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Leitura Comparada: Amor de Perdição e o Primo Basílio

Por:   •  9/3/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.747 Palavras (7 Páginas)  •  1.526 Visualizações

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PROTAGONISTAS MASCULINOS EM LEITURA COMPARATIVA: AMOR DE PERDIÇÃO E O PRIMO BASÍLIO

Amanda do Nascimento Leite e Anderson Assis de Almeida Silva

manda.suri@hotmail.com / anderson-allmeida@hotmail.com

Literatura Portuguesa e Literaturas da Língua Portuguesa – Leonor Gayean

Introdução        

O presente artigo, que destina-se a área dos Estudos Literários voltado à Literatura Portuguesa, apresenta uma análise comparativa das obras Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, e O Primo Basílio, de Eça de Queirós. O foco da comparação é a construção dos protagonistas masculinos, Simão Botelho e Basílio Brito, respectivamente, nos dois romances, que tem por base as diferenças do amor que são retratadas nas obras.

Objetivos

O objetivo deste artigo é propor uma análise comparativa dos livros Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, e O Primo Basílio, de Eça de Queirós, embasado na visão que os autores, pertencentes a diferentes momentos literários, têm de seus protagonistas masculinos (Simão Botelho e Basílio Brito, respectivamente). Talvez porque tenham personagens femininas muito bem construídas, principalmente Mariana em Amor de Perdição e Juliana em O Primo Basílio, pouco se fala dos protagonistas masculinos dos dois romances. Nas duas obras, as protagonistas, Teresa e Luísa, são tipicamente românticas, agem por amor e morrem por amor. No entanto, os homens representam bem dois períodos literários distintos: o romantismo (Simão) e o realismo (Basílio). Enquanto um deles é o típico herói romântico, o outro finge amor apenas para ter prazer, revelando um comportamento mais próximo à realidade. A partir deste fato, nasce o interesse em analisar os dois personagens distintos, observando como são construidos e como influenciam nas histórias.

Desenvolvimento

Em Amor de Perdição, a figura do herói fica por conta de Simão Botelho. Primeiramente, é descrito como criador de confusões, brigão e irresponsável. Outra aspecto importante de Simão é a impulsividade, em que a emoção toma o lugar da razão.

Durante toda a história, Simão age por impulso e acaba prejudicando sua situação com Teresa. A impetuosidade de Simão torna-se muito importante no desenrolar da história porque se ele tivesse esperado, como lhe foi aconselhado inúmeras vezes, ao invés de agir, talvez ele não tivesse matado Baltasar e não teria sido condenado à forca. Quando perdeu o ano na Universidade de Coimbra e voltou à casa dos pais, conheceu sua vizinha, Teresa de Albuquerque, filha do inimigo de seu pai. Após alguns meses de conversas, Simão torna-se outro: “no espaço de três meses fez-se maravilhosa mudança nos costumes de Simão” (p. 29). Para o escritor, o responsável pela mudança foi o amor que ele sentia por Teresa. Há aí outra característica romântica: o amor mudando o comportamento dos que vivenciam o sentimento. Se Simão não amasse Teresa, ainda seria aquele irresponsável. Toda história romântica gira em torno do amor. Ele transforma os personagens e direciona a forma como devem agir. A mudança de Simão torna claro esse poder que o amor exerce nos romances. Aqui, a paixão e a emoção impulsionam a ação e o pensamento, e não a razão. Simão vê, apesar de pouca experiência, que seu destino é amar Teresa. O egoísmo dele é outra característica do romantismo; para ele, tudo acontece apenas para impedir que os dois fiquem juntos. Mariana e o ferreiro advertem Simão de que os acontecimentos têm outro motivo de serem e nem sempre são de importância a ele, no entando ainda assim, Simmão acredita que tudo gira em torno dele próprio. Em outro momento da obra, quando Teresa vai ser transferida para outro convento, ela dá o seguinte recado a Mariana: “diga-lhe que vou de madrugada para o convento de Monchique, do Porto. Que não se aflija, porque eu sou sempre a mesma. Que não venha cá, porque isso seria inútil, e muito perigoso” (p.88). Devido a sua ação passional, Simão faz exatamente o contrário, e acaba condenado à forca. Quando se encontra com Baltasar às portas do convento, Simão declara: “Sempre este primo Baltasar cavando a sua sepultura e a minha!” (p. 89), demonstrando novamente o egoísmo, além de nos mostrar outra característica romântica, a fatalidade. A última característica em Simão é a dignidade, importante na construção do protagonista romântico. Durante a historia quando Simão estava hospedado na casa do ferreiro e de Mariana, os dois acabam por perceber que ele estava sem dinheiro, mas como personalidade do personagem, eles sabiam que ele não aceitaria se lhe oferecessem. Então eles decidem mentir a Simão que sua mãe havia mandado o dinheiro. Simão recusa a idéia de fugir quando mata Baltasar e João da Cruz, mostrando novamente seu caráter heróico na trama. Comparando com Primo Basílio, o protagonista é o que pode ser chamado realista. Que pode-se observar nas escolhas dos personagens: Basílio, não é herói porque tem atitudes, mas sim porque faz com que a ação na história aconteça. No realismo, não há idealização de mocinho só pelo fato do personagem ser heroico, porque ele age de acordo com o ‘’mundo’’ que está em sua volta. Basílio é apresentado no romance através das lembranças de Luísa quando lê no jornal que o primo estará de volta a Portugal. Criados juntos, namoravam às escondidas. Mesmo sendo mais velho que Luisa, tornam-se noivos. Basílio, perde seu dinheiro resolve viajar para o Brasil. E é através de uma carta que ele decide dar um fim no noivado. Luísa fica magoada pela situação, como uma boa heroína romântica (mas é importante lembrar que, esse romance é uma crítica feita ao romantismo e à sociedade da época). Muito diferente do de Simão em Amor de Perdição, que se correspondia com Teresa até na prisão, O primo Basilio manda apenas uma única carta a sua amada.

Muito tempo depois, Basílio está de viagem pela Europa, fazendo negócios por capitais como Paris, e precisa visitar Portugal novamente. Sua viagem se dá, curiosamente, ao mesmo tempo em que Jorge, o marido de Luísa, viaja. Diferentemente do que acontecia no romantismo, aqui o dinheiro é importante. Como quer se aproximar da realidade e descrever o comportamento da sociedade com precisão de detalhes, o autor realista deixa claro a todo o momento que o dinheiro é importante: Basílio e Jorge viagem a trabalho, em busca de mais dinheiro; Juliana faz chantagens a Luísa para conseguir dinheiro; Luísa quase dorme com um banqueiro que gostava dela para conseguir dinheiro. Se o dinheiro não fosse importante, talvez Basílio não tivesse abandonado Luísa durante o noivado ou, mesmo que o fizesse, o adultério não aconteceria quando ele voltasse a Lisboa porque Jorge estaria em casa com a esposa. Basílio representa através de uma metáfora, no papel de adúltero, uma diversão a mais na vida daquelas mulheres românticas fúteis. Ele era o novo, o desconhecido, o aventureiro. “Que vida interessante a do primo Basílio!” (p. 63), pensava Luísa. Sua vinda trouxe não apenas a antiga paixão a Luísa, mas também a vontade de viajar. Basílio demonstra o papel de bon vivant da sociedade lisboeta, uma característica que não cabia aos heróis românticos, que viviam, ou melhor, sofriam por amor. Outro traço de Basílio que o diferencia de Simão é a valorização do ser: enquanto o primeiro não aceita a aparência de Julião, amigo de Luísa e Jorge, quando ele a visita, o outro vê o ferreiro João da Cruz e sua filha, que eram pobres, como sua família. A valorização do ser é tipicamente realista. Se, por acaso, Luísa fosse feia como Juliana, que era chamada de tripa seca pelos vizinhos, talvez Basílio nem a tivesse visitado. O Paraíso, para Basílio, era apenas um quarto comum em que ele poderia se divertir com Luísa. Ele não idealizava o amor, assim como não idealizava um lugar para que ele se concretizasse. O importante era o momento. Passemos para a concretização do caso de Luísa e Basílio. É fundamental notar que, embora esteja ausente em boa parte da narrativa, Jorge atrapalha o adultério sempre que aparece nos pensamentos de Luísa. Além disso, suas cartas fazem com que ela se lembre da constância que o marido representa. Jorge é a conformidade e o cotidiano para Luísa que, tratando-se de uma heroína romântica, não se contenta com isso e busca, na figura do amante, a aventura. Jorge apresenta alguns traços românticos, como sua própria visão do amor, do casamento e da família. No entanto, diferentemente de Simão, ele se preocupa com dinheiro. É uma questão pequena, mas importante porque demonstra a mudança naquilo que se conta no realismo: personagens mais mundanos que se comportam de acordo com o determinismo. Jorge precisava de dinheiro, por isso viaja. Basílio deixa claro em vários momentos da obra que não é um herói romântico nem superficialmente. Ele mente para fazer Luísa acreditar que ele sempre a amou e sempre a amará. Ele não acredita no amor. Após dormir com ela pela primeira vez, fala ao amigo: “como um anjo, menino” (p. 159). Embora não saibamos o que o amigo perguntou ao pé do ouvido de Basílio, subentende-se que foi algo relacionado a Luísa durante o sexo. Um herói romântico nunca comentaria dessa forma se tivesse dormido com sua amada. Basílio seduz Luísa aos poucos, enchendo-a de promessas de que viajariam juntos e fugiriam para Paris, sempre guiado pela razão e objetivando conquistá-la. Nenhuma promessa, contudo, é cumprida. Apesar de dizer que a amava, ele nunca teve esse sentimento pela prima. Luísa era uma diversão para Basílio enquanto ele estivesse em Lisboa. Quando descobre que Luísa havia morrido, comenta: “que ferro! Podia ter trazido a Alphonsine!”, referindo-se à amante que tinha em Paris.

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