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O Adoecimento Psiquíco

Por:   •  13/8/2021  •  Dissertação  •  2.409 Palavras (10 Páginas)  •  111 Visualizações

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Adoecimento Psiquíco

Georges Canguilhem (2000) considera o adoecimento psíquico como uma forma singular de estar e de se relacionar no mundo, caracterizado pela dificuldade de tolerar as infidelidades do meio.

A esquizofrenia caracteriza-se por psicose (perda do contato com a realidade),

alucinações (percepções falsas), delírios (crenças falsas), discurso e

comportamento desorganizados, embotamento afetivo (variação emocional

restrita), déficits cognitivos (comprometimento do raciocínio e da solução de

problemas) e disfunção ocupacional e social. A causa é desconhecida, porém,

há fortes evidências de algum componente genético e ambiental. Os sintomas

geralmente começam na adolescência ou no início da idade ad ulta. É

considerada pela psicopatologia como um tipo de sofrimento psíquico grave,

caracterizado pela alteração no contato com a realidade.

Segundo Dalgalarrondo, a esquizofrenia se subdivide em 4 subgrupos,

sendo a forma Paranóide uma das características mais marcantes de Estamira.

Essa por sua vez se constitui por ser caracterizada por alucinações e ideias

delirantes, principalmente de delírios persecutórios, em uma das cenas,

Estamira mostra falar com militares, através de rádio e também alguma língua,

talvez o alemão.

Com relação ao CID-10 a e squizofrenia é caracterizada como uma

alteração das funções básicas que dão a pessoa senso de individualidade,

inocidade e direção de si mesmo. Alucinações persistentes de qualquer

modalidade sem claro conteúdo afetivo também é caracterizada no

documentário.

Para Lacan, é preciso que se atente para a estrutura interna da linguagem a partir de seu estudo pormenorizado. Ele percebe a distinção entre a linguagem na neurose e na psicose dizendo que “se o neurótico habita a linguagem, o psicótico é habitado, possuído” ([1955-1956]1988, p.284) por ela, reconhecendo na loucura: A liberdade negativa de uma fala que renunciou a se fazer reconhecer,ou seja, aquilo que chamamos obstáculo à transferência, e, de outro lado, a formação singular de um delírio que - fabulatório, fantástico ou cosmológico; interpretativo, reivindicatório ou idealista - objetiva o sujeito em uma linguagem sem dialética. (Lacan, [1953]1998, p.281) Então, podemos afirmar que, ao entendermos que o sujeito psicótico situa-se fora da lógica fálica, a qual advém da constituição da metáfora paterna, como consequência, seu discurso fica sem rumo diante dos significantes que correm fora da cadeia. As palavras constituem uma verdade absoluta para o psicótico que permanece perplexo diante dos significantes soltos. A construção da metáfora delirante ocorre exatamente como uma das possibilidades de apaziguamento do sujeito frente à invasão dos significantes. Pensando nessas particularidades especificas do sujeito psicótico com a linguagem, Lacan esclarece os fenômenos de código e os fenômenos de mensagem. Os fenômenos de código são constituídos pelas alucinações que instruem o sujeito sobre novas formas, neologismos ou neocódigos e que lhe servem como “língua fundamental.” ([1958]1998, p.543) É o que Schreber descreve ser sua autêntica e primordial forma ou os “verdadeiros sentimentos das almas.” (Lacan, [1958]1998, p.544)

Os neologismos8 são um dos transtornos de linguagem mais estudados. Lacan, no seminário 3 ([1955-1956] 1988), diz que ao nível do significante, o delírio se distingue, em seu caráter material, por sua forma particular de discordância com a linguagem comum denominada de neologismo, não se tratando, portanto, de mera criação de uma palavra nova.

Em Freud, as elaborações sobre os fenômenos esquizofrênicos estão permeadas pela teoria da libido, bem como por sua investigação em relação ao inconsciente, destacando-se o funcionamento da linguagem via modo de satisfação pulsional auto-erótico, observado na linguagem de órgão ou nos fenômenos hipocondríacos. Destaca-se, também, a exterioridade dos mecanismos do inconsciente que se apresentam de forma desvelada, tal como os fenômenos esquizofrênicos que surgem sob a forma da palavra como coisa: manifestação de expressões neológicas, a salada ou copulação das palavras, a concretude da fala que traz um enunciado sem a articulação dos representantes psíquicos com o funcionamento inconsciente, pois não houve o recalque. Como conseqüência disso, há uma prevalência do funcionamento da representação de palavra que não se vincula à representação de coisa como recalcada, não operando o mecanismo da substituição. E, nesse caso, a palavra é tomada como coisa.


 O filme aborda a psicose e a escuta do seu dizer. O delírio é um dos pontos principais tratados no filme, a personagem elucida o conceito ao mostrar em sua história que a resposta encontrada para os abusos e as violências a que foi e é submetida, foi uma resposta delirante, pois Estamira é convocada a responder onde não pode, e assim responde com o delírio. Os delírios são respostas a circunstâncias de sua vida composta de grande sofrimento e encontros com ‘tudo que é tão real’.

Segundo Leite (2006) o encontro com a real falta do objeto, ou seja, qualquer evento que apresente status traumático, faz com que algo se estruture no psiquismo. Na neurose há o recalque e uma resposta ao trauma com uma fantasia e com o simbólico. Na psicose, como é o caso de Estamira, é o delírio que tenta responder ao traumático inassimilável.

A história de vida da personagem demonstra que ela foi uma mulher saudável até o período da vida em que os sucessivos encontros com a violência e as situações que não podiam ser elaboradas de forma neurótica, a levaram a não mais acreditar e sentir, como ela fazia até então. Anteriormente, Estamira era uma pessoa com valores religiosos que acreditava em um deus, protetor e bondoso. Era, também, uma boa mãe, contida e controlada.

É importante ressaltar que o delírio não é a psicose propriamente dita, e, sim, uma tentativa de tratamento desta. É o restabelecimento das relações libidinais com os objetos anteriormente abandonados (Leite, 2006). Trata-se de uma tentativa de recobrir um buraco e da falta de operações simbólicas: o fenômeno oferece contorno ao que não pode ser simbolizado. A esquizofrenia constitui casos em que é difícil compreender a pessoa analiticamente, pois há um total retraimento da libido, o que dificulta o estabelecimento da transferência; contudo, o possível tratamento da esquizofrenia também se dá na escuta analítica em que o objetivo é da reconstrução da história do sujeito.

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