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Sobre a anormalidade e o anormal – notas para um julgamento (voraz) da normalidade

Por:   •  13/5/2017  •  Resenha  •  840 Palavras (4 Páginas)  •  757 Visualizações

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SKLIAR, Carlos. Sobre a anormalidade e o anormal – notas para um julgamento (voraz) da normalidade. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse ai?. Trad. de Giane Lessa, Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

Fichamento de texto elaborado por Icléia Caires Moreira (PG-UFMS)

Carlos Bernardo Skliar é doutor em Ciências da Recuperação Humana pela Universidad Del Museo Social Argentino, é Pesquisador Principal - Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales - Argentina. Atua na área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação. Neste artigo em análise, o autor discorre sobre o binômio anormalidade versus normalidade com objetivo de problematizar que a normalidade, estrategicamente, inventa a si para “massacrar”, “encarcerar” e “domesticar” o outro, para manter-se como um padrão instituído que se corporifica na estilização incomensurável da mesmidade.

Segundo o autor, esse processo coloca a normalidade como uma representação de um paraíso a ser atingido, que faz os sujeitos se tornarem hostis ao outro, ao diferente. Tal situação se dá na chancela da hostipitalidade derrideana, em que o outro configura-se como um hóspede sempre hostilizado pela norma. A mesmidade cria os monstros de seu tempo e produz antídotos de extermínio e de ocultação da diferença. Instala o controle das fronteiras entre corpo e mente e direciona as decisões sobre os espaços e tempos da alteridade.

Skliar (2003) se vale do sujeito deficiente alvo da exclusão e de uma representação estereotipada para demonstrar em seu artigo que a sociedade hegemônica constrói discursivamente valores e normas que dão corpo a um dizer sobre o outro, que regula e direciona a visão, não só das pessoas com deficiência, mas também das pessoas consideradas normais. A deflagração da incompletude por parte dos ditos normais torna o outro alvo de curiosidade, objeto de correção, porque fere de morte a normalidade, coloca em risco a suposta perfeição egocêntrica da normalidade, cuja infame tentação é a invenção do anormal para sustenta-se.

Para colocar em prática esse panorama da exclusão que sustenta o padrão de normalidade, Skliar (2003) demonstra algumas estratégias do campo educacional. Uma delas está na própria nomenclatura de “educação especial” que coloca o ensino ao deficiente na chancela do diferente, com uma fronteira levantada em relação a educação dita normal, um locus dito privilegiado, lugar onde se volta o olhar para alteridade do deficiente permeado de dispositivos e tecnologias usadas para orientar uma suposta normalização. Pode-se dizer que a educação especial se trata de uma espacialidade colonial que define o lugar no mundo relegado aos deficientes, que acaba por ser permanentemente relacionado e confundido com seu lugar institucional que, segundo o autor, sempre foi profanado pela perversidade de se pensar tudo em termos de inclusão e exclusão.

Nessa esteira reflexiva, o pesquisador traz para debate o fato de que educação especial e alteridade deficiente não se constituem necessariamente como reciprocidade, são na realidade campos subteóricos. Que colaboram para a construção de uma representação excludente do outro. Desta forma, é possível dizer que a deficiência não é uma questão biológica e/ou educacional, mas fruto de uma retórica cultural relacionada a ideia de normalidade e sua historicidade.

 Deste processo a educação especial conserva ainda traços iluministas de análise quanto a identidade da alteridade deficiente, ainda está presa a binômios como normalidade/anormalidade, racionalidade/irracionalidade, educabilidade/ineducabilidade, completude/incompletude como elementos decisivos no caminhar da produção do discurso e da prática pedagógica. Os sujeitos submetidos a esta ordem discursiva acabam sendo homogeneizados, infantilizados, naturalizados pela falta que os constitui. Vê-se cada vez mais a insurgência da medicalização atrelada a ações educativas na tentativa de normalizar o outro. Aqui, o autor não se refere somente a medicalização do corpo do deficiente, mas também a medicalização de sua existência, de sua escolarização, de sua sexualidade, de sua vida e de sua morte. Assim, podemos inferir deste cenário, que o sujeito deficiente e produto de uma fabricação da normalidade.

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