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Bachelard - Formação do Espírito Científico

Por:   •  15/2/2020  •  Resenha  •  2.025 Palavras (9 Páginas)  •  268 Visualizações

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BACHELARD: A FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTIFICO. CONTRIBUIÇÃO PARA UMA PSICANÁLISE DO CONHECIMENTO.

Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física

Departamento de Física, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil

Jonatha Tavares Gonçalves

Julio César Pontes de Figueiredo

Regina Lúcia S. Alonso Campo

“No decurso de minha longa e variada carreira, nunca vi um educador mudar de método pedagógico. O educador não tem senso do fracasso justamente porque se acha um mestre. Quem ensina manda” (p. 24).

Sobre o autor

Gaston Bachelard (1884 - 1962), filósofo e poeta francês, teve origem humilde e sempre teve que conciliar trabalho e estudos. Tinha o intuito de se formar engenheiro até que a Primeira Guerra Mundial eclodiu e impossibilitou a sua conclusão. Passou então a lecionar as matérias de física e química em um curso secundário. Aos 35 anos iniciou os estudos em filosofia, o qual posteriormente também passou a lecionar.  

As suas primeiras teses foram publicadas em 1928 e em 1930 é convidado a lecionar na Faculdade de Dijon. Em 1940 se muda para Sorbonne, onde passa a lecionar cursos que são muito disputados pelos alunos devido ao espírito livre de Bachelard. Ele ingressou em 1955 na Academia das Ciências Morais e Políticas da França e, em 1961, é agraciado com o Grande Prêmio Nacional de Letras.

Bachelard morreu em 1962 e seu pensamento sempre esteve focado em questões relativos à filosofia da ciência.

Sobre “A Formação do Espírito Científico

        No famoso livro de Gaston Bachelard “A Formação do Espírito Científico”, constatamos um debate em torno da epistemologia das ciências, especialmente no que refere ao pensamento empírico, o qual é muito empregue nas ciências físicas e químicas, além da sua relação com a cultura científica.

        No discurso preambular identificamos uma constante predisposição ao debate particular à natureza daquilo que Bachelard chama de espírito científico, cuja função é “delinear os fenômenos e ordenar em série os acontecimentos de uma experiência” (p.7). Para isso é preciso que durante o processo de construção do pensamento formal suceda um constatação da dimensão geométrica do espaço e também de seu conteúdo.

Essa geometrização da realidade, que por diversas vezes parece ser exercida de maneira satisfatória e inteligível, não é suficiente para compreender essa realidade. Neste sentido, Bachelard destaca que é difícil constatar que essa primeira interpretação geométrica, estabelecida num realismo ingénuo das propriedades espaciais, provoca ligações mais ocultas, leis topológicas menos solidárias com as relações métricas imediatamente aparentes, ou seja, ligações essenciais mais complexas do que os que se costuma achar na representação geométrica. Vemos então a carência de trabalhar sob o espaço, no nível das relações essenciais que amparam tanto o espaço quantos os fenômenos.

        Nossas experiências na Terra são criadas no plano social, que segundo Bachelard quando tendem a ser concreta e real, possuem a noção de obstáculo, que é concebida no plano epistemológico e relacionado ao desenvolvimento do pensar da sociedade em diferentes períodos. Estes períodos podem ser distinguidos e classificados em: estado pré-científico, estado científico e estado do novo espírito científico. Bachelard explica que

mesmo no novo homem, permanecem vestígios do homem velho. Em nós, o século XVIII prossegue sua vida latente; pode até voltar. [...] Ninguém pode arrogar-se o espírito científico enquanto não estiver seguro, em qualquer momento da vida do pensamento, de reconstruir todo o saber (p. 10).

Segundo Bachelard a formação do espírito científico passa por um estágio intermediário do pensamento que é a geometrização, tendo em vista que para haver entendimento sobre qualquer fenômeno, passamos primeiramente de uma imagem para a sua forma geométrica, e assim para a interpretação cognitiva. Esse processo é descrito como o aspecto de desenvolvimento psicológico do pensamento, e individualmente se diferencia em três estados, aos quais Bachelard atribui um caráter de lei

  1. Estado concreto: restrito às primeiras imagens do fenômeno, apoiado em literaturas filosóficas que exaltam a Natureza[1];
  2. Estado concreto-abstrato: onde o espírito acrescenta às suas experiências físicas os esquemas geométricos por ele construídos;
  3. Estado abstrato: onde o espírito utiliza informações retiradas do espaço real, porém voluntariamente desligadas da experiência imediata de modo uniforme.

Bachelard concentra suas ações em assuntos subjacentes, como ao papel das instituições de ensino no processo de formação crítica do pensamento, que cabe ao educador “criar e sobretudo manter um interesse vital pela pesquisa” (p.12). Da mesma forma que Piaget, Vygotsky, Leontiev, Davidov, entre outros autores, Bachelard se dedicou a Psicologia da Educação, baseando na psicanálise, considerou a utilidade do desenvolvimento de pesquisas na escolarização já em 1930, caminho que vários programas oficiais de ensino de diferentes países apontam favoravelmente desde os anos 80. Contudo é indispensável que o educador desenvolva em sua personalidade a paciência científica, elemento estruturador do processo de formação do espírito científico, pois “estabelecer a psicologia da paciência científica significa acrescentar à lei dos três estados do espírito científico uma espécie de lei dos três estados da alma, caracterizados por interesses:” (p. 12)

  1. Alma pueril ou mundana: caracterizada pela curiosidade ingénua;
  2. Alma professoral: caracterizada pelo dogmatismo, pela repetição constante do saber adquirido na juventude escolar e voltada ao interesse dedutivo;
  3. Alma com dificuldade de abstrair e de chegar à quintessência: alma que sofre com as perturbações das objeções da razão, questiona o direito à abstração mas tem certeza de que esta é um dever. Está entregue aos interesses indutivos e reconhece que a abstração é um dever científico.

No Capítulo 1 (A noção do obstáculo epistemológico) de sua obra, o autor assinala o problema do conhecimento científico o qual deve ser colocado em termos de obstáculos quando são procuradas as exigências psicológicas provocadas pelo progresso da ciência. O conhecimento do real é integro e instantâneo. O conhecer resulta de uma norma dialética que se contrapõe a conhecimentos anteriores, destruindo aqueles mal formulados e ultrapassando o que se pormenoriza como obstáculo à própria espiritualização científica. Para Bachelard,

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