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O Homoerotismo na Literatura Portuguesa

Por:   •  12/9/2016  •  Trabalho acadêmico  •  3.187 Palavras (13 Páginas)  •  389 Visualizações

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Universidade Federal Fluminense

Diego Verciani dos Santos

Segundo Trabalho - Literatura Brasileira II

Análise comparativa dos poemas Só!, de Cruz e Sousa, e Canções Suspiradas, de Cecília Meireles

Niterói
2016

“Quando mesmo Cruz e Sousa não deixasse
escrita uma linha sequer, bastava unicamente
a sua vida para fornecer uma das mais curiosas
monografias humanas”.

                                                                   Nestor Vítor

1. Análise de Só! – Cruz e Sousa, de Últimos Sonetos

1.1 - Cruz e Sousa: O Cisne Negro

        João da Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861, em Florianópolis (SC). Era filho de ex-escravos e ficou sob a proteção dos antigos proprietários de seus pais, após receberem alforria. Por este motivo, recebeu uma educação exemplar no Liceu Provincial de Santa Catarina. Amante das letras, em 1877, Cruz e Sousa começou a dar aulas particulares e a publicar seus versos em jornais da província. Em 1893, casou-se com a também poetisa Gavita Rosa Gonçalves. Nesse mesmo ano, publicou Missal, poemas em prosa, e Broquéis, versos. Com eles, Cruz e Sousa rompeu com o Parnasianismo e introduziu o Simbolismo, em que a poesia aparece repleta de musicalidade.

        A vida do poeta piorou após o casamento, tornando-se uma pessoa repleta de desgostos, lutando constantemente contra a miséria e a infelicidade, sendo um dos principais motivos a falta de reconhecimento de seu valor como poeta. A esposa de Cruz e Sousa tinha constantes crises nervosas e seus filhos morreram de tuberculose. A mesma moléstia atingiu o poeta, que em 1898, muda-se para a cidade de Sítio, em Minas Gerais, à procura de alívio para o mal, mas faleceu logo depois. Seu corpo foi transladado para o Rio, num vagão de transporte de animais.

        Em 1905, seu grande amigo e admirador, Nestor Vítor, publicou, em Paris, a obra maior do poeta, Últimos Sonetos. A crítica francesa o considerou um dos mais importantes simbolistas da poesia ocidental. 


1.2 – Análise do Poema

        Na obra Últimos Sonetos, Cruz e Sousa imprime uma ansiedade diante da falta de reconhecimento da sua obra. Podemos identificar em vários poemas que a compõem o desejo desse reconhecimento artístico, como também que o poeta tinha consciência da proximidade da morte e desesperava-se que a fatídica hora chegasse antes da tão sonhada glória. O livro parece sintetizar fatos autobiográficos e criar uma espécie de teoria-poética sobre Cruz e Sousa. O poeta desabafa nos poemas a angústia e o forte desejo de fazer parte do grupo de grandes poetas da época. No poema apresentado, Só!, podemos perceber a solidão que ele tanto lamentava.

Em primeiro lugar, pode-se dizer que o poema Só!, em forma de soneto, apresenta a preocupação formal de Cruz e Sousa, que aproxima o seu estilo de escrever ao parnasiano. A utilização de vocabulário requintado e erudito, a força das imagens na poética bem como a forma que "lapida" os versos revelam as características simbolistas.

        Ao iniciar a leitura do poema, o título imediatamente revela a temática do poema: a solidão. Essa temática demostra a influência de dois grandes filósofos na obra do poeta catarinense: Schopenhauer e Baudelaire. O sofrimento, a resignação e a luta por reconhecimento são algumas características que encontramos no poema de Cruz e Sousa e que são também marcas nas obras dos filósofos citados. Ao longo dos versos do poema, o poeta demostra o seu descontentamento com a falta de compaixão que o mundo tem consigo. Na primeira estrofe, a palavra “infinito” é escrita com a letra inicial maiúscula, embora esteja no final do verso. Tal recurso é utilizado a fim de destacar algo em particular, no caso, a grandiosidade do infinito, onde habitam as estrelas que têm apreço por ele, acenando-o carinhosamente e agraciando-o com um "clarão bendito".

        Em seguida, na segunda estrofe, o mar e o vento aparecem como personagens que não simpatizam com o poeta. O primeiro, "como um revel proscrito", mostra uma falsa preocupação pelo poeta ao chamá-lo "nas vagas ondulosas". Já o segundo, que chega "em cóleras medrosas", proclama a solidão como o seu destino.

        Nas ultimas estrofes, o poeta esclarece a sua reflexão. Num mundo tão trágico, ele é um estranho que não consegue manter nenhum tipo de relação com alguém, e culpa-se por isso. Por isso, sensibiliza-se diante de tanta indiferença, chegando a se sentir desamparado.

1.3 – Características do poema        

O poema apresentado pode ser considerado como uma síntese da vida de Cruz e Sousa. Na época em que viveu, o racismo era algo comum na sociedade e provavelmente o poeta sofreu devido ao fato de ser um negro intelectual. A solidão, que serve como tema para o soneto, foi algo vivenciado por Cruz e Sousa. Podemos ver no poema diversas referências aos fatos ocorridos na sua vida, como "cóleras medrosas" (2 - v. 3), que podem ser entendidas como a ira da sociedade racista ao deparar-se com um intelectual negro, o medo que tinham de Cruz e Sousa servir de exemplo para outros negros.

        A exploração do eu por meio de uma linguagem pessimista e individualista é uma característica simbolista presente no poema, além da utilização de palavras com carga emotiva, como "sepulcral", "trágico", dentre outras. Outro aspecto simbolista do soneto é a subjetividade, que se realiza por meio da reflexão do poeta a respeito da sua condição solitária no mundo. Além disso, Cruz e Sousa enxerga o mundo como algo ruim, sem compaixão e indiferente para os seus problemas.

        Alguns recursos linguísticos, como a sinestesia, são usados por Cruz e Sousa. Esta é uma das características mais marcantes do Simbolismo e consiste em relacionar entidades de universos diferentes. Vejamos abaixo um exemplo retirado do poema:

                    A doce graça de um clarão bendito (1 - v. 4)
        "doce" está relacionado ao paladar e "clarão" está relacionado a visão.

O soneto é composto por versos decassilábicos, sendo cada um dos quartetos compostos por versos rimados de forma emparelhada e os tercetos rimados de forma cruzada entre si. Cruz e Sousa, para valorizar os aspectos sonoros das palavras, lança mão do uso de algumas figuras de linguagem. Nas duas primeiras estrofes, o primeiro verso termina sempre com um som consonantal semelhante ao do final do último verso e o segundo com um semelhante ao do final do terceiro verso. Vejamos abaixo um exemplo:

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