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O GASTON BACHELARD

Por:   •  25/8/2015  •  Projeto de pesquisa  •  9.974 Palavras (40 Páginas)  •  314 Visualizações

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Faculdade Anhanguera “Polo Anápolis”

Professor: Marcelo Gomides

Aluna: Carla Renata Caldeiras De Assis

RA: 6786412552

Período: 6° “A”

-GASTON BACHELARD

GASTON BACHELARD

- BIOGRAFIA:

        De origem humilde, Bachelard sempre trabalhou enquanto estudava. Pretendia formar-se engenheiro até que a Primeira Guerra Mundial eclodiu e impossibilitou-lhe a conclusão deste projeto. Passa a lecionar no curso secundário as matérias de física e química. Aos 35 anos inicia os estudos de filosofia, a qual também passa a lecionar. Suas primeiras teses foram publicadas em 1928 (Ensaios sobre o conhecimento aproximado e Estudo sobre a evolução de um problema de Física: a propagação térmica dos sólidos). Seu nome passa a se projetar e é convidado, em 1930, a lecionar na Faculdade de Dijon. Mais tarde, em 1940, vai para a Sorbonne, onde passa a lecionar cursos que são muito disputados pelos alunos devido ao espírito livre, original e profundo deste filósofo que, antes de tudo, sempre foi um professor. Bachelard ingressa em 1955 na Academia das Ciências Morais e Políticas da França e, em 1961, é laureado com o Grande Prêmio Nacional de Letras. Bachelard morreu em 1962.

-Substancialismo:

A definição de substancialismo e as rupturas epistemológicas:

O objetivo desta primeira parte do ensaio é apontar a crítica de Bachelard ao substancialismo que subsiste como fundamento da ciência clássica. Com este fim, discutiremos alguns conceitos utilizados por Bachelard em sua epistemologia, como o de substancialismo, o de obstáculo epistemológico, o de psicanálise do conhecimento objetivo. A abordagem do que Bachelard chama de ruptura epistemológica é necessária para que se possa compreender a afirmação de que o conhecimento científico é completamente diferente do senso comum, que não é uma continuação do discurso normal. Isto será importante quando mostrarmos, a partir de Bachelard, a necessidade de se propor uma abordagem não-substancialista, mas matemá- tica, para dar conta do conhecimento científico contemporâneo. É importante, antes de introduzirmo-nos nos temas da epistemologia, esclarecer rapidamente qual o juízo que consideramos pertinente à filosofia de Bachelard sobre o que se pode compreender como substancialismo e relacioná-lo às atitudes afins: o verbalismo, o realismo, o empirismo. O substancialismo é uma atitude que conhece o mundo a partir da suposição de que as coisas são delimitadas (individualmente e em suas características qualitativas e relacionais) do mesmo modo como a linguagem comum as trata. A substância, contudo, é uma categoria gramatical: considerá-la, fora da linguagem, constituinte da estrutura íntima do mundo é assumir um substancialismo gramatical, em que só se pode conhecer ao dizer, em que só se pode conhecer o que pode ser dito. Essa suposição não é consciente (a consciência da influência da linguagem na organização do mundo, uma organização que seria abstrata, daria lugar não a um substancialismo, mas a uma espécie de nominalismo), o que torna o substancialismo realista. Desse modo, além de se relacionar ao verbalismo, a atitude substancialista liga-se também à atitude realista. O saber que pretende conhecer a estrutura do mundo a partir da linguagem, que é substancialista, é um saber que afirma a realidade concreta dos entes abstratos, como os entes lingüísticos: os entes linguísticos podem ser experimentados sensivelmente, podem ser escutados, e por esta razão podem ser conhecidos e ditos. Assim, o saber substancialista tem o status metafísico de saber realista. Ao verbalismo e ao realismo substancialistas, identifica-se o empirismo. Para o empirismo, a totalidade do saber vem da experiência sensível. A linguagem e a realidade do mundo seriam experiências sensíveis, e, portanto seriam bons fundamentos para o conhecimento. O que não pudesse ser experimentado sensivelmente não possuiria valor de conhecimento. O modo de conhecer substancialista, portanto, pode ser sintetizado numa frase: a experiência sensível deve, pela organização da linguagem (em que os conceitos são termos realisticamente concretos), constituir o conhecimento da realidade do mundo. Agora que esclarecemos nossa idéia de substancialismo, podemos nos preocupar em definir o que entendemos por ruptura epistemológica. Ruptura epistemológica pode ser compreendida em dois sentidos: no sentido de uma descontinuidade que ocorre no desenvolvimento histórico dos saberes e no sentido de uma inadequação entre o saber comum e o conhecimento científico. A ruptura histórica no conhecimento científico significa uma negação de uma ciência anterior por uma posterior; quando surge um novo solo epistemológico (na expressão de Foucault) ou um novo paradigma (no conceito de Kuhn), abre-se uma espécie de abismo que torna os conceitos e as experiências de uma ciência anterior irredutível aos conceitos e experiências de outra ciência posterior, e vice-versa. Aí entra o papel da história das ciências: Bachelard propõe que a tarefa da história das ciências é revelar como novas teorias científicas superam, negando, teorias antigas. Numa conferência pronunciada em 1950, Bachelard fala das revoluções históricas nas ciências como uma "liquidação de um passado. Uma nova teoria é, assim, sempre uma ruptura em relação à antiga, e não um desenvolvimento contínuo. Podemos falar de ruptura também independente de revoluções científicas na história podemos falar de ruptura como a descontinuidade entre o conhecimento comum e o conhecimento científico. A ruptura entre o conhecimento comum e o conhecimento científico significa a diferença fundamental existente entre as representações do saber vulgar e as representações matemáticas do conhecimento nas ciências contemporâneas. O senso comum se satisfaz com o fenômeno dado; a ciência, ao contrário, se constrói de forma árdua e difícil através de um trabalho incessante que rejeita as primeiras intuições. A cultura científica contemporânea se constitui ultrapassando o saber comum. Como Bachelard demonstra, a física e a química contemporâneas rompem com o substancialismo; suas construções não são inteiramente inteligíveis à intuição verbal, à intuição realista, à intuição empirista. Suas construções não podem ser explicadas corretamente num discurso normal, mas apenas num discurso técnico-matemático. O saber comum é substancialista: é verbal, realista, empírico. O conhecimento científico é oposto: não verbal (mas matemático), não realista (mas abstrato) e não-empirista (mas racionalista). O saber comum é fenomênico; o conhecimento científico é fenômeno técnico . Bachelard considera o saber substancialista um saber que deve ser ultrapassado. Como demonstraremos até o final do texto, a ciência contemporânea constitui rupturas nos dois sentidos acima explicitados, no sentido histórico e no sentido da diferença entre senso comum e conhecimento científico. Bachelard identifica na ciência clássica o substancialismo, assim como identifica o substancialismo no saber comum. Ao romper com a ciência anterior e com o senso comum, a ciência contemporânea constituiria uma ruptura com o substancialismo. Um parêntesis deve aqui ser colocado. Bachelard não pretende propor um método científico. Não pretende regular a ciência, afirmar o que seria ou não seria científico: pretende apenas explicitar as práticas científicas de seu tempo, ou seja, da primeira metade do século XX. Assim, não constitui uma regra imóvel sobre a questão científica. Ora, Bachelard é inimigo daquilo que chama de "filosofias do imobilismo", ou seja, filosofias sistemáticas. No entanto, no Discurso Preliminar de A Formação do Espírito Científico, ao se voltar para a análise da história das ciências, Bachelard propõe uma divisão histórica bastante definida entre os períodos de "espírito pré- científico", "espírito científico" e "novo espírito científico". Haveria em tal atitude de Bachelard alguma incoerência? Acreditamos que, na medida em que sempre criticou as filosofias que se construíam com classificações, Bachelard tenha proposto semelhante separação epistemológica com intenção irônica. Aliás, não seria a única vez em que Bachelard se utiliza de ironias. Por toda a obra bachelardiana, e, principalmente, neste mesmo livro (que talvez seja onde Bachelard mais frequentemente utiliza sua sutil, pode-se reconhecer um fino humor para com seus oponentes filosóficos). Consideramos que a divisão de "espírito pré-científico", "científico" e "novo espírito científico" seja uma referência a um dos mais constantes alvos de Bachelard: Auguste Comte. Lembremo-nos da lei dos três estados comtiana: o primeiro estado do desenvolvimento humano seria o teológico (em que Deus é a referência obrigatória do homem); o segundo, o metafísico (no qual a ignorância da realidade e a descrença num Deus todo-poderoso levam a crer em relações misteriosas entre as coisas, nos espíritos, por exemplo); e, finalmente, o terceiro seria o estado positivo (único modo de o espírito humano conhecer as coisas em sua positividade, pela apreensão de leis universais). Note-se que Comte considera que tais leis seriam úteis em uma sociologia e em uma psicologia; Bachelard, analogicamente e não sem alguma ironia, propõe que não somente na história, mas também na vida pessoal o espírito passaria pelas fases do "espírito pré-científico", "científico" e "novo espírito científico".Sem citar Comte, Bachelard naturalmente reconhece o caráter grosseiro da divisão que produz na Formação do Espírito Científico, ao afirmar que suas três distinções do desenvolvimento do espírito seriam apenas utilizadas para obter uma clareza provisória, se fôssemos forçados a rotular de modo grosseiro as diferentes etapas históricas do pensamento científico. O "estado pré-científico" compreenderia, historicamente, para Bachelard, o período da antiguidade até o Renascimento e surgimento das ciências modernas, vindo até o século XVIII. O "estado científico", preparado no século XVIII, se estenderia pelo século XIX e chegaria ao início do século XX. O "novo espírito científico" teria início em 1905, no ano em que Einstein apresenta os três artigos fundamentais da Relatividade, no momento em que a Relatividade de Einstein deforma conceitos primordiais que eram tidos como fixados para sempre. A despeito do caráter claudicante, reconhecido pelo próprio Bachelard, da separação dos três momentos da história do desenvolvimento científico bachelardiana, podemos considerar que entre a categoria "espírito pré-científico", a de "espírito científico" e a de "novo espírito científico" há rupturas epistemológicas no sentido histórico de que falamos. Para Bachelard, certas características das ciências contemporâneas são completamente diferentes, constituem rupturas, em relação àquelas da ciência clássica. Entre essas características das ciências contemporâneas estão o afastamento do saber comum, a inversão da relação experiência teoria, a instituição de um racionalismo aplicado. O conhecimento científico contemporâneo se afasta do saber comum ao pretender tratar de uma realidade que não pode ser abordada pela sensibilidade humana. Nas escalas submicroscópicas da química e da física, não há qualquer possibilidade de conhecimento com as categorias normais do saber. O modo de conhecer deve ser reconstruído enquanto se afastam as categorias do senso comum, como as categorias substanciais. O conhecimento científico é um conhecimento que se produz matematicamente; o saber comum é um saber constituído substancialmente, isto é, gramaticalmente. Bachelard propõe que outra característica importante, marca das ciências contemporâneas, é a inversão do vetor epistemológico que regula as relações entre o modelo - a teoria - e a experiência. Se anteriormente a experiência regulava a classificação do objeto científico (dado) em um modelo, a ciência contemporânea cria um modelo matemático, uma representação não verbal, e realiza o objeto por intermédio de um fenômeno técnica. Outra característica das ciências contemporâneas é a instituição de um racionalismo aplicado, isto é, de um racionalismo que não autoriza o conhecimento a partir da razão somente, de uma razão idealista, mas que se aplica na experiência, pela constituição de uma técnica fundamentada na matemática. O racionalismo aplicado das ciências contemporâneas rompe com o empirismo e com os racionalismos ingênuos da ciência clássica. O conhecimento científico progride com rupturas. Estas rupturas são sinais de dificuldades no desenvolvimento científico anterior. Bachelard mostra que estas dificuldades são obstáculos epistemológicos; mostra também que tais obstáculos podem ser superados com uma psicanálise do conhecimento objetivo. Vamos tratar agora da questão do obstáculo epistemológico e da psicanálise do conhecimento objetivo.

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