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A saudade é o reves de um parto

Por:   •  23/4/2019  •  Artigo  •  7.514 Palavras (31 Páginas)  •  135 Visualizações

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A saudade é o revés de um parto: um estudo acerca da resignificação do luto materno a partir do documentário “Luto como Mãe”

Nacilda Feitoza Moreira [1]

Grace Troccoli Vitorino (OR)[2]

Resumo

A pesquisa realizada teve como objetivo, proceder à análise do luto vivenciado por mães que perderam seus filhos em conflitos de violência. O documentário Luto como Mãe, dirigido por Luís Carlos Nascimento em 2009 foi usado como base para a análise realizada. Os estudos da Tanatologia serviram para contextualizar o luto a partir da visão da morte nas diferentes culturas e religiões. Em termos metodológicos, a pesquisa é de cunho qualitativo, de caráter exploratório, proporcionando uma familiaridade maior com o assunto em estudo e objetivando torná-lo mais explícito. Os resultados e discussões da pesquisa bibliográfica permitiram a compreensão de como a morte é concebida e representada e como o homem lida com ela. A partir da análise fílmica observa-se a coragem das mães em buscar respostas para os crimes que assolaram suas famílias, pois lutam contra a impunidade e transformam a luta em movimento social. A título de conclusão, o estudo sugere que a morte de um filho por ser um evento extremamente traumático traz para a mãe a necessidade de resignificar a maternidade e a perda do filho.

Palavras-chave: Tanatologia. Luto Materno. Violência. Resignificação. Documentário.

Abstract

The survey aimed to undertake analysis of grief experienced by mothers who lost their children in violent conflicts. The Grieving Mother as documentary, directed by Luis Carlos Nascimento in 2009 was used as the basis for the analysis. Studies Thanatology served to contextualize the fight from the sight of death in different cultures and religions. In methodological terms, the research is a qualitative study, exploratory , providing a greater familiarity with the subject under study and aiming to make it more explicit . The results and discussions of the literature allowed us to understand how death is conceived and represented and how man deals with it. From film analysis shows the courage of mothers in seeking answers to the crimes that have plagued their families since fighting against impunity and turn the fight into a social movement. In conclusion, the study suggests that the death of a child to be an extremely traumatic event for the mother brings the need to reframe motherhood and the loss of his son.

Keywords: Thanatology. Maternal Grief. Violence. Reframing. Documentary.

Introdução

Tenho certeza de que só me mantenho viva por causa do mundo invisível onde ninguém pode me alcançar para me ferir e posso fingir que a vida faz sentido mesmo quando não faz. Ali, quando os zumbis do mundo de fora me acossam com seus dedos sujos de sangue, invento a beleza e me reinvento como possibilidade. Alguns olham para dentro e enxergam apenas vísceras. Outros horizontes. (O mundo invisível de cada um, Eliane Brun)

Este trabalho refere-se ao luto materno em decorrência da violência, cuja questão central é a maneira como se lida com esta morte, uma vez que a morte é um acontecimento carregado de dor e saudade e uma morte repentina desencadeada através de uma violência generalizada que se vivencia; consiste em uma perda traumática. Logo, uma mãe que perde um filho vítima de assassinato como é relatado no documentário “Luto como Mãe”, é considerada vítima indireta da violência. O documentário analisado nesta pesquisa se propõe a narrar não à morte, mas sim as lutas dessas mulheres para sobreviver através da passagem do luto à luta por justiça como forma de humanizar seu ente querido e também como um consolo para o seu coração na busca de sentido para seguir em frente. A violência não pode ser encarada como uma fatalidade. Quem vivencia a perda do seu ente querido nunca esquece, uma vez que esquecer seria o mesmo que permitir.

A questão central da investigação aconteceu por meio do problema: Como se dá a resignificação da perda dos filhos a partir do documentário Luto como Mãe?

O resultado da investigação foi sistematizado neste artigo, que esta organizado em quatro partes: a introdução, a metodologia, os resultados e as discussões, e a conclusão.

Metodologia

Este artigo é uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, de caráter exploratório, objetivando explanar a respeito da maternidade, da morte e do luto em decorrência da violência, de como a morte é vista, desde a época clássica até os dias atuais. Busquei associar os assuntos referentes à tanatologia com o documentário “Luto como Mãe” levando em consideração a resignificação do luto materno a partir da retratação do rosto feminino da violência armada do Rio de Janeiro. Enfatizando o que vem depois da violência e, a partir da relação com o documentário, observar o discurso das mães enlutadas.

Resultados e Discussão

A Tanatologia tem como objeto de estudo a morte, sendo vista como uma educação para a morte e a vida, uma vez que é impossível passar pela vida sem ser atravessado pela morte. Kübler- Ross é a mãe da Tanatologia, tendo como representação a borboleta que é o símbolo da vida após a morte, significando a libertação da matéria para o espírito.

Há uma dificuldade em falar e vivenciar a morte, mesmo estando em evidência, sobretudo na mídia. A morte é tida como um tema-tabu intransponível, no qual o medo é o terror mais profundo, e a perda de um ente querido é a tristeza mais intensa. (MORIN, 1997, p. 80) “É impossível conhecer o homem sem lhe estudar a morte, porque, mais do que na vida, é na morte que o homem se revela”.

Vive-se em uma sociedade na qual não há uma preparação para a morte. Assim, perder alguém que se ama causa uma profunda dor, além de ser uma experiência desorganizadora que atinge todas as nossas dimensões: física, emocional, psicológica, social e espiritual. Tudo muda. Os valores, as crenças, enfim, o mundo presumido desaba e a sensação de controle que se tinha sobre os fatos da vida dá lugar às incertezas.

Ariès (1990) salienta que com o avanço da ciência e o crescimento da industrialização é percebido o inconformismo diante da morte de si mesmo e do outro, provocando o afastamento da morte no cotidiano. Em geral, a morte é camuflada, sendo vista como objeto de interdição. Cabe destacar a forma com que a morte ocorreu, pois estas influenciam diretamente na intensidade e duração dos sintomas do enlutado.

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