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Tropicália: Uma Face Carnavalizada Da Carta De Caminha

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Por:   •  18/10/2013  •  7.895 Palavras (32 Páginas)  •  449 Visualizações

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Tropicália: uma face carnavalizada da Carta de Caminha

Tropicália: a carnivalesque face of Caminha’s letter

Abigail Ribeiro Gomes

Graduada em Letras – UNITAU e Mestra em Ciências Sociais – CPDA / UFRuralRJ

Resumo

Este artigo estabelece um estudo comparativo entre A Carta a El Rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, e “Tropicália”, de Caetano Veloso. Apesar de serem dois textos temporalmente distantes e de características estéticas muito distintas – o primeiro trata-se de uma carta relatório e o segundo de uma canção de grande difusão no meio artístico brasileiro – os textos estabelecem entre si uma polêmica, velada, que reafirma o auto conhecimento expresso no segundo, tendo como referente as informações constantes do primeiro. Desta forma, ambos possuem um papel relevante dentro do contexto em que foram produzidos, contribuindo para a consolidação das características culturais brasileiras.

Palavras-chaves: Pero Vaz de Caminha, Tropicália, Caetano Veloso

Abstract

This article proposes a comparative study between A Carta a El Rei Dom Manuel Sobre o Achamento do Brasil (Letter to The King Dom Manuel About the Finding of Brazil), written by Pero Vaz de Caminha, and the lyrics of the song “Tropicália”, made by Caetano Veloso. Despite of being texts chronologically distant and which have very different esthetic characteristics – the first one is a report letter and the second one is a song of a great diffusion in Brazilian Artistic mean – the texts stablish between themselves a polemics, hidden, which reinforces the self knowledge expressed in the second text, which has as reference the information present in the first one. This way, both have a relevant role in the context they were produced, and contribute for the consolidation of Brazilian cultural characteristics.

Key Word: Pero Vaz de Caminha, Tropicália, Caetano Veloso

Tropicália: uma face carnavalizada da Carta de Caminha

Abigail Ribeiro Gomes

Há em todas as culturas elementos considerados canônicos, constantemente revisitados, que servem de paradigma para a criação de novas manifestações culturais. Na cultura brasileira, um desses elementos é a carta escrita por um dos integrantes da frota portuguesa, liderada por Pedro Álvares Cabral, enviada para a tomada de posse e reconhecimento de terras divididas pelo Tratado de Tordesilhas. Esse integrante, Pero Vaz de Caminha, recebeu a incumbência de relatar pormenorizadamente a chegada da frota portuguesa à terra para eles praticamente desconhecida até então. Assim, ele produziu uma carta, enviada ao rei de Portugal, detalhando características naturais do local, a existência e o perfil dos habitantes nativos e todos os acontecimentos referentes aos portugueses e aos habitantes nativos, tanto em contato mútuo quanto dentro de seus grupos, durante a estada da frota nas terras encontradas.

Por causa da riqueza de detalhes e do deslumbramento evidente nas palavras de seu autor, a carta foi considerada por muitos como a certidão de nascimento do Brasil. Desta forma, ela assumiu, como dito anteriormente, o papel de texto referencial na produção cultural, principalmente daquela voltada para a consolidação das características peculiares da cultura brasileira. Por isso, há diversas obras, principalmente literárias, que se referem à carta-relatório escrita por Caminha.

Dentre as obras produzidas em diálogo com o texto de Caminha, algumas reforçam sua condição “sagrada” dentro da cultura brasileira, estabelecendo uma referência de exaltação. No livro de Maria Aparecida Ribeiro (2003), encontram-se diversas relações estabelecidas entre a Carta de Caminha e obras artísticas que se relacionam com ela. Nesse livro, a autora apresentou pequenas análises sobre quais aspectos da Carta foram referidos em diversas obras. Dentre estas obras, algumas se propõem a exaltar a empreitada de Caminha, destacando suas referências. Entretanto, há a menção a obras que travam com o texto fonte um diálogo que desmistifica sua condição de paradigma. A supracitada autora mencionou paródias feitas no final do século XIX e obras constantes no período modernista.

Além das obras inseridas nos movimentos mencionados acima, a autora também observou, num mesmo capítulo, uma relação entre a Carta de Caminha com o filme Terra em transe, de Glauber Rocha, e com a canção “Tropicália”, de Caetano Veloso. Entretanto, a autora não explicitou exatamente que tipo de relação seria essa estabelecida com a canção de Caetano. Suas observações limitaram-se ao seguinte:

Motivado por Terra em Transe e também por ‘Coisas Nossas’, de Noel Rosa, no mesmo ano de 1967, Caetano Veloso compôs ‘Tropicália’, cuja introdução, improvisada pelo percussionista Dirceu no momento da gravação, ‘ao ouvir cantos de pássaros e intervenções do naipe de metais’, (Veloso, 1997:185) sugeriu-lhe a exuberância decantada na Carta (...) ‘Tropicália” não tinha o mesmo tom de crítica de Glauber, mas sua letra também constituía uma alegoria do Brasil, associando fragmentos do antigo e do novo, da miséria e da riqueza, o urbano e o rural, mostrando o Brasil da convivência de contrários e referindo Brasília. (RIBEIRO, 2003: 128)

Chamou-me a atenção à observação da autora a respeito da relação entre a Carta de Caminha e a canção de Caetano, apesar da ausência de pormenores. Desta feita, proponho um estudo que verifique se há relação entre os textos mencionados e, em caso afirmativo, como essa relação se processa.

Para esta empreitada, procurei inicialmente quais foram as palavras do compositor a respeito da proposta de concepção da canção. No livro Verdade Tropical, Caetano Veloso dedicou um capítulo especialmente à canção, como motivadora e representante do movimento Tropicalista. Porém, no início do capítulo, ele dedicou algumas palavras a respeito da concepção inicial de sua canção.

Pensando num velho samba de Noel Rosa chamado ‘Coisas Nossas’, que enumerava cenas, personagens típicos e características culturais da vida brasileira, e os emoldurava

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