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Métodos De Linguagem

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Por:   •  6/2/2014  •  Seminário  •  4.157 Palavras (17 Páginas)  •  225 Visualizações

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Cada ciência estuda seu objeto sob um determinado ponto de vista: dirige-se a um determinado aspecto e todo o resto simplesmente não lhe interessa. Assim, uma mesma realidade, por exemplo, o homem, é estudada por diferentes ciências sob diferentes ângulos: um é o enfoque da Medicina; outro, o da Psicologia; outro, o da Sociologia etc. o objeto de estudo de uma ciência e, principalmente, seu peculiar ponto de vista [2] condicionam, como é lógico, sua metodologia: de que servem, digamos, a compreensão empática para o matemático empenhado em demonstrar seus teoremas ou, reciprocamente, os teoremas do matemático para um historiador? E, como é evidente, o mesmo pode-se dizer do instrumental de cada ciência, também neste caso o objeto é decisivo: é pelo seu objeto que a astronomia emprega o telescópio e não o microscópio; a física - ao contrário da matemática - requer um laboratório; etc.

É certo que a questão do método das ciências não é simples e suscita infinitas discussões. No entanto, quando se trata do filosofar - do genuíno filosofar, tal como o entenderam "os antigos" - a questão do método torna-se ainda mais problemática e isto não por um maior grau de complexidade, mas porque ela nos introduz em uma nova ordem: a misma que distingue o filosofar das ciências. Por isso, o filosofar não tem nem pode ter - e nem sequer pretende ter... - operacionalidade metodológica, uma operacionalidade que pode se dar - em maior ou menor grau - nas ciências.

Neste sentido, baste-nos recordar que JP - seguindo a tradição clássica de pensamento europeu - entende por filosofar a busca do ser, guiada pela pergunta:

Que é, em si e afinal, isto? [3] ,

tal como foi proposto por Platão [4] : o filósofo quer saber não se o rei que tem muito ouro é feliz ou não, mas o que é a felicidade.

Ou seja, o filosofar não se limita a um "ponto de vista" mas indaga, con Whitehead, "What is it all about?" [5] , indaga pelo todo, com que este objeto se relaciona e, portanto, não se pode esperar um método com pretensões de precisão ou "bem comportado".

Isto não depõe contra a filosofia, muito pelo contrário: o próprio JP dedica um artigo - Über das Verlangen nach Gewissheit [6] -, à demonstração do fato de que o pouco que se pode obter na Filosofia (e na Teologia) é muito mais importante que os claros conhecimentos das ciências. O artigo é dedicado a comentar a contundente sentença de Santo Tomás:

Minimum quod potest haberi de cognitione rerum altissimarum, desiderabilius est quam certissima cognitio quae habetur de minimis rebus, ut dicitur in XI "De animalibus" (I, 1, 5 ad. 1).

Pois só se pode ter precisão, clareza quantificável, se se trata de conhecimentos menores; já o pouco - e relativamente obscuro - que se pode obter em Filosofia é de sumo interesse. A propósito, é oportuno recordar que precisão -etimológica e realmente- significa corte ("precision", explica o Oxford English Dictionary, provém de praecisio: a cutting off abruptly).

Daí que a ciência é precisa na medida em que, a partir de seu ponto de vista, diz: "interessa-me este aspecto da realidade (e o resto não me interessa!)"; já o filósofo, quando pergunta pela realidade - perguntando, por exemplo, "o que é o homem?" -, não se limita a um determinado ponto de vista, mas abre-se omnidimensionalmente ao ser, àquilo que em si e em sus últimos fundamentos é tal realidade - o homem, a arte, o amor etc.

Além disso, nada impede que uma questão científica possa receber uma solução cabal, precisa e definitiva (por exemplo, só há dez anos, a matemática chegou, finalmente, à solução do "último teorema de Fermat", que permaneceu indemonstrado por 350 anos), enquanto as questões filosóficas permanecem sempre no "ainda não" da esperança: quem poderá dizer que sabe plenamente "em si e em suas últimas razões" o que é o homem, o amor etc. Camões, o grande poeta português, diz que o amor é:

um não sei quê, que nasce não sei onde,

vem não sei como e dói não sei porquê.

Precisamente essa amplitude de perspectiva torna problemático o filosofar: para ele não há, dizíamos, uma metodologia que se possa operacionalizar em passos "objetivos" como os que se dão, por exemplo, na álgebra elementar, para resolver uma equação...

Método e pensamento em JP

Sem menoscabo do tão importante "conteúdo" de seu pensamento - objeto precisamente de brilhante exame neste Congresso - parece-me que vale a pena que nos detenhamos também nas riquíssimas contribuições específicas de JP no campo dos procedimentos metodológicos. E aliás, se seguimos o próprio JP, o método não deve ser considerado como uma realidade autônoma, mas que depende, decorre desse mesmo filosofar. A sentença de Fichte, citada por JP [7] : "A filosofia que se escolhe depende do homem que se é" pode ser parafraseada e aplicada a nosso tema: "O método que se escolhe depende da concepção de filosofar" [8] .

Esta é a razão pela qual - no caso de JP - o método escapa a toda tentativa de "operacionalização", de deixar-se expressar em "receitas" ou regras rígidas. Pois filosofar é, para JP:

um processo existencial que se desenvolve no centro do espírito, um ato espontâneo que arranca da vida interior [9]

Aliás, como caberia falar em métodos rígidos em uma obra que tão acertadamente foi qualificada - por ninguém menos do que T. S. Eliot - como de insight e sabedoria? [10]

Seja como for, há claramente um método em JP;. um método tão dialeticamente unido a sua antropologia, que nem sequer é possível pensar uma dessas realidades separada da outra: seu método é o que é pela sua pessoal concepção de filosofar; e ele exerce o filosofar por meio do método.

No caso do filosofar de JP, isto - a conexão do método com seu filosofar, com sua antropologia filosófica - é muito forte e o fato de que o próprio JP não tenha dedicado diretamente ao tema método mais do que umas poucas páginas (poucas, mas muito luminosas) significa talvez que o método está tão vivamente integrado à sua antropologia que - parafraseando o célebre pensamento de McLuhan - pode-se dizer da obra de JP: "o método é a mensagem".

O

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