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Aces, Swords

Tese: Aces, Swords. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  16/12/2014  •  Tese  •  1.517 Palavras (7 Páginas)  •  270 Visualizações

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Capítulo 1 – Ases, Espadas.

O ar era reciclado, ar-condicionado filtrado e refiltrado diversas vezes, corredores de metal plastificado em bege com pequenos pedaços faltando aqui e ali. O piso gradeado mostrava diversos canos de diversos materiais com diversos conteúdos. A imagem perfeita de um necrotério, paredes lotadas com portas pesadas e vidros grossos embaçados pelo frio constante.

Mas era um hotel.

Um hotel de caixões (ou cápsulas, para os amigos) onde qualquer um podia alugar um espaço mínimo para dormir e colocar suas coisas, pelo tempo que precisasse. Poucos os créditos necessários e poucas as perguntas. Perfeito. Perfeito para pessoas que não se importavam, ou não podiam escolher em serem tratadas como animais.

Um dos caixões se iluminou, o terceiro na fileira C, no meio de uma parede com três espaços empilhados, numa fileira de dezoito. Primeiro foi a luz interna que projetou um feixe tímido e amarelo que se misturava com a luz piscante dos corredores, depois, o barulho como o de uma geladeira velha abrindo num estrondo de mecanismos pesados, seguida de um ranger tímido de hidráulicas enquanto a porta descia como se o pequeno espaço de dois metros de largura por um de altura fosse um castelo, e aquela a ponte levadiça.

Primeiro foram os braços delgados que se estenderam, os músculos delicadamente estendendo-se e retesando-se como cordas de violino pulsavam, treinados numa sublime arte tão velha quanto o mundo, cobertos por uma pele macia, mas ao mesmo tempo que demonstrava não ter muita afinidade com o sol. Depois vieram as pernas, igualmente delgadas, mas igualmente fortes, primeiro esticando, tensionando seus músculos e tocando a parede do caixão com suas botas pesadas. Sentiu o sangue circular por seu corpo esguio, grunhindo prazerosamente enquanto flexionava seu corpo para cima como uma gata. Os dedos finos, mas robustos pegaram a aba de cima do caixão, e ela saiu de seu sono para o mundo.

Black Jack sentou-se na aba de seu caixão, deixando o sangue circular pelo corpo dormente enquanto passava os dedos pelos seus cabelos curtos, mas negros como suas vestes. Braços expostos numa roupa justa, negra como breu com placas protetoras por debaixo das áreas vitais, barriga, peito, rins. Calças de igual cor, estilo e proteção que terminavam em botas pesadas, praticamente coturnos militares. Não precisava de muitos adornos em sua profissão no qual seu próprio corpo servia de currículo, não tinha seios proeminentes nem cheios, seus quadris eram finos, mas enquanto alguém não gostasse de alguém, e precisasse de outra pessoa para um serviço sujo e rápido, aqueles braços se moveriam rapidamente com a precisão de um fio de cabelo, e ela deixaria um de seus cartões de visita, na forma de um ás de espadas, igual ao que simbolizava as costas de sua jaqueta branca que removia de seu caixão.

E em Seattle, ela era apenas uma de muitas, tentando deixar uma marca enquanto sobrevivia. Afinal, em Seattle, o ódio corria como a água de chuva em canaletes de esgoto, debaixo de todas as vistas, mas sempre intensa e ininterrupta.

Mas Jack não tinha nenhum trabalho pendente. De sua indumentária de facas de arremesso, pegou apenas um baralho de ases feito especialmente para ela, fechou a porta, travando-a com uma chave digital dada pelo dono do hotel através do commlink, e saiu para a grande Seattle.

Era dia na megalópole, mas isso não importava. Suas ruas estavam cheias de carros e pessoas de todos os tipos não importa o horário. Black Jack se misturou na multidão tão fácil como uma gota de jaqueta branca num oceano de punks com cabelos arco-íris que vibravam, orks com tatuagens que se moviam e lutavam entre si, e uma miríade de etnias humanas que trombavam ombros sem trocar olhares. Índios, Japoneses, Chineses, Latinos, tantos que não mais se pensava em etnias, mas apenas em “humanos e não-humanos”, numa sinfonia de buzinas, pés de todos os tipos no concreto molhado de chuva naquela manhã cinzenta, com milhares morrendo e nascendo sob os gigantescos prédios. As ruas eram estreitas com um tráfego constante de carros e motos com rodas (e alguns sem), as calçadas mais estreitas ainda, especialmente com as toneladas ilusórias de propagandas de todos os gêneros. Hologramas aqui e ali saudando transeuntes pelo nome através das informações acessíveis por seus commlinks, pequenos robôs voando pra cima e pra baixo com bandeiras ou mais hologramas, e isso porque os óculos escuros de Jack eram "antigos", de vidro, incapazes de ver as milhares e milhares de informações que bombardeavam qualquer um que tivesse óculos de comunicação com o commlink ou olhos biônicos. Ofertas, promoções, catálogos, inundando a cada instante todas as pessoas que não tinham nenhum filtro digital ligado. Como a maioria, Jack não se interessava pelas luzes e catálogos, como Jack, cada um tinha seu canto especial, sua vida e seus problemas, só que, ao contrário de Jack, a maior parte das pessoas não tomava café no Burnout.

E café, para Jack, era um copo de vodka barato e um jogo de cartas.

Como que um reflexo da cidade e de tudo o que ela tem de importante, o Burnout à primeira vista era tudo, menos um bar. Feito dentro de uma garagem industrial abandonada no térreo de um complexo de escritórios e galpões ainda utilizado, ficava numa parte afastada da rua principal dentro de um beco largo por onde caminhões costumavam passar. Agora apenas carros e motos ficavam estacionados lá, sendo esta a única indicação do propósito

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