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Psicologia Do Trânsito No Brasil: De Onde Veio E Para Onde Caminha?

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Por:   •  15/4/2014  •  5.272 Palavras (22 Páginas)  •  919 Visualizações

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Psicologia do trânsito no Brasil: de onde veio e para onde caminha?

Traffic Psychology in Brazil: where did it come from and where is it going?

Fábio Henrique Vieira de Cristo e SilvaI; Hartmut GüntherII

IUniversidade de Brasília - DF - Brasil

IIUniversidade de Brasília - DF - Brasil

Endereço para correspondência

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RESUMO

Neste artigo, são abordados aspectos históricos da psicologia do trânsito no Brasil: o desenvolvimento dos primeiros estudos psicotécnicos com motoristas para a promoção da segurança no trânsito e a importância dos Departamentos de Trânsito (DETRANs) na institucionalização e expansão da psicologia brasileira. Ao final, são sugeridas direções futuras de pesquisa e trabalho nesta área, em face às novas oportunidades e desafios que emergem com maior intensidade no século XXI, na perspectiva de melhorar a qualidade de vida urbana, prejudicada com os congestionamentos e a poluição atmosférica.

Palavras-chave: Comportamento no trânsito, Circulação humana, Qualidade de vida urbana, Psicologia do trânsito, História da psicologia.

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ABSTRACT

In this article, the historical aspects of Traffic Psychology in Brazil are addressed: the development of the first studies with drivers aimed at promoting traffic safety, and the importance of the Traffic Departments (DETRANs) for the institutionalization and expansion of (Traffic) Psychology. The article closes with considerations regarding the future of Traffic Psychology in Brazil, in light of the challenges and opportunities that emerge with the XXI century, such as the quality of urban life, traffic jams and air pollution.

Keywords: Traffic behavior, Human circulation, Quality of urban life, Traffic psychology, History of psychology.

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Neste artigo, são abordados alguns aspectos históricos da psicologia do trânsito no Brasil, em complementação ao que tem sido publicado sobre o tema (ver Spagnhol, 1985; Rozestraten, 1988; Alchieri & Stroeher, 2002; Hoffmann & Cruz, 2003). Na primeira parte, discutiremos as raízes do modelo brasileiro de habilitação e o desenvolvimento dos primeiros estudos psicotécnicos com motoristas. Em seguida, apresentaremos um breve histórico dos Departamentos de Trânsito (DETRANs), salientando a sua importância na institucionalização e expansão não só da psicologia do trânsito, como também da psicologia brasileira enquanto profissão e ciência. Na terceira parte, são apontadas direções futuras para a psicologia do trânsito no enfrentamento de alguns problemas que se intensificaram neste século, uma vez que o trânsito tem impactado negativamente a qualidade de vida urbana (p. ex., os congestionamentos e a poluição atmosférica). Serão discutidos possíveis desenvolvimentos futuros no campo acadêmico e profissional, como também no campo da pesquisa e intervenção. Nossa expectativa é de possibilitar aos psicólogos do trânsito o conhecimento de alguns itinerários históricos que lhes permitam entender de onde vieram e para onde caminham.

De onde viemos? As raízes da psicologia do trânsito e os primeiros estudos sobre avaliação psicológica de condutores no Brasil

No início do século XX, os primeiros automóveis e caminhões começaram a circular no Brasil. Era o início de um projeto coletivo em que o transporte rodoviário assumiria um papel fundamental nos deslocamentos. A locomoção em massa por bondes e trens foi sendo lentamente substituída pelo uso do automóvel, fruto de opções de políticas urbanas na esfera federal e estadual, e da pressão das elites da época que apoiavam a indústria automobilística do país (Lagonegro, 2008). Embora a produção e o uso em massa do automóvel tenham contribuído sobremaneira no desenvolvimento econômico do país, engendrou sérios problemas de segurança e saúde pública, em decorrência dos acidentes de trânsito que começaram a se intensificar na década de 1940 (Antipoff, 1956).

Como conseqüência, nas décadas de 1940 e 1950, as autoridades buscaram desenvolver e implementar medidas preventivas, dentre elas, a seleção médica e psicotécnica. Esta, por sua vez, tinha a finalidade de restringir o acesso ao volante das pessoas consideradas propensas a se envolver em acidentes de trânsito. A concessão do documento de habilitação passou a ser considerada pelas autoridades um privilégio, em que o candidato provaria sua capacidade de conduzir com segurança, por meio de uma bateria de testes e exames. Discutia-se, ainda, a necessidade de validade temporária e não mais permanente da habilitação, instituindo verificações periódicas das condições mínimas de capacidade física e psíquica dos motoristas; assim como, a identificação dos critérios e da forma de avaliação dessa capacidade conforme o tipo de habilitação, uma vez que diferentes categorias de veículos exigiriam diferentes habilidades (Côrtes, 1952). Começava a se estruturar o que se chama de modelo brasileiro de habilitação (Hoffman, 1995).

No tocante à tarefa de avaliar as condições psíquicas dos motoristas, essa estruturação ocorreu com forte influência estrangeira, principalmente com os trabalhos desenvolvidos por Tramm na Alemanha, Lahy na França, Münsterberg e Viteless nos Estados Unidos da América, e Mira y López na Espanha, pois não havia no Brasil instrumentos construídos ou validados para realizar este intento (Campos, 1951). Convém destacar que a psicologia aplicada ao trânsito, nesse período, centrava a sua atuação fortemente no fator humano, por meio da seleção de pessoal, orientação e instrução profissional. Dessa forma, buscava-se identificar os indivíduos certos para ocupar os lugares certos, seja para conduzir trem ou ônibus (Mange, 1956; Trench, 1956; Antunes, 2001).

Nesse contexto, a teoria da propensão aos acidentes (accident proneness) era fortemente discutida no âmbito internacional (Forbes, 1954; Nagatsuka, 1989). Essa teoria exerceu grande

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