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A Psicologia da Percepção

Por:   •  14/3/2023  •  Trabalho acadêmico  •  1.647 Palavras (7 Páginas)  •  52 Visualizações

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        É interessante notarmos, antes de adentrarmos no estudo da memória enquanto objeto de estudo da psicologia cognitiva, que a memória, assim como outros fenômenos psicológicos, tanto cognitivos como pertencentes à psicologia geral, estão relativamente fora de nosso controle consciente, e prova disso é que a maioria de nossas recordações, tanto positivas quanto negativas, não foram submetidas a metódicas e esforçadas técnicas de memorização tributárias de atenção cognitiva, antes foram objetos de nossa mais intensa atenção emocional. Ora, sabe-se que pela primeira apenas através de muito esforço consciente, por meio de repetição, verdadeiramente retemos informações novas de maneira duradoura, não obstante pela segunda retemos algo inteiramente novo e de modo espontâneo, imediato, sem intervenção alguma da vontade e da atenção cognitiva dirigida, seja esta informação negativa ou positiva. Em outras palavras, é claro como água de rocha, como liquor cefalorraquidiano de sistemas nervosos salutares, que a separação entre psicologia cognitiva e psicologia das emoções resulta apenas do princípio da abstração e, por conseguinte, de necessidades forçosamente didáticas, pois em realidade vê-se que emoção e memória são fenômenos correlatos ou, quiçá, reduzem-se a uma mesma substância complexa ora vista sob a perspectiva da memória, ora sob a perspectiva da emoção.

        Talvez seja necessário retornarmos ao Mestre dos Mestres, i.e, Aristóteles, a fim de compreendermos esta estranha distinção entre sentir e memorizar, amar e reter, pois parece-me claro que os latinos eram superiores, em relação aos seus posicionamentos sobre a memória, às opiniões do sábio estagirita, quando evocaram, com ajuda de sua longa tradição romanesca, o vocábulo “decorar”, como ocorre no português. Sabemos que “decorar”, se posto em análise morfológica, compõe-se na união da preposição “de” com o vocábulo latino “côr”, este pode ser traduzido em coisas relativas à alma, às emoções, ao coração, ao centro da vida humana, etc., vê-se, portanto, que de modo sutil os literatos de cultura latina foram superiores ao intrincado “Tratado da Memória” de Aristóteles, na medida em que enxergaram na memória uma profunda conexão com a emoção, não reduzindo-a a um fenômeno cognitivo e temporal.

        As investigações de natureza filosófica e pré-psicológicas concernentes aos objetos cognitivos “memória” e “rememoração” sempre intrigaram a humanidade, não obstante começaram a receber um tratamento tipicamente científico no século IV a.C, com Aristóteles, quando este dedicou um pequeno tratado, traduzido para o português como aproximadamente “Sobre a memória e a reminiscência”, ao estudo científico e às diversas classificações possíveis referentes ao objeto memória e rememoração e seus correlatos, tais como a percepção ou noção de linha do tempo e a capacidade atribuída a certas imagens mentais de se referirem a eventos ou presentificações ocorridas no passado.

        A definição dada por Aristóteles, em seu pequeno tratado, para memória é:

Ao considerar a questão, portanto, a respeito do que é memória ou relembrar, está agora demonstrado que é um estado de presentificação, relacionado por meio de semelhança com aquilo que presentifica; e em relação à questão de qual das faculdades mentais dentro de nós a memória é uma função, já foi demonstrado que é uma função da faculdade primária da percepção sensorial, ou seja, aquela faculdade por meio da qual também percebemos o tempo.

        

        Vê-se, portanto, dentro da noção aristotélica de memória, a proposta de memória como um fenômeno duplo: de um lado uma afecção da alma que presentifica um objeto à mente, como qualquer outro pensamento ou imaginação, de outro lado uma presentificação que carrega uma referência a experiências do passado e, portanto, é sob este aspecto de semelhança ou referência que ela pode ser tomada como um fenômeno mnemônico propriamente dito.

        Com base em nossas observações anteriores a respeito da natureza emocional de muitas de nossas recordações, ao que se refere principalmente à fonte ou contexto de aquisição, devemos levar a cabo duas distinções pertinentes da psicologia contemporânea a respeito dos fenômenos envolvidos no processamento das informações que são retidas ou do aprendizado que persiste: processamento automático e processamento esforçado. O primeiro, i.e, o processamento automático, explica o porquê da influência cabal do contexto emocional sobre nossa capacidade de memorização, no entanto será o segundo nosso objeto de estudo neste trabalho e, mais precisamente, um subsistema seu, a saber, os efeitos do contexto cognitivo sobre nossa capacidade de codificação, compreensão e retenção de informações novas.

        Nossa principal referência será o livro de base intitulado “Psicologia”, de autoria de David Myers e, mais especificamente, o célebre artigo “Contextual Prerequisites for Understanding: Some Investigations of Comprehension and Recall”.

        Constata-se pela leitura deste grandioso artigo que a ambição de seus escritores e colaboradores, direta e/ou indiretamente, era patente, pois tinham como objetivo nada mais, nada menos, do que dar continuidade ao paradigma iniciado por Chomsky, com sua gramática generacional transformacional, de identificar como elementos da compreensão de informações linguísticas, a saber, sentenças gramaticais, não apenas os elementos fonéticos e semânticos aparentes ou manifestos, mas antes de propor como fundamento da compreensão/produção linguística humana uma estrutura profunda, não aparente ou manifesta, pressuposto universal da compreensão e produção de sentenças gramaticais. Ora, vê-se claramente as ambições colossais de Chomsky ao propor, em 1957, uma gramática ou sintaxe universal, definida como substrato cognitivo necessário para que qualquer indivíduo do gênero humano possa adquirir uma linguagem qualquer, com suas particularidades semânticas e sintáticas, tal como o inglês, o português, o latim vernáculo, etc.

        Partindo destas considerações, pergunta-se: qual é, então, o objetivo do presente artigo, publicado em 1972, e utilizado aqui como parâmetro para a realização deste trabalho pedagógico? A resposta, nada menos impressionante, é que os autores em questão, Bransford & Johnson, buscaram determinar --- mediante de uma série de experimentos relativamente simples sob o aspecto duplo da reprodução e compreensão --- a necessidade não apenas de um substrato sintático profundo para a compreensão de informações linguísticas novas, mas igualmente de um substrato semântico profundo responsável pela produção e compreensão de sentenças gramaticais e/ou informações linguísticas variadas sob a dimensão da semântica, e não apenas da sintaxe profunda ou universal, este já extensamente investigado por Chomsky e os seus sucessores. Em outras palavras, Bransford & Johnson, a partir do presente artigo analisado, propuseram uma semântica profunda ou universal denominada “Prerrequisitos contextuais para a compreensão”.

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