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ANÁLISE INSTITUCIONAL DA ASSOCIAÇÃO EM DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS COM ENFOQUE NA SEXUALIDADE (ADEH)

Por:   •  5/12/2020  •  Artigo  •  2.365 Palavras (10 Páginas)  •  148 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

ANÁLISE INSTITUCIONAL DA ASSOCIAÇÃO EM DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS COM ENFOQUE NA SEXUALIDADE (ADEH)

Gabriela David

João Antonio Evaldt

Savana Pessoa

Thales Valim Angelo

Florianópolis, 2020

A sociedade é formada por uma rede de instituições à luz do institucionalismo. As instituições são entidades abstratas e, para se consolidarem, necessitam da materialidade, que ocorre por meio das organizações, que são dispositivos concretos. E é por meio de um agrupamento de estabelecimentos, que há a composição da organização (BAREMBLITT, 1994).

O estabelecimento analisado é a Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade (ADEH). A ADEH é uma Organização Não Governamental sem fins lucrativos localizada em Florianópolis/SC que atua junto à população LGBT+, especialmente à população trans, estando vinculada diretamente com a rede de saúde pública da Grande Florianópolis. Mesmo sendo uma associação do terceiro setor, a ADEH recebe encaminhamentos de demandas que não foram supridas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Todos os integrantes da equipe são voluntários.

O trabalho da ADEH iniciou no ano de 1993 sob o nome de Fundação da Associação em Defesa dos Direitos Homossexuais (ADEH Nostro Mundo) com atuação principal na área de saúde com enfoque em prevenção, tratamento e acolhimento de portadores do HIV entre a população de travestis e transexuais em situação de prostituição na região de Florianópolis/SC. Desde a sua fundação, a ADEH enfrenta diversos problemas que vão desde ataques sofridos pelo poder público até a impossibilidade financeira de manter uma sede. Em 1995, a presidenta da associação, Clô, foi assassinada em um confronto com a polícia enquanto distribuía preservativos e outros materiais e, somente em 1999, a ADEH volta a se reestruturar. Desde então, a ADEH ampliou a gama dos serviços oferecidos e passou a ofertar atendimento jurídico, psicológico e de serviço social a pessoas da comunidade LGBT. Porém, no início de 2020, a ADEH foi despejada do local onde estabeleceu a sua sede, no centro da cidade de Florianópolis.

A mobilização por um novo espaço foi temporariamente pausada em decorrência da pandemia de Covid-19 e sua atuação passou a ser através do atendimento de demandas individuais que chegam até a atual presidenta, Lirous K’yo Fonseca Ávila, e da atuação das psicólogas e estagiárias em Psicologia junto ao Ambulatório Trans, que é um projeto da Prefeitura Municipal de Florianópolis. A recente retomada das aulas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) aumentou o quadro de estagiários, o que permitiu a ampliação dos serviços oferecidos pela ADEH através da criação de três grupos fechados de acolhimento e escuta psicológica online focado na população LGBT com duração de seis encontros.

Pensando em conceitos importantes para a Análise Institucional, alguns que são seminais são os de encomenda e demanda (ROSSI; PASSOS, 2014). Na Instituição analisada, a encomenda que se pede aos estagiários de psicologia é a coordenação em grupos de escuta e acolhimento psicológico, juntamente com as psicólogas locais. Mas para que isso ocorra, há uma série de ações que devem ser realizadas, as demandas, que consistem em decidir entre estagiários e psicólogas como tais grupos serão realizados de modo online, que dias e horários são possíveis para os acontecimentos dos grupos e qual será a duração dos mesmos. É importante salientar que estas decisões são tomadas de modo conjunto, sem uma hierarquia vertical fixa, uma vez que as ideias e opiniões dos estagiários são valorizadas assim com as das psicólogas locais e as dos supervisores.

Durante este momento em que se pensa sobre a composição dos grupos, levanta-se a questão de quantas pessoas irão compor, em média, o grupo; se as participantes devem ser moradoras de Florianópolis; e quantos estagiários devem participar de cada grupo. Inicialmente, pensa em optar por buscar pessoas residentes de Florianópolis e região, por uma questão de poder encaminhar a pessoa para outros serviços caso seja necessário, mas também opta-se por não impedir a participação de pessoas de outros lugares do país.

Outra demanda que surgiu foi a criação e divulgação de um questionário online a fim de buscar pessoas interessadas em participar dos grupos. Após uma quantidade pré-determinada de pessoas terem respondido ao questionário, o mesmo é fechado e começa-se a entrar em contato com estas pessoas para marcar entrevistas antes da iniciação dos grupos. Estas entrevistas ocorrem por uma questão de segurança para o acontecimento dos grupos, já que é bastante comum que pessoas pratiquem o hackerismo visando impedir  grupos que abordem temáticas LGBT. Ademais, através de um contato inicial com estas pessoas, consegue-se acessar as suas histórias de vida e, desse modo, construir um vínculo.

Através da realização destas entrevistas conseguiu-se obter uma análise inicial da implicação dos estagiários, uma vez que muitos relatos das pessoas entrevistadas atravessavam as vivências dos entrevistadores. Além disso, estas entrevistas trouxeram o dilema de qual postura deveria ser adotada, o qual foi levado para a supervisão e com isto conseguiu-se problematizar a postura em que o psicólogo não traz as suas vivências ao processo terapêutico, baseado em um paradigma de neutralidade.

Também foi levantado o dilema de como agir em momentos quando a pessoa entrevistada se mostra muito mobilizada em determinados assuntos e sobre a possível identificação que algumas pessoas teriam com os estagiários, por muitas delas possuírem idades próximas, serem universitárias e  serem LGBT, desse modo, levantou-se a questão dos participantes dos grupos basearem-se nos relatos dos estagiários enquanto modelos a serem seguidos, e, devido a isso, os estagiários antes de trazerem as suas vivências, deveriam se questionar sob qual intuito as estariam trazendo.  

Inclusive, tais dilemas estão relacionados ao conceito de sobreimplicação, o qual confronta o modelo da implicação, uma vez que questiona os critérios de objetividade, cientificidade e universalidade e promove a separação entre mediadores e participantes do grupo. O modelo de implicação referido não diz respeito à noção de comprometimento, relação pessoal ou motivação com o campo de pesquisa/intervenção. Como afirma Lourau, citado em Romagnolli (2014), a implicação vai muito além da nossa história individual, da nossa percepção subjetiva e dos julgamentos de valor destinados a medir a participação e o engajamento em determinada situação. A implicação denuncia que aquilo que a instituição deflagra em nós é sempre efeito de uma produção coletiva de crenças, desejos, expectativas, interesses, valores que estão imbricados nessa relação (ROMAGNOLI, 2014).

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