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As Ciências Humanas

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Por:   •  25/9/2014  •  Seminário  •  1.946 Palavras (8 Páginas)  •  263 Visualizações

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As ciências humanas

O triedro dos saberes

O campo epistemológico que percorrem as ciências humanas não foi prescrito de antemão: nenhuma filosofia, nenhuma opção política ou moral, nenhuma ciência empírica, qualquer que fosse nenhuma observação do corpo humano, nenhuma análise da sensação, da imaginação ou das paixões jamais reencontrou, nos séculos XVII e XVIII, alguma coisa como homem. Certamente, não resta dúvida de que a emergência histórica de cada uma das ciências humanas tenha ocorrido por ocasião de um problema, de uma exigência, de um obstáculo de ordem teórica ou prática; por certo foram necessárias novas normas impostas pela sociedade industrial aos indivíduos para que, lentamente, no decurso do século XIX, a psicologia se constituísse como ciência; também foram necessárias, sem dúvida, as ameaças que, desde a Revolução, pesaram sobre os equilíbrios sociais e sobre aquele mesmo que instaura a burguesia, para que aparecesse uma reflexão de tipo sociológico.

Nessas condições, era necessário que o conhecimento do homem surgisse, com seu escopo cientifico, como contemporâneo e do mesmo veio a biologia, a economia e a filologia, de tal sorte que nele se viu, muito naturalmente, um dos mais decisivos progressos realizados, na história da cultura europeia, pela racionalidade empírica. Em contrapartida, a necessidade de interrogar o ser do homem como fundamento de todas as positividades, não podia deixar de produzir-se um desequilíbrio: o homem tornava-se aquilo a partir do qual todo conhecimento podia ser constituído em sua evidencia imediata e não problematizada; tornava-se, a fortiore, aquilo que autoriza o questionamento de todo conhecimento do homem.

Certamente, não há duvida de que essa forma de saber empírico que se aplica ao homem (e que, para obedecer à convenção, pode-se ainda chamar de “ciências humanas” antes mesmo de saber em que sentido e dentro de que limites podem ser denominados “ciências”) tem relação com as matemáticas: como qualquer outro domínio do saber, elas podem, sob certas condições, servir-se do instrumental matemáticos; alguns de seus procedimentos, muitos de seus resultados podem ser formalizados; a biologia, por exemplo, além de uma ciência das ordens qualitativas, constitui-se como análise das relações entre os órgãos e as funções, estudo das estruturas e dos equilíbrios, investigações sobre sua formação e seu desenvolvimento na história dos indivíduos ou das espécies; tudo isso não impediu que a biologia utilizasse as matemáticas e eu estas pudessem aplicar-se à biologia bem mais amplamente que no passado. O mesmo ocorreu com as ciências humanas: com o retraimento da máthêsis e não o avanço das matemáticas que permitiu ao homem constituir-se como objeto do saber, foi o envolvimento do trabalho, da vida e da linguagem em torno deles próprios que prescreveu, do exterior, o aparecimento desse novo domínio; e é o aparecimento desse ser empírico-transcendental, desse ser cujo pensamento é indefinidamente tramado com o impensado, desse ser sempre separado de uma origem que lhe é prometida na imediatidade do retorno- é esse aparecimento que dá as ciências humanas sua feição singular.

De um modo mais geral, o homem para as ciências humanas, não é esse ser vivo que tem uma forma bem particular (uma fisiologia bastante especial e uma autonomia quase única); é esse ser vivo que do interior da vida à qual pertence inteiramente e pela qual é atravessado em todo o seu ser, constitui representações graças às quais ele vive e a partir das quais detém esta estranha capacidade de poder se representar justamente à vida, deste modo, só haverá ciência do homem se nos dirigirmos à maneira como os indivíduos ou os grupos se representam seus parceiros na produção e na troca, o modo como esclarecem, ou ignoram, ou mascaram esse funcionamento e a posição que aí ocupam, a maneira como se representam a sociedade onde isso ocorre, o modo como se sentem integrados a ela ou isolados, dependentes ou submetidos ou livres. Pode-se-á falar de ciência humana desde que se busque definir a maneira como os indivíduos o os grupos se representam as palavras, utilizam sua forma e seu sentido, compõem discursos reais, mostram e escondem neles o que pensam, dizem, talvez a sua revelia, mais ou menos do que pretendem, deixam desses pensamentos, em todo o caso, uma massa de traços verbais que é preciso decifrarem e restituir, tanto quanto possível, à sua vivacidade representativa.

O objeto das ciências humanas não é, pois a linguagem, mas, sim, esse ser que, do interior da linguagem pela qual está cercado, se representa, ao falar, o sentido das palavras ou proposições que enuncia e se dá, finalmente a representação da própria linguagem. Vê-se que as ciências humanas não são uma análise do que o homem é por natureza; são antes uma análise que se estende entre o que o homem é em sua positividade e o que permite a esse mesmo ser saber o que é a vida, em que consistem a essência do trabalho e suas leis, e de que modo ele pode falar.

As ciências humanas não tratam a vida, o trabalho e a linguagem do homem na maior transparência em que se podem dar, mas naquela camada de condutas, de comportamentos de atitudes, de gestos já feitos, de frases já pronunciadas ou escritas, em cujo interior eles foram dados antecipadamente, numa primeira vez, àqueles que agem, se conduzem, trocam, trabalham e falam: em outro nível, é sempre possível tratar, em estilo de ciências humanas o fato de haver para certos indivíduos ou certas sociedades alguma coisa com um saber especulativo da vida, da produção e da linguagem – em última análise, uma biologia, uma economia e uma filologia. Pode-se dizer que o domínio das ciências humanas é coberto por três ciências, todas subdivididas e entrecruzadas umas com as outras; essas regiões são definidas pela tríplice relação das ciências humanas em geral com a biologia, a economia, a filologia constituindo modelos de domínio da biologia, da economia e do estudo da linguagem.

Na superfície de projeção da biologia que o homem aparece com um ser que tem funções – que recebe estímulos, que responde a eles, que se adapta, evolui, submete-se as exigências do meio, harmoniza-se com as modificações que ele impõe, busca apagar os desequilíbrios, age segundo regularidades, tem, em suma, condições de existência e a possibilidade de encontrar normas médias de ajustamento que lhe permitem exercer suas funções. Na superfície da projeção da economia, o homem aparece enquanto tem necessidades e desejos, enquanto busca satisfazê-los, enquanto, pois tem interesses, visa lucros, opõe-se a outros homens; em suma ele aparece numa irredutível situação

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