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Násio Sobre o Lugar do Analista cita Heidegger, Que Exprime Muito Bem Esse Sentimento

Por:   •  2/11/2018  •  Seminário  •  2.510 Palavras (11 Páginas)  •  278 Visualizações

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Nasio sobre o lugar do analista cita Heidegger, que exprime muito bem esse sentimento:

“Entretanto, aquele que ensina deve algumas vezes falar alto, até gritar e gritar, mesmo quando se trata de ensinar algo tão silencioso como o pensamento. Por um lado, é preciso gritar se quisermos que os homens — eu diria os analistas — despertem; por outro lado, — e essa era a minha preocupação hoje à tarde — não é gritando que o pensamento pode dizer o que pensa.”.

O desejo do analista é um ponto singular, objeto atrator, e esse é o lugar em que o analista se situa para ser capaz de operar. A sua função é de causar o desenvolvimento da neurose de transferência. Que é possível quando o analista se instala no “ponto de mira”, o ângulo no qual ele deve se situar se quiser operar. O que é operar? É interpretar, perceber e causar o inconsciente.

Existem três classes de manifestações contratransferenciais, qualquer uma dessas três classes de manifestações não apenas um obstáculo ao lugar analista é também um signo que indica a sua proximidade.

A primeira é o saber, a compreensão do sentido das manifestações do analisando, a apreensão de um sentido segundo certos objetivos que o analista fixa, objetivos teóricos, de cura, de estudo. Onde ele aplica escolhas, elege, classifica o material, escuta certas palavras, deixa outras, segundo certo saber.

A segunda é a paixão, o amor ou o ódio, a atração erótica ou a aversão sensual, por exemplo, o odor. Há reações sensíveis, sensuais, no analista, que consideramos como fazendo parte das reações contratransferenciais.

A terceira, a angústia, como sendo a expressão mais pura, até a mais saudável da contratransferência do psicanalista. Se um psicanalista pode perceber que está angustiado, isso significa que está a caminho de ocupar o seu lugar.

As manifestações contratransferenciais se caracterizam por duas coisas. Primeiro trata-se de manifestações pré-conscientes, o terapeuta pode desvelá-las por si mesmo, sem a intervenção de nenhuma interpretação. Em segundo lugar, o traço específico das manifestações contratransferências consiste na sua qualidade imaginária. É a imagem que é superinvestida no caso das manifestações contratransferenciais quer se trate da angústia, da paixão ou do saber.

O lugar do analista é as reações contratransferenciais, o superinvestimento do Eu, aparecem quando o psicanalista está a ponto de realizar um deslocamento brusco entre uma realidade psíquica de dominância imaginária, organizada em torno do Eu, sob a proteção da referência fálica, por um lado, e por outro lado, outra realidade psíquica fora do Eu, ao lado do Eu, uma realidade de dominância pulsional, de dominância de Gozo, de dominância do objeto a. É por isso que é uma formação do objeto a. Trata-se de uma realidade psíquica organizada de modo inteiramente diferente da realidade de dominância imaginária, de uma nova realidade psíquica, organizada em torno da ausência da referência fálica. O mecanismo produtor dessa nova realidade é a foraclusão.

O “ponto de mira” situar-se no ângulo de saber escutar, perceber e causar o inconsciente do analisando, onde o psicanalista deve situar-se para operar é idêntico à sua nova realidade, produzida por foraclusão. Para marcar bem essa identidade entre o “ponto de mira” e a mudança que deve ocorrer nele, assinalaremos uma dupla modificação: um deslocamento de lugar, em seguida, uma mudança de estrutura psíquica. A mudança de estrutura subjetiva é idêntica ao deslocamento para um novo ponto de mira de onde posso me situar para tratar as manifestações do inconsciente do meu analisando. Esse ponto de mira é idêntico à nova realidade no analista, isto é, a “para-móica”. Nasio chama de “ponto de mira para-moi-co”.

“O analista só está verdadeiramente disponível para a escuta, isto é, o analista só consegue verdadeiramente transformar os derivados inconscientes do seu paciente em uma interpretação ou em uma percepção alucinada com a condição de deixar, abandonar, separar-se do seu Eu, de fazer calar em si as ambiguidades, os enganos e erros do discurso intermediário, para abrir-se enfim à cadeia das palavras verdadeiras.” Isso se encontra no texto, “Variantes do tratamento-padrão”, nos Escritos. É preciso, pois abandonar o Eu. A manifestação contratransferencial é uma sobrecarga. O tempo, o espaço, outrem e toda visada ideal são os componentes constitutivos do Eu que é preciso suprimir, abandonar, durante um momento: o momento de “fazer silêncio-em-si”, negar o si-mesmo.

O silêncio-em-si, o lugar do analista, o ponto de mira é como se fosse uma região vazia, pelo contrário, trata-se de um lugar rico em produções psíquicas novas e condensador de uma grande carga libidinal, que é chamado de “Gozo” ou “objeto”, que tem o poder de atrair, de concentrar em torno de si o desenvolvimento da transferência.

Existe uma diferença entre ocupar o lugar do objeto e o ser do psicanalista? Nasio cita Nacht, foi objeto de críticas por parte de Lacan. Nacht dizia: “O psicanalista não age pelo que pensa nem pelo que faz, nem pelo que diz. Age pelo que é.” Isto é, age pelo seu ser. Nasio diz que há alguma coisa certa, porém mal expressa. Porque se o analista age pelo seu ser, pelo que ele é, perdemos toda a riqueza das variações e das particularidades inerentes, intrínsecas à própria experiência analítica. Mas não é uma questão de ser. É uma questão de conseguir, com o que se é, situar-se no ângulo ao qual se deve chegar para perceber, pensar e tratar os derivados inconscientes do paciente. Não se trata de “o que eu sou”; trata-se de “será que o que eu sou me permite abandonar o meu Eu por um instante, e ir a esse lugar”. Se ele se instala ali, escuta, percebe e causa o tratamento.

Fazer silêncio-em-si é também ficar sem voz. Se alguém consegue dizer a si mesmo que está ali para alguém para perseguir finalidades, enquanto está sentado na sua poltrona se alguém consegue livrar-se dos ideais analíticos, dos objetivos, de “fazer silêncio-em-si”, então ele deixará vir uma voz. E a voz será uma voz pronta para transformar-se em interpretação.

O analista deve situar-se no lugar certo, nesse ângulo, para que haja um ponto de fuga no horizonte. De outra forma, ele não aparece. Nasio usa uma expressão mais exata: “o ponto para-moi-co”, pois estamos instalados nesse ponto, há uma conotação psicótica. Há o analisando e há o Analista. E no entrecruzamento, o lugar do analista.

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