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LINGÜÍSTICA HISTÓRICA - Maria Clara Paixão

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Por:   •  6/4/2014  •  2.667 Palavras (11 Páginas)  •  386 Visualizações

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1) Caminhos Percorridos

(1.1) A Lingüística Histórica nos 1800

O surgimento da “lingüística histórica” é comumente situado no século XIX, porém, o interesse pelas histórias das línguas é muito anterior a este século. Com a observação das semelhanças entre os idiomas como o italiano, o castelhano, o francês, ou o português entre si, tem-se a idéia de uma herança lingüística latina. Por outro lado, os tratados renascentistas se preocupam em estudar a diversificação, ou seja, o problema da mudança.

A reflexão lingüística dos 1800 representa um marco divisor na história, do tempo e da linguagem, inaugurando uma concepção nova dos condicionamentos dessa relação, construindo um novo plano para sua análise.

Para explorar as idéias trazidas por essa tradição, vamos analisar o exemplo das chamadas “línguas românicas” ou “neolatinas”. Como mencionado, os idiomas possuem semelhanças que poderíamos pensar em uma identidade, porém precisamos estudar suas diferenças.

Tomando o exemplo do termo latino ‘novu’, observa-se que ‘o’ breve (aberto e acentuado) latino se converteu em ‘o’ acentuado no português; em um ditongo ‘ue’ no castelhano; em ‘[ ae ]’ ou ‘[oe]’ (grafia ‘eu’) no francês; e em ‘uo’ (antes de vogais) em italiano. A mesma regularidade se observa nas séries derivadas das formas latinas ‘movet’, ‘mordit’, ‘porta’ e ‘populu’. Em contraste, o ‘o’ breve (fechado) latino conserva-se como ‘o’ em todos os idiomas neolatinos, exceto o francês (por exemplo, do latim ‘hora’, o termo português ‘hora’; o castelhano ‘hora’; o italiano ‘hora’; e o francês ‘heure’).

A partir dos 1800, a lingüística histórica constrói uma metodologia para estudar estas regularidades, categorizando e justificando a identidade genética paralela de cada idioma, onde provavelmente aspectos morfológicos e fonológicos foram fatores estruturais para a reposição de suas etapas.

Mudanças motivadas e regidas por leis fonéticas remetem a instabilidades internas e resultam em diferentes processos de pressão sobre as formas estabelecidas, como por exemplo, pressões do entorno de um som no corpo da palavra provocam assimilação entre sons consecutivos.

Através das reflexões lingüísticas do século XIX, estudou-se diversas outras famílias entre as línguas conhecidas, procurando recuperar reversamente os eventos de mudança e assim, chegar a uma genética abrangente que permitisse reconstruir a Língua-Mãe Original (a “Ursprache”), a mãe de todas as línguas. Porém, através de fundamentos de comparação, chegamos num pressuposto forte: o de que as línguas naturalmente mudam ao longo do tempo.

Hugo Schuchardt afirmará em 1884: "não há línguas puras". Para Schuchardt, não haveria razão para se acreditar que uma língua necessariamente sofrerá mudanças. Apenas o contato com outras línguas pode provocar a mudança em um idioma.

De acordo com a tradição oitocentista, portanto recorta, descreve e explica os fenômenos da linguagem do ponto de vista do binômio gênese-evolução. Será em contraposição à abordagem assim constituída que no início do século seguinte Ferdinand de Sausurre irá traçar o corte fundador da lingüística moderna.

(1.2) A Lingüística Histórica nos 1900

1.2.1 O corte saussureano

A proposta de maior efeito de Saussure é de que o objeto-língua pode ser estudado fora da dimensão dos efeitos do tempo. Sendo assim, toma sentido sua discussão sobre o binômio diacronia-sincronia, colocado como uma questão de dinâmica versus estática.

A lingüística, antes de receber a separação entre sincronia e diacronia, precisa realizar separação entre Língua e Fala, Langue e Parole, e a suspensão do objeto-língua em um plano abstrato no qual possa ser observado, descrito e teorizado de modo inteiramente independente de sua realidade histórica – e mesmo, de sua dimensão temporal.

Com toda certeza, na língua os estados e transições não podem ser equiparadas como um jogo de tabuleiro. Assim, nem a posição estática das peças nem a transição entre elas é que de fato se prestam à comparação com a sincronia e a diacronia na esfera da língua. O que poderíamos comparar, neste caso, é qual a visão do “curioso que vem espiar o estado do jogo” e a visão do que acompanhou toda a partida.

Fundamentalmente, sincronia-diacronia se configura, como uma distinção metodológica: as abordagens são diacrônicas ou sincrônicas; e nenhum dos conceitos se aplica aos fatos de língua em si. Voltando a comparação a um jogo de tabuleiro, em uma partida de xadrez (isto é, no estudo da linguagem), há dois pontos de observação e interesse possíveis: a perspectiva sincrônica, que se interessa por cada etapa do jogo isoladamente; ou a perspectiva diacrônica, que se interessa pelo processo que leva de uma etapa para a outra ao longo do tempo do jogo (isto é, a dinâmica das transições entre cada sistema lingüístico).

1.2.2 Na herança do estruturalismo

Entendemos que os estudos diacrônicos na lingüística apresentam em comum a abordagem da não-permanência dos fatos de língua. É fundamental compreender que a “lingüística histórica” definiu-se, na herança estruturalista, como o campo dos estudos lingüísticos que se ocupa da dinâmica temporal-cronológica dos processos lingüísticos: ou seja, desenvolveu-se como “lingüística diacrônica”.

Por entre os herdeiros do estruturalismo, o conteúdo dos estudos funcionalistas e tipológicos, ou seja, as linhas para as quais o objeto língua está localizado nos sistemas e estruturas – linhas para as quais a mudança se concebe como alterações impressas nos sistemas, seja em parte deles, sejam em seu todo; ou seja, é relevante pelas marcas que deixa nos sistemas.

Neste ponto, a mudança lingüística será objeto de estudos relevante, contribuindo assim para a compreensão da organização atual dos idiomas. Como tradição, os estudos históricos são os estudos das marcas deixadas pelos processos de mudança. Ao longo do século XX, a lingüística histórica de inspiração tipológico-funcionalista foi especialmente importante nos estudos de línguas sem registro documental escrito – como, por exemplo, os idiomas ameríndios.

Em primeiro momento, se voltava a análise com o intuito de expandir o conhecimento sobre a variedade das línguas particulares, buscando se ocupar das diferenças entre o estado passado de uma língua e o estado atual, como sincronias em contraste, sem que se problematizasse o plano dinâmico

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