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O ROMANCE INTROSPECTIVO: OBRA O ATENEU DE RAUL POMPÉIA

Por:   •  18/10/2022  •  Artigo  •  2.765 Palavras (12 Páginas)  •  69 Visualizações

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 O ROMANCE INTROSPECTIVO: OBRA O ATENEU DE RAUL POMPÉIA

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 RESUMO

O romance introspectivo que se dá pelo viés da literatura intimista ou introspectiva enfoca, prioritariamente, o conflito do indivíduo que acontece na sua esfera consciente e também na inconsciente. Tratam-se de obras que fogem dos padrões característicos dos romances produzidos em tempos anteriores, constituindo-se em uma inovação literária que influenciou muitos escritores da época e atuais. A presente pesquisa visa saber a origem do surgimento do romance introspectivo vivenciando as características principais dentro da obra O Ateneu de Raul Pompéia. Assim, por meio de uma pesquisa bibliográfica pode-se observar que o referido romance se enquadra na vertente literária em estudo.

Palavras-chave: Romance. Introspecção. Psicológico. Ateneu.

1. INTRODUÇÃO

No romance introspectivo o contexto em si circula envolto em uma análise de âmbito psicológico estritamente relacionado à intimidade do autor com o personagem. Dessa forma a narrativa é centrada na base da introspecção, tal aspecto é tido no decorrer da história literária como as fases do conflito e por fim o instante de descoberta.

Durante o percurso do século XIX, o romance europeu é um gênero que se consolida e circula por diversas tendências, algumas por sua vez são fontes de procedimentos estéticos que se expandem no século XX. No que tange à  renovação do discurso, destaca-se, inicialmente, a obra Madame Bovary (1856), de Gustave Flaubert, que estabelece o processo de aproximação, através do uso do discurso indireto livre, do narrador onisciente e a protagonista, com isso, conforme relata Vargas Lhosa, “as fronteiras entre esses dois seres ficcionais se evaporem e orientando uma ambivalência que o leitor não sabe se aquilo que o narrador disse provém do relator invisível ou da própria personagem que está monologando mentalmente”(LHOSA, 1979).

Referente à construção das personagens para a promoção do desenvolvimento do romance introspectivo, são geralmente criados perfis que apresentam bastante complexidade dos personagens, os mesmos mostram pressões de nível opostas.  Conforme argumenta Hauser (1982), “o herói de Memórias do subterrâneo, Raskolnikov (de Crime e castigo), Kirilov (de Os demônios) e Ivan Karamazov, todos eles atacam esse problema, todos se batem contra o perigo de serem devorados pelo abismo da liberdade absoluta, do arbítrio individual e do egoísmo”.

Pode-se afirmar, que os romances que foram publicados no espaço de quinze anos, nesse período, constituem-se em tentativas iniciais de formação do romance de introspecção entre os escritores do Brasil, empregando técnicas narrativas, como fluxo de consciência e o tempo psicológico.

Nesse sentido, o discurso literário apresenta-se repleto de imagens simbólicas que dão os contornos da experiência interna, marcada por uma percepção psicológica fina, que por sua vez revela o sentimento interno e de inadaptação ao mundo, bem como de seus valores, angústias e dúvidas que dizem respeito ao sentido da existência.

Os textos aqui reunidos privilegiam a análise e interpretação de cunho crítico de romance de introspecção, o qual se insere nessa linhagem da narrativa. Para tanto, observar-se- alguns fragmentos da obra o Ateneu de Raul Pompeia evidenciando aspectos relacionados à literatura intimista ou de introspecção, a pesquisa   se dará pelo viés bibliográfico, analisando obras já publicadas que retratem acerca da temática em estudo.

A introspecção na Obra o Ateneu

No viés da ficção, o romance psicológico aparece influenciado pelos estudos de psicologia na transição entre o século XIX e XX. Dessa maneira, são elaboradas narrativas nas quais são utilizado o monólogo interior onde são transcritos os pensamentos por intermédio da narração literária, conforme Humphrey (1976, p. 22), “representar o conteúdo e os processos psíquicos do personagem, parcial ou inteiramente inarticulados, exatamente da maneira como esses processos existem em diversos níveis de controle consciente antes de serem formulados para fala deliberada.”

Conforme tal circunstância, são construídos relatos especificamente em primeira pessoa – possibilitando aprofundamento no eu do sujeito ficcional que ultrapassa suas sensações que repercutem em sua consciência à deriva de marcações temporais. Dessa forma, Ian Watt, em A ascensão do romance, expõe que:

O principal problema ao retratar-se a vida interior é a escala temporal. A experiência cotidiana do indivíduo compõe-se de um fluxo incessante de pensamentos, sentimentos e sensações; contudo a maioria das formas literárias – por exemplo, a biografia e até a autobiografia – tendem a ser uma malha temporal muito aberta para conseguir reter sua atualidade; e assim também a memória em geral. No entanto é esse conteúdo de consciência minuto a minuto que constitui a verdadeira personalidade do indivíduo e determina seu relacionamento com os outros: só através do contato com essa consciência o leitor pode participar inteiramente da vida de uma personagem de ficção. (WATT, 1996, p. 167)

Referente aos precursores do romance psicológico, pode-se destacar   Fiódor Dostoiévski. Em sua obra Memórias do subsolo, encontra-se o exemplo que se adequa ao exposto por Ian Watt, onde é apresentado um relato calcado nessa “experiência do cotidiano”, embora seja algo vivido em um processo de obscuridade, sem existir relações com qualquer traço de entendimento humano ao seu redor. O leitor entra em contato com o “conteúdo de consciência” vertido na materialidade da linguagem. Observe, a seguir, um trecho da obra:

Menti a respeito de mim mesmo quando disse, ainda há pouco, que era um funcionário maldoso. Menti de raiva. Eu apenas me divertia, quer com os solicitantes, quer com o oficial, mas, na realidade, nunca pude tornar-me mau. A todo momento constatava em mim a existência de muitos e muitos elementos contrários a isso. Sentia que esses elementos contraditórios realmente fervilhavam em mim. Sabia que eles haviam fervilhado a vida toda e que pediam para sair, mas eu não deixava. Não deixava, de propósito não os deixava extravasar. (DOSTOIÉVSKI, 2000, p.16)

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