jovens que sempre convidam à partilha. Neste sentido, as oferendas em forma de alimento demonstram o desprendimento pelo material e aproxima o ser humano do sagrado, Busca-se, entretanto a fartura, compartilhando a força e a energia contida em cada um desses alimentos.

Metodologia

Para o desenvolvimento deste trabalho planejei em primeiro lugar como seria a metodologia da pesquisa. Como faço parte de uma casa de candomblé decidi por fazer o trabalho nesta casa acreditando que isso iria me facilitar no desenvolvimento da pesquisa, pois teria facilidade para entrar no campo de pesquisa, compreenderia mais facilmente a dinâmica do espaço, as pessoas a serem entrevistada e um conhecimento prévio da questão apresentada.

Decidi por entrevistar três pessoas no campo. Uma que tivesse um papel de liderança, a segunda que participasse do preparo dos alimentos e uma terceira pessoa que participasse daquele espaço, mas que ao mesmo tempo já tivesse uma vivencia acadêmica.

A partir da escolha dos entrevistados o próximo passo foi escolher o dia que faria as entrevistas. Decidi por fazê-las em um dos dias em que transcorria naquele espaço uma das suas festividades mais importante, a obrigação para Osossi, que é o patrono daquele espaço e foi realizada no dia em que se comemorava 28 anos da existência daquela casa.

O que a principio acreditei que seria mais fácil de ser desenvolvido por fazer parte daquele espaço, tornou-se um pouco mais complicado. Consegui um tempo das pessoas e meu também para fazer as entrevistas foi trabalhoso. E quando iniciei o processo da pesquisa quando fazia as perguntas as respostas inicialmente me pareciam muito simples.

Segundo Malinowski, as idéias preconcebidas são perniciosas a qualquer estudo cientifico; a capacidade de levantar problemas, no entanto, constitui uma das maiores virtudes do cientista.

Seguindo isto foi necessário iniciar um processo de dialogo com estas pessoas para que ao longo da conversa pudesse retirar as informações necessárias para a pesquisa.

Durante o processo das entrevistas a interrupção por outros membros da casa foi uma constante. O que me forçava a todo momento trazer a memória que naquele momento deveria me portar enquanto pesquisadora e compreender o tempo e o momento de cada um, sempre observando