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O Cuidado Do Cuidador: O Sujeito Sintomático E O Adoecimento

Por:   •  12/8/2023  •  Monografia  •  3.563 Palavras (15 Páginas)  •  25 Visualizações

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O cuidado do cuidador: O sujeito sintomático e o adoecimento

Maurílio de Souza Fonseca [1] 

RESUMO: Este artigo objetiva fazer uma breve reflexão sobre o sintoma e a doença como produção do sujeito, de algo que é seu, levantando as diferenças básicas entre o adoecimento e o cuidado em psicanálise e na medicina. Conquanto, apesar de diferentes abordagens, elas não se opõem, se complementam investigando o sintoma sobre angulações e perspectivas distintas.

PALAVRA-CHAVE: Sintoma, doença, cuidado, sujeito, medicina, psicanálise.

ABSTRACT: This article aims to make a brief reflection on the symptom and the disease as production of the subject, something that is yours, raising the basic differences between the illness and care in psychoanalysis and medicine. Although, despite different approaches, they are not opposed, they complement investigating the symptom of angles and different perspectives

KEYWORDS: Symptom, disease, care, man, medicine, psychoanalysis.

“Doenças são palavras não ditas”. (LACAN)

INTRODUÇÃO

        

A medicina avançou enormemente no tratamento de doenças, seus mapeamentos fenomenológicos e as pesquisas tecnológicas aplicadas à saúde tem sido o principal braço de apoio para esse êxito. É óbvio, que ainda há muito o que ser feito e os desafios continuam grandes.

Outro fator relacionado à saúde, para além dos recursos avançados alocados a favor da medicina, é o cuidar. O cuidado de si ou com o outro, como alavanca da qualidade da saúde infelizmente ainda está engatinhando, porque o sujeito não é acolhido como deveria ser, em sua subjetividade. A prioridade é apenas a fenomenologia dos sintomas do doente e a consequente medicalização.

A psicanálise faz ultrapassagem dessa abordagem medicamentosa. Ela faz o acolhimento do sujeito, inclui o doente, lhe dá voz, trata com tato o sintoma. É um salto evolutivo na qualidade do cuidado, seja do cuidador ou de quem é cuidado. A psicanálise resgata o indivíduo para o lugar de sujeito: de fato, ressalta a singularidade do sujeito – possibilitando a retificação em sua biografia de vida.  

DESENVOLVIMENTO

É melhor prevenir do que remediar, diz o dito popular, mas, no campo da saúde mental, essa frase soa como arauto da verdade, ou seja, a prevenção é sempre a melhor opção em se tratando de saúde.

Saúde é triangular - se dá no tripé: prevenção, tratamento e recuperação. Prevenção é uma das pontas do triângulo da saúde. Tratar a saúde é, na grande maioria das vezes, necessário, visto que a grande parcela da população não se cuida para evitar adoecer, mas busca tratamento após ter adoecido.

É por isso que prevenção é pró-saúde e não pré-doença; o foco é sempre a promoção e a manutenção da saúde e nunca da doença em si. Aqui observamos uma grande diferença entre a medicina, que invariavelmente trabalha sempre para a redução dos sintomas e a possível extirpação da doença, seja de forma cirúrgica ou medicamentosa e a psicanálise, uma vez que esta última se interessa na relação que o sujeito mantém com seu sintoma. Às vezes um sujeito precisa adoecer e necessitar de cuidados para poder se haver com suas questões.

O neurótico com seu sintoma, obtém dois tipos de benefício na economia libidinal: o benefício primário, em que o sintoma é uma satisfação libidinal substitutiva, sendo o melhor investimento do capital do sujeito. Cair doente, diz Freud, envolve uma economia de esforço psíquico. A doença é uma maneira de se fazer economia: é a solução mais conveniente quando há conflito mental. Ficar doente é invariavelmente a obtenção de alguma vantagem. É a fuga para a doença. O benefício secundário concerne a transformação da relação do sujeito com seu sintoma. Este é sentido inicialmente como um corpo estranho, mas em seguida o sujeito acaba encontrando meios de tirar mais vantagens dele, além da satisfação pulsional que o sintoma proporciona. (QUINET, 1991, p. 88).

É a questão sinto-mal, onde segundo Quinet (1991, p. 16), o sujeito se apresenta ao analista representado sempre por seu sintoma, em estado bruto, como sinalizador de algo que não vai bem. E não vai bem, na maioria das vezes para além de deficiências biológicas, não somente com o sujeito, mas nele. Para a psicanálise, o sujeito é dividido e faltante, o que ressalta a necessidade angustiante por busca de completude. É aí que entra o sintoma.

O sintoma, é uma formação de compromisso entre as instâncias do Id e do Supereu diante do que foi recalcado. Mas, formação de compromisso para qual finalidade? Ora, essas instâncias fazem “aliança” no intuito de alcançar certa medida “aceitável” de satisfação e, para que isso seja possível, é necessário burlar as resistências que policiam o recalcado. Logo, podemos dizer que o sujeito sintomatiza como disfarce para obtenção de certo prazer; sendo, portanto, uma satisfação mascarada, estranha; uma forma de gozar pelo sofrimento.

A situação é, portanto, a seguinte: um determinado processo mental pertencente ao Ics[2] procura acesso à consciência em busca de satisfação. No entanto, a censura que opera na passagem do Ics para o Pcs/Cs[3] opõe-se violentamente a esse propósito, pois a satisfação do desejo inconsciente, que em si mesma provocaria prazer, provocaria também desprazer relativamente às exigências do Pcs/Cs. Por essa razão, o desejo tem de permanecer inconsciente, podendo retornar sob a forma de sintoma. (GARCIA-ROZA, 1985, p. 90)

Podemos então nos perguntar: porque o sujeito se adoeceria? O que poderia ganhar com isto? O que significa ser responsável por sua doença? Como tratar esse sujeito que, inconscientemente, adoece a si mesmo? São questionamentos necessários para uma melhor compreensão do funcionamento psíquico.

O sujeito se adoece porque vive em conflito entre a pulsão e a moral. O sintoma representa a divisão do sujeito ($) – querer e poder, amor e ódio, desejos e normas, consciente e inconsciente. O sintoma é o retorno no simbólico de uma das três formas de negação do Édipo – negação da castração do Outro; as outras formas de retorno da negação são a perversão no fetiche do desmentido que também se dá no registro simbólico e alucinação na psicose que se dá no registro do real, por meio da forclusão.

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