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Psicologia Do Trabaho

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Por:   •  19/9/2013  •  1.931 Palavras (8 Páginas)  •  293 Visualizações

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Psicologia do trabalho e das organizações: não atuamos pela cisão

Quase nenhum estudioso da psicologia ousaria negar a dificuldade histórica de concebê-la como uma ciência una. A diversidade marca esse campo do saber e se mostra evidente desde a concepção do que seja essa ciência até os métodos e as abordagens teórico- metodológicas que sustentam a produção do conhecimento e as respectivas práticas. Essa diversidade é, às vezes, ferida por antagonismos de adeptos fervorosos, apressados em defender diferenças de status no âmbito da própria psicologia, e se estende também para os diversos campos de atuação. É responsável por lutas internas entre profissionais, estudantes e docentes de áreas distintas, que promovem a cisão como única estratégia de construção de uma psicologia supostamente implicada com a efetiva mudança social.

Talvez um dos campos de produção científica e de atuação prática que se constitui alvo preferido de controvérsias seja o que tem como objetos o “trabalho” e as “organizações” nas quais ele frequentemente ocorre, historicamente tratados como partes de um mesmo fenômeno. Deparamo-nos hoje, novamente, com a difusão de um discurso promotor daquela cisão, veiculado por pessoas ligadas direta ou indiretamente a grupos detentores de recursos políticos e financeiros, que criaram bases de poder duradouras em algumas instâncias institucionalizadas de interlocução da psicologia brasileira. Tal discurso é de que só será possível uma psicologia do trabalho plenamente comprometida com os interesses do trabalhador, se houver uma cisão com uma psicologia das organizações, que estaria supostamente comprometida com os interesses do capital e contra os trabalhadores.

O mencionado discurso ignora o fato de que aqueles que atuam com tais objetos, por serem historicamente alvos de críticas, talvez sejam os que mais incorporaram tais críticas, aproveitando-as de modo frutífero para repensar seus princípios, valores, teorias e métodos. Portanto, ultrapassaram a visão restritiva de conceber apenas um campo de aplicação especialmente focado nas empresas e indústrias. O conceito de “trabalho” hoje ocupa o foco da indagação do que seria fazer uma ciência psicológica voltada para o estudo dessa importante e central atividade humana e social, bem como para o “organizar” como processo inerente a toda constituição social. É possível pensar o trabalho descolado da discussão sobre os modos de organizar o processo de trabalho? As organizações informais e formais deixaram de ocupar um lugar de destaque na sociedade hodierna? Ou o que ocorreu foi uma diversificação dos processos de “organizar”? Aqui não nos referimos ao clichê de confundir organizações sociais e institucionalizadas com indústrias e empresas comerciais, que, a rigor, seriam modalidades de organizações sociais institucionalizadas.

É preciso lembrar um pouco da história de uma crítica interna, de uma grande subárea que cresceu de modo expressivo no nosso país e ocupou um lugar de destaque no cenário

nacional da psicologia. Isso talvez ajude a compreender melhor como a SBPOT entende essas complexas inter-relações entre “trabalho” e “organizações”.

O início das atividades dos profissionais dessa subárea se deu com o uso de medidas psicológicas na seleção de pessoas para determinadas ocupações em organizações. Até aí sem grandes novidades, visto que o início da psicologia sofreu influência da preocupação de se construir um campo do conhecimento mais próximo das ciências naturais, em que o status era assegurado pelo uso de instrumentos de medida objetiva, o que teve nítidas repercussões nas diversas subáreas do saber psicológico e dos seus campos de aplicação. Outros exemplos, além do caso da seleção, ocorreram com profissionais interessados em transtornos mentais e em problemas de desempenho escolar.

A partir dos processos seletivos, os profissionais começaram a se preocupar com várias questões, como a organização do trabalho, a análise de tarefas e de postos de trabalho, as condições de trabalho dos empregados, dentre outras. O centro das atenções se restringia às questões relacionadas às atividades e às tarefas, mas os limites profissionais ampliaram-se e questões outras foram se somando ao escopo inicial, como as políticas organizacionais de recompensas e punições e seus impactos nos sentimentos de justiça do trabalhador, em sua saúde e seu bem-estar, e na sua eficiência e efetividade. Como seria, então, possível fazer uma psicologia apenas voltada para o “trabalho”, sem pensar nas “organizações” em que ele ocorre?

As preocupações com o estresse no trabalho e a utilização de estratégias para seu enfrentamento, ou o estabelecimento de burnout e o adoecimento, passaram a ser de grande preocupação para a psicologia do trabalho e das organizações. A investigação e a prática colocaram o seu foco não só nas variáveis relacionadas à tarefa, como a sobrecarga de trabalho, mas também nas variáveis relacionadas ao papel vivenciado pelo trabalhador e nas políticas e diretrizes organizacionais.

A identificação de que existem subgrupos nas organizações que possuem regras próprias, as quais determinam a quantidade e a qualidade dos trabalhos realizados, e a de que os grupos competem entre si foram outras constatações. Ou seja, pessoas e grupos humanos constituem objeto de interesse para quem atua com “trabalho” e “organizações” e, consequentemente, as relações interpessoais e intergrupais nesses contextos.

As organizações são, então, compreendidas como associações de pessoas que

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