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O PROCESSO DE SÂNDI VOCÁLICO EXTERNO NA ESCRITA DE CRIANÇAS EM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

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Por:   •  20/10/2014  •  2.959 Palavras (12 Páginas)  •  320 Visualizações

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O PROCESSO DE SÂNDI VOCÁLICO EXTERNO NA ESCRITA DE CRIANÇAS EM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Alyne Renata de Oliveira

1 INTRODUÇÃO

O aprendizado da língua escrita deve-se aos primeiros anos de escolarização. Com base nisso, percebe-se a necessidade do professor alfabetizador compreender as relações que se estabelecem entre a oralidade e a escrita, ou seja, levar em consideração que a criança escreve, no início do processo de apropriação do sistema de escrita, apoiando-se na pauta sonora que ouve. Baumgärtner (2005, p. 56) afirma que essa relação entre a oralidade e a escrita “é caracterizada pela interdependência entre ambas, considerando-se que os sistemas de representações que as compreendem influenciam-se mutuamente”.

A escrita da criança em processo de alfabetização apresenta marcas da oralidade muitas vezes não compreendidas pelo professor. O que é apontado como erro ortográfico revela uma lógica que só é interpretada a partir de estudo e reflexão.

Tendo em vista essas considerações, este artigo apresenta uma análise de como se processa o sândi vocálico externo na escrita de crianças em fase de alfabetização. É natural que esse tipo de ocorrência seja verificado oralmente, mas esse estudo parte da hipótese de que casos de sândi também estejam presentes na escrita de crianças em fase de alfabetização, já que, inicialmente, elas compreendem a escrita como espelho da fala. Nesse sentido, o trabalho orienta-se pelas perspectivas teóricas de Camara Jr., Bisol, Cagliare e Collischonn. A metodologia se inscreve numa abordagem qualitativa, uma vez que a relevância está na análise e interpretação do corpus.

A análise tomou como corpus a produção escrita de 37 alunos, sendo 18 do 1° ano e 19 do 2° ano do primeiro segmento do Ensino Fundamental. Esses dados foram levantados em agosto de 2009 numa rede de ensino particular, localizada na região central do município de Ponta Grossa, Paraná. A autora desse artigo, com o auxílio das professoras regentes das turmas solicitou, primeiramente, a produção de um texto e, após essa etapa, os alunos escreveram o que viram na tela de um computador. Essa última etapa contou com a visualização de uma sequência de 10 imagens.

2 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA DE CRIANÇAS EM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO.

Quando a criança entra nas séries iniciais traz consigo, além de sua presença física, todo um conhecimento adquirido a partir de suas relações sociais, da interação com o outro. Quaisquer que sejam, esses conhecimentos práticos passaram a fazer parte da vida do indivíduo conforme as suas necessidades. Cagliari (1997a, p.16) já dizia “uma criança de 7 anos que entra na escola para se alfabetizar já é capaz de entender e falar a língua portuguesa com desembaraço e precisão, nas mais diversas circunstâncias de sua vida”. Esses conhecimentos e capacidades compõem um conjunto de saberes do qual a criança se vale no processo de aquisição da língua escrita. Isso é comprovado quando se verifica as marcas da oralidade na produção escrita da criança.

Dentre as principais ocorrências, destacam-se as trocas de letras que representam os fonemas: /p/ e /b/, /t/ e /d/, entre outros pares mínimos que se diferenciam somente pelo traço de sonoridade.

Outra tendência muito comum é escrever como se fala, ou seja, fazer uma transcrição fonética. Conforme Câmara Jr. (1977), em contextos postônicos finais, devido ao processo de neutralização, há três vogais no português /a, i, u/. Muitas crianças demonstram o alçamento em posição átona final na escrita de palavras, como: vinti, genti.

A compreensão da segmentação das palavras também está muito presente nas hipóteses preliminares de escrita, uma vez que está associada ao apoio que a criança faz à oralidade. Isso se deve ao fato de a língua oral não ser composta de sons isolados, conforme a escrita. De acordo com Cristofolini (2008, p. 1):

“durante a fala, as sequências de consoantes e vogais são produzidas com a sobreposição de gestos articulatórios (co-articulação), resultantes da produção de 8 a 10 consoantes por segundo. Em contrapartida, a escrita é segmentada, o que torna a representação alfabética bastante abstrata.”

A fala e a escrita se inscrevem numa sequência linear, mas de modos diferentes. Enquanto a fala é marcada pela entonação, pelo ritmo e não apresenta de forma explícita os limites entre as palavras, a escrita dispensa os recursos da oralidade e dispõe de espaços em branco para a segmentação das palavras.

A oralidade e a escrita pressupõem também diferenças no que diz respeito à aquisição de uma e de outra. Pode-se dizer que a criança aprende a falar de forma espontânea, independente de haver ou não um ensino consciente. Em contrapartida, o aprendizado da escrita exige um ensino sistematizado que, em geral, acontece na escola (BEARZOTI FILHO, 2002 apud CRISTOFOLINI, 2008).

Mesmo apresentando essas diferenças, esses sistemas de representação se aproximam quando se conceituam os processos de decodificação e codificação. Enquanto o primeiro refere-se à leitura, ou seja, à transformação dos grafemas em fonemas, o segundo diz respeito à escrita, à transformação dos fonemas em grafemas. No entanto essa correspondência, a princípio simples, revela que o sistema de escrita não só dispõem de relações biunívocas, mas também de arbitrárias. Essas relações assimétricas estão estritamente vinculadas aos problemas de ortografia. É por isso que apropriação das irregularidades ortográficas acompanha o indivíduo ao longo da sua trajetória escolar, já que são sustentadas por convenções ortográficas destituídas de lógica de regularidade.

3 PROCESSOS DE SÂNDI VOCÁLICO EXTERNO

Conforme já exposto, o sândi é um processo da oralidade, mas que também se manifesta na escrita de crianças no início da alfabetização. Nesse sentido, convém recorrer ao que dizem as teorias sobre esse assunto.

Câmara Jr. (1977, p.48) quando se refere à gradação da atonicidade, associa seus graus aos fenômenos de delimitação e ligação entre os vocábulos:

Em primeiro lugar, a debilidade máxima da sílaba átona final e a mínima da sílaba átona inicial concorrem para a delimitação do vocábulo na cadeia fônica. Esses graus máximo e mínimo de atonicidade têm o que Trubetzkoy denomina uma “função delimitativa” (al. Delimitative Schallfunktion), ou juntura na terminologia bloomfieldiana. Pode-se mesmo adiantar que são eles a rigor

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