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MIDIATIVISMOS IMAGÉTICOS EM OCUPAÇÕES SECUNDARISTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Por:   •  10/8/2021  •  Artigo  •  2.399 Palavras (10 Páginas)  •  76 Visualizações

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MIDIATIVISMOS IMAGÉTICOS EM OCUPAÇÕES SECUNDARISTAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Raquel Silva Barros[1]

Palavras-chave:

Visualidade; Ocupações Secundaristas; Facebook; Redes digitais; Pesquisa online.

As formas de convivência tradicional da escola esbarra com as dinâmicas estabelecidas através dos usos de dispositivos móveis conectados pelas pessoas que ali se encontram. Artefatos tecnológicos com câmeras que possibilitam o indivíduo registrar, compartilhar e recriar imagens do cotidiano. A cultura vem se modificando e cada vez mais o digital e o visual estão imbricados nessas transformações.

        Pensando nesse cenário, apresento este estudo que traz o recorte de uma investigação de tese de  doutorado sobre o uso de imagens como forma de realizar ativismos a partir da visibilidade para os eventos de Ocupação Estudantil Secundaristas ocorridos em três escolas ocupadas no Estado do Rio de Janeiro no ano de 2016. Duas eram escolas estaduais e uma federal. As duas primeiras localizadas no município do Rio de Janeiro e outra em um município da Baixada Fluminense.

        Descontentes com diversas situações que vinham culminando na precarização do ensino e no fechamento de escolas, alunos de todo o país se manifestaram por meio de ocupações do espaço da escola. As ações dos estudantes foram empreendidas utilizando dispositivos digitais móveis para registro, divulgação, debate e tomada de ações sobre o movimento.

Nesse período, imagens e vídeos foram realizados e veiculados em diversas interfaces digitais dentre elas o Facebook. Criando fanpages e utilizando-as como canais oficiais de comunicação da ocupação, os jovens ocupantes fortaleceram o movimento a partir de sua amplitude de divulgação, distribuição e diálogo.

 Buscamos analisar os principais temas que atravessam as publicações tendo em vista as diferentes representações tecidas no contexto do movimento através de visualidades dialogando com os sujeitos. Como as visualidades aparecem nas páginas criadas? Quais são os principais temas trazidos a partir das imagens publicadas nas fanpages?

Utilizo o campo teórico pautado nos estudos de  visualidades através do conceito de cultura visual (MIRZOEFF, 1998, 2015; CAMPOS, 2012, 2013) compreendendo que a cultura contemporânea está permeada de imagens sendo produzidas e compartilhadas  por jovens na atualidade (CARRANO, 2012; BRENNER & CARRANO, 2014) através de dispositivos móveis conectados em rede (CASTELLS, 2013; LEMOS & LEVÝ, 2010; MALINI & AUTOUN, 2013; MALINI, 2016) promovendo ações ativistas através das mídias.

A pesquisa online com visualidades foi pensada como potência para refletir no uso com/através/de imagens no contexto das ações desenvolvidas pelos jovens nas ocupações estudantis. Os estudos de cultura visual compreendendo os usos, criação e partilha de imagens no contexto de uma cultura do digital é percebido como aporte metodológico pensado neste estudo. Autores como Hernandez e Aguierre, também pesquisadores da cultura visual, ajudam nessa construção para dialogar com as imagens produzidas e compartilhadas.

CULTURA VISUAL

Assistimos na atualidade a um leque de olhos que se mantém conectados, vidrados nas diferentes  telas de artefatos tecnológicos. Telas que projetam imagens cada vez mais nítidas, com seus brilhos, contrastes e fluidez que se tornam cada vez mais vivos, similar ao que nossos olhos veem fora delas. Os jovens ocupantes, estão inseridos em uma sociedade onde as imagens se fazem presentes ampliando e modificando o nosso olhar sobre um determinado ponto.

        Constituindo uma área de estudos independente por volta dos anos 90, em grande parte, devido ao surgimento da mídia digital, os estudos de cultura visual, de acordo com Mirzoeff “preocupam-se com eventos visuais nos quais informações são consumidas pelo usuário em uma interface com a tecnologia visual” (1998, p. 7). Para Mirzoeff uma das características que marca o campo de estudos da cultura visual na contemporaneidade está no fato de visualizarmos coisas que não são visuais em si.

Nesse sentido, pensar em cultura visual abarcaria não apenas analisar as visualidades que se apresentam, mas de que maneira elas estariam fazendo sentido para aqueles que a produzem e a percebem. “A cultura visual direciona nossa atenção longe de configurações estruturadas, formais de visualização, como o cinema e galeria de arte para a centralidade da experiência visual na vida cotidiana” (Ibid., p. 7).

Para pensarmos na cultura visual é importante destacarmos que a visão e a visualidades estão atreladas ao seu conceito. Um dos autores que nos ajudam nessa compreensão é Foster (1988 apud Sérvio, 2014) destacando que a visão está atrelada a operação física do olhar. Está atrelado ao aspecto biológico em que o sujeito vê o mundo através de seus olhos sendo o que é visto processado pelo seu cérebro. “Se vemos da maneira como vemos é porque o cérebro atua sobre as informações que nossos olhos conseguem codificar. Sabe-se também que nem todas as informações enviadas pelos olhos ao cérebro são conscientemente processadas (SÉRVIO, 2014, p. 197)”.

A visualidade, por sua vez, é compreendida como a dimensão cultural dos olhos daquele que vê. O contexto histórico e social são aspectos que passam pela dimensão desse olhar. Mirzoeff (1998) nos revela que a cultura visual se entrelaça exatemente nas construções simbólicas que estabelecemos por meio da cultura. A cultura, nesse sentido, é o fator-chave para pensarmos nessa relação que é estabelecida “tornando-se indispensável para qualquer análise que almeje aprofundar-se na compreensão de experiências visuais” (MIRZOEFF, 1998, p. 199, tradução nossa).

A cultura visual tem como base a visualidade já que os aspectos que a envolvem não se limita  a identificá-la a partir do ponto do que o sujeito vê, porém, relacionando o conjunto de fatores que está ao redor daquilo que é visto. Os aspectos inato e cultural, portanto, são elementos que estão associados ao se pensar a cultura visual. Marques e Campos nos revelam essa acepção dizendo que “a visualidade remete não apenas para as questões de percepção, mas também para a interpretação e significação” (2017, p. 5).

Nosso ato de ver é cultural, ou seja, recebe influências  e são afetados pela construção social da qual estamos inseridos. Desde que nascemos recebemos essas influências  e construímos nossas referências. Pensar na relação do que observamos e buscamos compreender perpassa pelo contexto social, histórico, cultural, econômico e político.

Estando presente em nosso dia a dia, as imagens se apresentam me outdoors, tablets e as mais diversas telas digitais, capa de um caderno, livros, fotografias etc. As imagens se materializam, se virtualizam e está em nosso imaginário nas mais diversas formas. Nesse sentido

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