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Nossa Rua Tem Um Problema

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Por:   •  3/2/2015  •  3.040 Palavras (13 Páginas)  •  1.267 Visualizações

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UMA LEITURA DA OBRA NOSSA RUA TEM UM PROBLEMA, DE RICARDO AZEVEDO

Penha Lucilda de Souza Silvestre (Mestrado – UEM)

A presente comunicação resulta de leituras prévias para o desenvolvimento do projeto de Mestrado “Um estudo introdutório sobre a obra de Ricardo Azevedo: levantamento da bibliografia de e sobre o autor e análise da recepção de Nossa rua tem um problema, junto a uma quinta série do Ensino Fundamental da Rede Pública”, na Universidade Estadual de Maringá - Paraná, Programa de Pós-graduação em Lingüística Aplicada, sob a orientação da Professora Alice Áurea Penteado Martha. A comunicação visa abordar aspectos estruturais da narrativa Nossa rua tem um problema (2002 , Ática) de Ricardo Azevedo e, considerando que a produção literária do escritor é inquieta e questionadora tanto do ponto de vista formal quanto ideológico, buscamos também ressaltar o valor artístico da produção de Azevedo no cenário da literatura infanto-juvenil brasileira nas últimas décadas.

Ricardo Azevedo (São Paulo – 1949) formou-se Bacharel em Comunicação Visual na Faculdade de Artes Plásticas da FAAP em 1975, em São Paulo. Escritor e ilustrador, é Mestre em Letras pela Universidade de São Paulo e doutorando em Teoria Literária. Começou a produzir livros infantis em 1980, com O peixe que podia cantar. Em 1983, com o livro Um homem no sótão, obteve menção honrosa na Bienal de Ilustrações de Bratislava (República Tcheca). Até o ano de 2002, publicou mais de oitenta títulos, com destaque para a literatura popular em Meu livro de folclore e Armazém do Folclore. Entre 1993 e 1995 trabalhou como editor de Literatura Infantil e Juvenil na Studio Nobel, em São Paulo. Conquistou, em 1989 e 1991, prêmios Jabuti de Melhor Livro Infantil pelos livros Alguma coisa e Maria Gomes. Em 1995, recebeu o prêmio de melhor livro juvenil para Pobre corinthiano careca, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Também nesse ano participou da Mostra de Ilustradores Brasileiros de Bolonha, ano em que o Brasil foi o país homenageado daquela que é a maior Feira internacional do mercado editorial de livros para crianças. Sua obra poética inclui Estão batendo na porta (1986), Brincando de adivinhar (1996), Dezenove poemas desengonçados (1998), Meu material escolar (2000), entre outros livros. Alguns livros foram traduzidos na Alemanha, em Portugal, no México e na Holanda. Em 1998, obteve simultaneamente dois prêmios Jabuti, que é o prêmio nacional de maior prestígio: de Melhor Livro Infantil (para o livro Dezenove poemas desengonçados, Editora Ática) e de Melhor Livro Juvenil (A outra enciclopédia canina, Editora Companhia das Letrinhas).

Nossa rua tem um problema: conteúdo e estrutura

A narrativa Nossa rua tem um problema estrutura-se através de dois diários: um deles pertence à Clarabel e outro a Zuza e cada um deles começa em uma das capas do livro, isto é, não há contracapa; cada capa mostra o início de uma versão diferente dos fatos da narrativa. Apesar de serem pessoas diferentes, ainda que crianças, os temas tratados nos diários giram em torno dos mesmos assuntos, em geral fatos ocorridos na rua em que moram e que, de alguma forma, acabam por transformar os respectivos modos de vida de ambas as personagens, principalmente, o modo que cada um vê o outro. Clarabel, provavelmente, vem de uma família tradicional e de uma boa condição econômica. Seu pai é um homem autoritário e intransigente que procura educar tanto a menina como seu outro filho, Chico, de uma maneira rígida, impedindo as brincadeiras e os possíveis contatos com as outras crianças, o que acaba por isolá-los.

Com este tipo de educação, é natural que Clarabel seja vista por Zuza como uma menina pouco simpática e Chico, como um “prisioneiro de guerra”. Do mesmo modo, a menina também não aprova a conduta de Zuza, criticando suas brincadeiras que, apesar de normais, fogem ao seu modo de vida.

Entretanto, com o passar do tempo, as divergências e o modo de ser dos dois personagens ao invés de distanciá-los os aproxima, visto que no final eles passam a fazer parte da mesma turma de amigos e trocam seus diários. Esta troca é percebida através da ilustração no meio do livro, onde se dá o fim da história.

O texto, como é natural em se tratando de um diário, apresenta-se em primeira pessoa. Todavia, o título Nossa rua tem um problema, dá uma idéia de coletividade, unindo os dois diários que, apesar de separados, acabam por se completarem. Os dois parecem, ainda que indiretamente, dialogar, polemizar os acontecimentos, na medida em que são apresentados os dois focos diferentes . Notamos que o problema não é o Chico, mas a intransigência de um pai austero e autoritário, o que acaba por dificultar a integração do menino ao grupo da rua. Tais acontecimentos propiciam o desencadeamento de uma série de conceitos sociais e econômicos que são questionados e desvelados sutilmente durante a narrativa.

Os dois diários apresentam, inicialmente, a frase que dá título à obra: Nossa rua tem um problema, e, posteriormente, os problemas vão surgindo sob a ótica de cada um dos meninos. Para Clarabel, o problema seria resultado de um bando de meninos que vivem perturbando a vida de sua família. Referindo-se aos meninos da rua, diz ela em certo momento:

Cada vez que a gente sai de casa, os moleques param o jogo e ficam olhando e cochichando com o rabo do olho. Mamãe acha que eles dizem muito palavrão. Papai não sabe quando eles fazem lição. Pra mim vai tudo repetir de ano. Tomara. (Azevedo, 2002, p. 5, 6)

A garota pontua seus julgamentos a partir daquilo que o pai e a mãe pensam dos meninos, portanto ela traduz a imagem dos garotos sustentada na opinião dos adultos. Já Zuza apresenta como problema da rua o menino Chico, diz ele:

Nossa rua tem um problema. É o Chico. O pai dele é daqueles que não deixam ninguém botar o nariz pra fora de casa. Jogar bola na rua? Não pode. Ir no bar tomar sorvete? Não pode. Comprar figurinha ali na esquina? Nem pensar. Coitado. O Chico parece um prisioneiro de guerra.(Idem, ibidem, p.3)

Enquanto Clarabel vê o grupo de Zuza como um bando de meninos mal educados “que dizem palavrão”, sem responsabilidade “não fazem lição de casa” e que com certeza irão repetir de ano, Zuza descreve os integrantes da família da menina como pessoas preocupadas com a aparência, que saem de casa “penteados, perfumosos” impressionando a vizinhança:

Saem todos penteados, perfumosos. O Chico de topete e meia branca até o joelho. Entram

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