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O Conto de Suspense

Por:   •  13/4/2023  •  Dissertação  •  1.454 Palavras (6 Páginas)  •  52 Visualizações

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SEÇÃO 89

CAPÍTULO 1

Mirela narrando: Biblioteca Maria Capitolina. Desde que comecei a faculdade venho aqui para fazer pesquisas. O fato de estar em contato com livros me agrada mais do que usar tecnologias. Sim, (risada leve) é um pouco estranho dizer isso em pleno 2022 com tantas facilidades para pesquisar, mas a forma como fui criada por meus pais me ensinou que nada substitui os livros, e me acostumei a vir aqui sempre que preciso buscar informações. Dessa vez não foi diferente.

Vêronica: Bom dia, Mirela! Que bom te ver aqui. Do que precisa?

Mirela: Bom dia, Verônica. Preciso fazer pesquisas sobre o avanço psiquiátrico e como transtornos psicológicos eram vistos antes de um estudo mais aprofundado.

 Vêronica: Acho que sei como te ajudar... Tome aqui as chaves. Seção 89.

Mirela: Verônica, você é incrivel! Obrigada, muito obrigada!

Vêronica: Tome cuidado, mocinha! Senão...

Mirela narrando: Preciso admitir: estou orgulhosa de mim. A seção 89 é uma seção restrita da biblioteca, porque os livros de lá são mais antigos. A sensação de saber que finalmente entrarei na misteriosa seção e matar minha curiosidade é incrível. Com muita animação e rapidez, adentro o longo corredor da biblioteca e sigo até o final, onde fica a famigerada seção.

(barulho de chaves, porta abrindo)

Mirela: (tosse) Há quanto tempo não limpam esse lugar?

Mirela narrando: Começo a andar pela sala e olhar as enormes prateleiras cheias de livros empoeirados. Minha visão rapidamente se perde mas logo se encontra em um caderno de couro vermelho com pequenos adornos, que se destaca no meio dos antigos livros marrons. Involuntariamente, o tomo em mãos e o abro, lendo sua primeira página.

Voz da Vírginia: Este diário pertence à Vírginia Santiago.

Mirela: Hum.., interessante. Como veio parar aqui, querido diário? (com ironia)

narrando: Há muitas páginas escritas no caderno e, como sempre fui curiosa, me sento no chão para poder ler, interessada no conteúdo do caderno sem nem me preocupar com o conforto para a leitura.

Vírginia: 10/06/1989

Eu me perdi. Fui carregada pelo mal e me afastei da luz. Esses pensamentos me deixam enojada. Enojada de mim mesma. O que sou? O que me tornei? O que meus pais fizeram para receber tanto desgosto de me ter? Minha existência é um fardo para todos ao meu redor. Eu sou tão incompetente, tão tola, sempre me foi indicado o caminho correto e mesmo assim sou incapaz de seguí-lo.

Ás vezes eu gostaria de ser ouvida, mas por que eu incomodaria os outros com tamanha desgraça? Me sinto aflita por externar tal ânsia no papel, é como se ele desejasse se rasgar e se tornar pó, fugindo para não ter que ser marcado por meus pensamentos, suplicando por evasão.

O que devo fazer? Sinto como se não existisse saída. Eu juro que quero reencontrar a luz, eu realmente quero. Mas não sei se conseguirei fugir dessa escuridão. Que Deus tenha piedade de mim e me solte dessas malditas correntes.

Mirela narrando: Assustada, fecho o diário com força. Reviro o livro em minhas mãos em busca do nome da editora que o publicou ou maiores informações sobre o caderno, com esperança de que seja um diário ficcional.

Mirela: Eu.. não acho que seja um livro, mas um diário de verdade. Não há título, nem editora, só o nome da possível autora.

narrando: Pego meu celular e digito o nome ‘Virgínia Santiago’ no Google, com intuito de descobrir se ela realmente é uma autora e possui outras publicações. (pausa) Não encontro nada. Não há nenhuma escritora brasileira famosa com o mesmo nome, nem sinal de outras publicações... (suspira) Só existe um jeito de saber se o diário de fato é real: o lendo.

CAPÍTULO 2

Vírginia: 21/06/1989

O que é a vida? Respirar? Ir à festas? Encontrar um amor? Ter a profissão dos sonhos ou ser rodeado de amigos? Essa pergunta não é retórica, porque eu realmente não sei a resposta.

Sempre tenho a sensação de que as pessoas são movidas por algo. Ao acordarem,  irem para o trabalho ou escola, parece que há algum objetivo, algo que as dão força para seguirem em frente. Não entendo. Eu deveria sentir isso também?

Mirela narrando: Horas se passam e leio inúmeras páginas escritas por Virgínia. Todas elas descrevem os mesmos sentimentos: vazio e culpa. Uma jovem garota sem perspectiva que demonstrava fraqueza e cansaço.

         Coincidentemente, Vírginia me mostra tudo aquilo que eu procurava para minha pesquisa: negligência. No contexto dos anos 90, quando transtornos psicológicos ainda eram vistos como “drama”, “fraqueza” ou até mesmo “falta de Deus”, Vírginia representa uma garota que precisava de ajuda, mas a psicofobia a impediu, a fez escutar de seus próprios pais que havia se afastado de Deus, que fora arrastada para longe da luz e que falhara como religiosa, sendo estes os causadores de sua angústia. Virgínia se culpava profundamente pelos seus sentimentos e por frustrar seus pais, que sempre a ensinaram a religião desde pequena. Infelizmente, não é muito complicado perceber que Virgínia pode ser diagnosticada com algum transtorno.

Vírginia: 03/07/1989

Acho que já fiz tudo aquilo que devia ter feito. Não me resta mais nada. Não há opções, não há escolhas, não há caminhos, não há luz. Sempre me questionei o motivo da minha existência, o meu propósito, mas acho que já está tudo concluído. Por mais que eu não saiba a resposta de nenhuma dessas perguntas, posso sentir que não me resta mais nada.         

Eu escrevi minha história, apesar de não ter o fim que todos esperávamos, ela já foi escrita, feita. Nem tudo ocorre como o planejado, e não existe nada que nos permita mudar o que já estava predestinado. Pra que sofrer se eu posso aceitar que tudo acabará? Logo, eu estarei bem.

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