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UMA CONSOLIDAÇÃO DOS IDEAIS DA SEMANA DE ARTE MODERNA

Por:   •  7/7/2020  •  Monografia  •  23.304 Palavras (94 Páginas)  •  169 Visualizações

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CAPÍTULO I

1 A PROSA DA SEGUNDA FASE MODERNISTA: uma consolidação dos ideais da Semana de Arte Moderna

A Segunda Geração Modernista ocorreu entre 1930 a 1945. Esta fase literária foi um período de amadurecimento da Primeira Geração Moderna, pois houve a consolidação de uma identidade nacional com a construção de traços fiéis do povo brasileiro e sua paisagem sem enfeites e sentimentalismos, diferenciando da prosa da tendência literária romântica. Nas obras, há um engajamento político e social em que não se interessa apenas o fazer artístico, mas fazer uma reflexão das questões políticas e sociais nas narrativas.

O Modernismo teve início com a Semana de Arte Moderna, que foi à primeira manifestação pública dos modernistas brasileiros que ocorreu entre 13 a 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Neste evento, foram realizadas exposições, recitais de poesia, concertos e conferências no Brasil. Algumas tendências das vanguardas europeias influenciaram esta fase: o futurismo, o dadaísmo, o cubismo, pois todas essas vanguardas geraram uma situação de oposição à tradição literária ocidental. Do grupo que idealizou a programação e atuou nos eventos, entre os mais conhecidos, estavam os escritores: Graça Aranha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, os artistas plásticos:  Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e os músicos: Heitor Villa-Lobos e Guiomar Novais.

De acordo com Mário de Andrade (1976, p.231) “Manifestado especialmente pela arte, mas manchando também com violência os costumes sociais e políticos, o movimento modernista foi o prenunciador, o preparador e por muitas partes o criador de um estado de espírito nacional”. Para ele, o evento modernista de 22 buscava um nacionalismo crítico e destruidor em relação às obras de outras escolas literárias, pois os artistas da época queriam uma nova perspectiva de “brasilidade”, de negação do passado, um forte desejo de liberdade no uso das estruturas da língua e tinham em mente construir uma nova literatura, sem influência estrangeira, com nossa verdadeira identidade brasileira.

Todos esses ideais de construir esse rompimento, com traços demolidores do passado, para formar uma nova literatura, caracterizou a Primeira Geração Moderna que ocorreu entre 1922 a 1930. De acordo com Antonio Candido (1977, p.7) a primeira fase modernista tinha “como finalidade principal superar a literatura vigente, formada pelos restos do Naturalismo, do Parnasianismo e do Simbolismo.” Conforme as ideias de Candido (1977) a Primeira Geração Moderna trouxe então, um espírito revolucionário, que pretendia construir uma nova literatura, rompendo com as outras escolas literárias, inclusive com os rígidos padrões parnasianos, buscando uma literatura nacional, não apegada à literatura que retratasse sobre outros países, mas que descrevesse sobre o Brasil, trazendo à tona uma nova realidade, incorporando valores modernos e inovadores à literatura e às artes em geral. Compreende-se então, que “O modernismo foi um movimento de ideias e não somente das letras que modificou profundamente a arte e o pensamento.” (CANDIDO, 2002, p.32)

A Primeira Geração Modernista contribuiu de forma significativa para os escritores da prosa na Segunda Geração Modernista, pois segundo Massaud Moisés (1989, p.161) em “parte decorrente das mudanças operadas após as revoluções de 1930 e 1932, esse estado de coisas também se deve às sementes lançadas pelo movimento de 22.” Para ele, o manifesto foi indispensável nos anos 30, pois a Semana de Arte Moderna foi a “semente” que serviu de base e fortalecimento na década de 30 para os escritores da prosa da Segunda Geração Modernista, concretizando todas às lutas literárias anteriormente citadas, inclusive a liberdade artística e a consolidação de uma identidade nacional. Porém, é importante ressaltar que a geração de 30 foi menos demolidora que a fase anterior, marcada pelo espírito construtivo e pela estabilização das conquistas da Geração de 22. Antonio Candido (1983) explica que nos anos 20, as manifestações artísticas ocasionaram na cultura brasileira espanto, rejeição, desconfiança ao público ou até mesmo foram consideradas manifestações agressivas, devido à intensa vontade de rompimento com o passado literário, inclusive na literatura, devido a Semana de Arte Moderna. Segundo ele, esta busca pela “brasilidade” e “nacionalismo” se consolida na prosa modernista de 30. De acordo com Candido (1983, p.27) os “anos 30 foram de engajamento político, religioso e social no campo da cultura que dá contorno especial à fisionomia do período.” Conforme as ideias de Candido, a questão social, religiosa e política vem à tona como inspiração para os artistas da época, trazendo um olhar diferenciado dos anos anteriores. Há uma forte preocupação social nas obras literárias nesta segunda fase modernista, influenciada pelas mudanças causadas pela revolução de 30 e pela crise econômica em 1929, tornando-se escritores engajados e preocupados com os problemas sociais vividos pela população brasileira e a influência religiosa passa a ser uma temática forte nos textos.

Os principais escritores que se destacaram na prosa de 30 foram: Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico Veríssimo e Dionélio Machado. Os escritores dessa geração modernista apresentavam uma visão crítica do Brasil e a prosa brasileira foi bastante significativa para o país nesta fase de 1930 a 1945 porque deu enfoque a questões sociais, em que foi possível perceber os problemas sociais vividos pelo povo brasileiro. Várias temáticas foram abordadas: a seca, o vaqueiro, o sertanejo, a cana de açúcar, o cacau, as famílias famintas, a submissão do trabalhador ao latifúndio, o retirante, o coronelismo, o cangaço, o misticismo e a injustiça social.

Uma característica literária bastante evidente na prosa da segunda fase modernista é que não havia preocupação pela estética nas obras, pois os autores desta tendência literária valorizaram a liberdade artística, sem uma maior preocupação formal e a temática do êxodo rural ganhou espaço nas obras. A intenção era mostrar a linguagem regional do povo, seus costumes e valores culturais e as gírias locais. Segundo Bosi (2006) devido a toda essa preocupação em retratar a realidade, a prosa de 30 é denominada neorrealista, pois traz à tona características do Realismo/ Naturalismo. Candido (1977) explica que no campo da prosa, há a entrada da cena literária dos regionalistas nordestinos que representaram um espécie de  modernização do Naturalismo, enquanto outros enriquecem o romance  com preocupações psicológicas e sociais. Outro aspecto importante é que conforme Afrânio Coutinho (1968, p. 215) “diferente da primeira fase do movimento de 1922 a 1930, que predominou a poesia, tanto a prosa quanto a poesia foram predominantes na arte literária desse período.”

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