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Reflexos da Modernidade na Poética de Mario Quintana

Por:   •  8/8/2019  •  Artigo  •  5.183 Palavras (21 Páginas)  •  138 Visualizações

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POLARIZAÇÃO E POÉTICA: FORÇAS OPOSTAS E HIBRIDISMO NA OBRA DE MARIO QUINANA

Bruna Ingryd Moreira Campos[1]

Maria Elvira Brito Campos[2]

Resumo: Nossas relações com o mundo são mediadas pelas representações sobre ele – às vezes mais do que pela própria realidade. O que costumamos entender como literatura pós-moderna ou contemporânea, ou até como “alta literatura”, está entrelaçado a um conjunto de ideias e imagens muito bem enraizadas no pensamento coletivo. Os estudos literários, por sua vez, dependem de outras áreas de conhecimento, bem como dependem de nossa sensibilidade para escolher e acessar as melhores ferramentas para interpretar os nossos objetos. Elencando a tríade de Candido (2000) – autor, obra, público –, no decorrer do estudo analítico dos poemas em prosa e poemas em versos de Quintana, observamos as circunstâncias do meio social, que instigaram e interferiram no seu processo criativo e atentamos às leituras que permitissem-nos entender a influência do meio social sobre a obra de arte e a influência da obra de arte no meio social. Este artigo analisa três textos do poeta, atentando para o sucesso alcançado por Mario Quintana, que conseguiu fazer o que Lukács (1962) entende como papel do grande escritor: reunir dialeticamente os polos das questões modernas e capitalistas, em uma totalidade complexa.

Palavras-chave:  Mario Quintana; poesia social; modernidade; hibridismo;

Abstract: Our relations with the world are mediated by the representations about it – sometimes more than by reality itself. What we usually understand as postmodern or contemporary literature, or even as "noble literature", is intertwined with a set of ideas and images very well rooted in collective thought. Literary studies depend on other areas of knowledge, as well as depend on our sensitivity to choose and access the best ways to interpret our objects. In the course of the analytical study of Quintana’s poems, we observed the circumstances of the social environment which instigated and interfered in his creative process and readings that allowed us to understand the influence of the social environment on the work of art and the influence of the work of art in the social environment. This article analyzes three texts of the poet, focusing on the success achieved by Mario Quintana, who managed accomplish what Lukács (1962) understands as the great writer's role: dialectically gathering the poles of modern and capitalist issues in a complex totality.

Key words: Mario Quintana; social poetry; modernity; hybridism;

Cultivar o hábito da leitura de poesia é um meio de alimentar constantemente a alma, o espírito, o corpo. E, com toda sua vida (e morte), a poesia não funciona como uma pílula salvadora receitada somente para os dias tristes. Trabalhar com textos poéticos, sejam eles poemáticos ou prosaicos, demanda, a priori, olhos bem treinados, disciplina e uma capacidade de ultrapassar a linha daquilo que é óbvio. Basta lembrar do que fala Leminski sobre a utilidade da poesia.

“O amor. A amizade. O convívio. O júbilo do gol. A festa. A embriaguez. A poesia. A rebeldia. Os estados de graça. A possessão diabólica. A plenitude da carne. O orgasmo. Estas coisas não precisam de justificação nem de justificativas. Todos sabemos que elas são a própria finalidade da vida. [...] Fazemos as coisas úteis para ter acesso a estes dons absolutos e finais. A luta do trabalhador por melhores condições de vida é, no fundo, luta pelo acesso a estes bens, brilhando além dos horizontes estreitos do útil, do prático e do lucro. Coisas inúteis (ou "in-úteis") são a própria finalidade da vida. Vivemos num mundo contra a vida. A verdadeira vida. [...] A poesia é o princípio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste mundo não suportam o prazer. [...] A função da poesia é a função do prazer na vida humana. Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama a poesia. Ama outra coisa. Afinal, a arte só tem alcance prático em suas manifestações inferiores, na diluição da informação original. Os que exigem conteúdos querem que a poesia produza um lucro ideológico. O lucro da poesia, quando verdadeira, é o surgimento de novos objetos no mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma capacidade in-útil. Além da utilidade. Existe uma política na poesia que não se confunde com a política que vai na cabeça dos políticos. [...] ” (grifo nosso)

Em suas reflexões sobre o papel da arte nos tempos atuais, Regina Delcastagné[3] nos leva a refletir sobre como nossas relações com o mundo são mediadas pelas representações sobre ele – às vezes mais do que pela própria realidade. Por mais que nos esforcemos para olhar em volta, para entender o que vem sendo produzido no momento, o que costumamos entender como literatura contemporânea, ou como “alta literatura” está entrelaçado a um conjunto de ideias e imagens muito bem enraizadas.

Estudar literatura não significa se fechar em um quarto com um livro e não levantar a cabeça dele, sem olhar ao redor é impossível entendê-lo. Por isso, também, os estudos literários dependem de outras áreas de conhecimento e dependem da nossa sensibilidade para escolher e acessar as melhores ferramentas para interpretar os nossos objetos.

Vemos o futuro repetir o passado. Parafraseamos Cazuza[4] para lembrar-nos, que em meio ao caos, perpassando a sequência de baques que aflige diariamente aqueles que sonham ou pensam no amanhã, é possível combater com as armas que nos restam. A poesia dá vida e inspira a resistir. Assim, voltamo-nos para a história de quem permaneceu humano quando os tempos também eram difíceis e se apropria da função humanizadora da poesia. Ganham forças as palavras de Octávio Paz (1982): a poesia é “operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza.”

Elegemos, para este estudo, a abundante poesia de Mario Quintana para dedicar atenção e perceber o engajamento poético do artista, que produziu durante quase todos os eventos do século XX. Analisar sua obra é tarefa complexa que causa inquietações, dada a heterogeneidade e extensão de sua obra, que nos permite observar de modo relevante os aspectos formais e temáticos de sua criação poética.

Para este estudo, foi necessário compreender que o engajamento deste artista foi essencialmente poético. Ainda que contemporâneo aos modernistas brasileiros – publicou seu primeiro livro de poemas em 1940, com 35 sonetos –, seu comportamento e produção literária eram diferenciados, inclusive no que se tratava das manifestações de suas críticas sociais e indignações.

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