TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Plano De Aula

Ensaios: Plano De Aula. Pesquise 859.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  18/5/2014  •  2.098 Palavras (9 Páginas)  •  262 Visualizações

Página 1 de 9

Comentário sobre o livro “Veias e Vinhos”

2014

GOIÂNIA

Comentário sobre “Veias e Vinhos” de Miguel Jorge

Comentário crítico sobre a obra “Veias e Vinhos” do escritor Miguel Jorge, realizado pelo discente Vitor Hugo de Aquino Iulianello, para a disciplina de Literatura Brasileira III, ministrada pelo Doutor, Mestre, Professor Éris.

2014

A literatura, enquanto arte, é o “entremeio” do real e imaginário, trabalha com o que há de mais profundo do humano e o expele em forma de arte. Sua forma metamórfica acompanha as mudanças e nuances sociais, históricas, psicológicas inerentes ao ser humano. Dessa forma, a literatura moderna caracteriza-se por não possuir uma forma pronta, um significado único e linearidade que eram comuns às suas predecessoras, pois que é o retrato de uma época descontínua, no sentido de que não há mais um referencial capaz de determinar o que são e de onde vieram os seres que buscam sentido em suas vidas. Portanto, a literatura busca em sua construção a Verossimilhança.

“Na verdade, no nosso século a narrativa se fragmenta em múltiplos centros. Estamos a desconfiar das visões totalizadoras e explicativas do universo, porque o vemos fragmentado, dividido, caótico.” (LEITE, Ligia Chiappini Moraes, O Foco Narrativo, 1985, p. 13)

Nesse sentido, “Veias e Vinhos”, obra do autor Miguel Jorge, age em estado de simpatia, no sentido de estar em consonância, com um fato real, de maneira que o leitor seja levado à angústia e desespero em face de um real/ficção, no qual o sentido primeiro, o crime real, é colocado em segundo plano, dando espaço às sensações, e a busca de novos sentidos para o texto.

Veias e Vinhos, romance de Miguel Jorge, despreza elementos constitutivos da estrutura narrativa comuns ao romance tradicional. Impossibilitado de configurar na sua totalidade a instabilidade do mundo atual por meio de uma estrutura narrativa tão padronizada, o romancista moderno põe em jogo as categorias narrativas tradicionais e busca uma estruturação que seja suficiente para dizer o mundo, a vida, o ser e a existência humana, já que a realidade apresenta-se em articulação multiforme: insegura indeterminável e flutuante. COSTA, Neuza Teixeira. A Elaboração do Artístico na Estruturação dos Elementos Constituintes do Romance Veias e Vinhos, de Miguel Jorge.)

O tecido do romance é construído através da alternação da narrativa, hora a personagem tem a voz, hora o pensamento é a “prioridade” narrativa, hora a personagem é paciente da narração. Dessa forma o autor demonstra domínio sobre seu escrito e abre espaço para a significação. O autor abre espaço para que a personagem dê vida a sua própria história, ou suas histórias (já que cada capítulo do livro representa a visão e a posição de cada personagem em relação ao que está acontecendo). Em “As Palavras e as Coisas”, Foucault explicita essa visão múltipla para ilustrar como cada olhar irá se direcionar para um ponto, criando, assim, uma nova significação:

“[...] Dos olhos do pintor até aquilo que ele olha, está traçada uma linha imperiosa que nós, os que olhamos, não poderíamos evitar: ela atravessa o quadro real e alcança, à frente de sua superfície, o lugar de onde vemos o pintor que nos observa; esse pontilhado nos atinge infalivelmente e nos liga à representação do quadro.

Aparentemente, esse lugar é simples; constitui-se de pura reciprocidade: olhamos um quadro de onde um pintor, por sua vez, nos contempla.” (FOUCAULT, Michel, As palavras e as coisas.)

Nesse sentido, o autor exerce a função de pintor: com o mundo servindo-o de modelo para sua arte, ele consegue captar essa realidade primeira e a transpõe de acordo com sua visão em algo que não é mais aquela primeira representação, criando um novo lugar, aonde o autor se transfigura em uma voz que não é mais a dele e sim a do narrador. Em seguida temos o leitor, buscando similaridades da obra com o real. Porém, para um bom leitor, essa primeira realidade não é a que interessa, pois a obra não é mais “real”, logo o leitor verá a si mesmo como modelo do primeiro modelo, ou seja a obra, e da obra buscará adequar seus significados.

“[...] a semelhança se situa do lado da imaginação, ou, mais exatamente, ela só aparece em virtude da imaginação, e a imaginação, em troca, só se exerce apoiando-se nela.” (FOUCAULT, Michel, As palavras e as coisas.)

Utilizando da metáfora “pintura” para descrever a obra de Miguel Jorge, teríamos um quadro descontínuo, embaralhado, com cores que se misturam e formam uma nova figura, rico de possibilidades significativas e discursos latentes. Tomando a voz, ou o foco narrativo da trama como base, esta é construída minuciosamente, utilizando-se de cada personagem para estabelecer um ponto diferente sobre cada parte da trama.

Cada capítulo representa um lugar, uma visão e um momento diferente na trama; por exemplo, no capítulo primeiro temos Ana, a filha de dois anos, em posição narrativa de monólogo: ela narra o crime (já que é a única testemunha), as ações, os sentimentos dela e dos algozes, além de ser Ana quem irá estabelecer o paradigma que o leitor terá, pois que ela estabelece a angústia inicial: temos o crime, mas não sabemos como ocorreu, nem porquê, ou simplesmente como irá se resolver (e se irá), de forma que temos aí o desejo inicial lançado ao leitor.

“Sou Ana, e dentro dos meus olhos as coisas se passam e repassam voltando o tempo vazio, desatando gritos. [...] Tento de qualquer jeito acreditar que eles não estão mortos, que brincam de dormir no chão frio.” (JORGE, Miguel, Veias e Vinhos, p. 8)

O relato de Ana em primeira pessoa torna o fato mais verdadeiro, narração se torna algo verossímil. Nessa técnica narrativa do romance moderno, o narrador, em lugar de conceder a si próprio um ponto de vista privilegiado para a sua informação, transfere-o para as personagens, renuncia à visão onisciente e passa a ver pelos os olhos da personagem.

“[...] a presença discreta de um narrador, que, por meio do contar e do mostrar equilibrados, possa dar a impressão ao leitor de que a

...

Baixar como (para membros premium)  txt (13 Kb)  
Continuar por mais 8 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com